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Inovação Uniemp
versão impressa ISSN 1808-2394
Inovação Uniemp v.2 n.2 Campinas abr./jun. 2006
Aposta nos temas de inovação, gestão e empreendedorismo
por JOSIANE GIACOMINI ALVES
INDEPENDENTES DO MERCADO, EDITORAS UNIVERSITÁRIAS ENTRAM NO TERRENO DE PUBLICAÇÕES VOLTADAS PARA O INTERESSE DAS EMPRESAS E DOS EXECUTIVOS
Nas prateleiras das bibliotecas e livrarias podem coexistir a poesia de Adélia Prado, Allen Ginsberg e Arthur Rimbaud, a prosa de Fernando Sabino ou a literatura policial de Patrícia Melo. Em outra ala, estarão sempre as áreas de obras especializadas e os livros didáticos. Uma nova série de títulos tem se imposto nessa divisão espacial, estabelecida pelos lançamentos editoriais que acompanham uma temática freqüente hoje nos cursos de aperfeiçoamento, nas políticas oficiais de fomento e nas conversas acadêmicas e empresariais. A inovação, seguida de outros assuntos igualmente recentes como gestão e empreendedorismo, no rastro da globalização, do comércio exterior, e do marketing, interessa hoje às editoras universitárias e aquelas voltadas ao público interessado em se aperfeiçoar nas diferentes áreas profissionais.
Para o diretor da editora da Unicamp, Paulo Franchetti, antes de responder a um modismo comum às editoras comerciais o de seguir determinados nichos de mercado , a universidade sempre apostou nesse tema. E por uma simples razão: "porque o que caracteriza a produção da Unicamp é a inovação". Desde sua concepção, "a Unicamp se orientou por um projeto que colocava a inovação tecnológica no centro das atenções e decisões". Portanto, nada mais natural que os livros respondam também a esse perfil, considera.
"A vocação da Unicamp para o desenvolvimento de ações voltadas para promover e divulgar projetos visando novas tecnologias gerou, inclusive, um órgão da universidade dedicado a sistematizar essas ações: a Agência de Inovação". Por isso mesmo, reforça: "a coleção Clássicos da Inovação, que a editora está publicando, ajusta-se, plenamente, ao projeto universitário. Não é um tributo à moda, mas uma contribuição a uma ação mais ampla da universidade como um todo".
Além disso, não há como negar que a questão das novas tecnologias está na ordem do dia, aqui e no mundo. E, por isso mesmo, não dá para não refletir sobre ela. Mas a necessidade de abordar este tema não é o único viés possível. "Num país como o Brasil, todos os assuntos são urgentes", reconhece Franchetti, sobre o leque que a editora que dirige pode e deve abordar.
"Para as áreas de ciências exatas, tecnológicas e biomédicas, os livros têm um caráter diferente, enquanto lugar de produção e divulgação do conhecimento, em relação a outros segmentos, como o artístico, por exemplo. Nas áreas das ciências humanas e das artes, o livro é o lugar privilegiado da pesquisa original. Nas demais áreas, esse lugar é o paper e o livro é, normalmente, o lugar onde se cristaliza a experiência didática (livro-texto) ou se promove a divulgação da ciência. Assim, é natural que a editora tenha mais títulos em ciências humanas e artes do que nas demais áreas".
Esse cenário descrito por Franchetti não é exclusivo da editora da Unicamp. Oswaldo Truzzi, responsável pela editora da Ufscar, explica que dos 30 títulos que publicam por ano, em média, uma parte considerável é na área de inovação. "Mas isso não decorre de uma opção nossa ou um modismo", reforça. "Nosso objetivo é uma editora auto-sustentável que produza livros de qualidade, nas mais variadas áreas de conhecimento. Sendo assim, é natural que publiquemos obras com volumes de vendas diferenciados. O importante é o mix ser viável: não perseguimos apenas os livros que serão mais vendidos porque a aceitação pelo mercado é um de nossos critérios, mas não o exclusivo".
Quanto à aposta das editoras explicitamente comerciais, Truzzi entende que elas fazem suas opções por um negócio que deve ser lucrativo. "Editoras comerciais, por exemplo, adoram propor livros em parceria, desde que sejam responsáveis por sua confecção e recebam nosso apoio financeiro. Em geral, não aceitamos pois elas exorbitam, na negociação, os custos envolvidos na produção dos livros".
IMPACTO ACADÊMICO
Na opinião de Franchetti, o que avaliza as publicações da editora da Unicamp não são as vendas, mas o seu impacto no meio acadêmico. "Há livros que vendem muito pouco mil exemplares ao longo de 8 anos, por exemplo , mas que mudam completamente o cenário do seu campo de pesquisa. É papel da editora universitária, portanto, publicar tais trabalhos de alto impacto científico, mesmo que não tenham resultados de vendas". Em sua opinião, seria um equívoco pensar e gerir uma editora universitária tendo como perspectiva os padrões das comerciais.
No universo acadêmico, uma publicação de sucesso não se mede pelo número de exemplares. Vender 2 mil exemplares de uma nova edição bilíngüe de um texto de Kant, por exemplo, pode ser um desempenho insignificante do ponto de vista do mercado editorial. Sob o enfoque acadêmico, contudo, é um serviço relevante prestado à comunidade, afirma Franchetti.
Para Truzzi, outra forma de avaliar o sucesso de um lançamento editorial é quando ela é reconhecida pelos pares acadêmicos em sua área. "Se falarmos em termos de número de exemplares, 2 mil títulos vendidos para nós é um sucesso", acrescenta.
EDITORAS COMERCIAIS
Vários fatores pesam no custo e na qualidade durante a confecção de um livro: o tipo de papel, o formato, o uso de cor e de imagens, além da tiragem. Envolvendo todas essas diferenciações, o mercado de títulos que tratam do tema inovação está em franca ascensão, inclusive entre as editoras comerciais. "É um mercado crescente", avalia Sérgio Vale, da editora Komedi de Campinas.
Diferentemente das publicações universitárias, que geralmente têm um público alvo bem direcionado a própria comunidade acadêmica e seus pares as edições comerciais buscam atender ao anseio de profissionalização e aperfeiçoamento na área corporativa. Abordam temas que tentam, em última instância, responder à grande inquietação empresarial que poderia resumir-se em como a inovação é fundamental no sentido de se obter o lucro e a sobrevivência nos negócios. Segundo Sérgio Vale, já há uma organização de vários editores em torno desse filão. "A linha entre a tecnologia e a inovação está se confundindo muito com negócios", considera Vale.
Franchetti acrescenta que também existem, atualmente, muitas editoras produzindo livros para universitários e técnicos. Concorda com a visão do editor da Komedi de que o mercado universitário está em expansão. Ele cita dois livros editados pela Unicamp que são considerados referência obrigatória em seus respectivos campos: História e memória, de Jacques Le Goff, e Introdução à história da matemática, de Howard Eves. Truzzi diz que a obra mais vendida da Ufscar é Cálculo de concreto armado, "adotado por cursos de engenharia civil em universidades de todo o país".
Outras editoras de pequeno porte, como a Mercado de Letras e Autores Associados, além da Papirus, também do interior paulista, incluem em sua lista de publicações obras voltadas ao segmento da inovação, mas com o foco em dinâmicas de grupo, gestão de empresas e empreendedorismo.