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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.1 n.3 Campinas nov./dez. 2005

 

 

Mariana Rebouças

 

Pintec: pequenas empresas mostram melhor desempenho

 

 

por SIMONE PALLONE e WANDA JORGE

 

 

DESEMPENHO DA PEQUENA EMPRESA, AUMENTO DE PARCERIA COM CENTROS DE PESQUISA E O APOIO GOVERNAMENTAL SÃO PONTOS POSITIVOS DA PINTEC 2003

A taxa de inovação teve uma pequena alta — de 31,5% para 33,3% — no triênio 2001-2003, em comparação com os três anos imediatamente anteriores, medidos pela primeira versão do estudo realizados pela Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) de 2003, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho último. A pesquisa foi feita entre 2000 e 2003, com uma amostra estatística colhida em todo o país e concluiu que, de um universo de 84,3 mil empresas, 28 mil inovaram. Segundo a coordenadora da pesquisa, Mariana Rebouças, a pesquisa contém algumas surpresas. A primeira é que mesmo diante de um cenário macroeconômico adverso, as empresas inovaram, e a segunda é que as empresas que garantiram esse resultado, foram as pequenas, que são as que mais sofrem com alterações de ordem econômica. Em entrevista à revista Inovação Uniemp, a economista comenta os principais resultados da pesquisa e fala das novidades para a próxima Pintec.

Os números divulgados pela Pintec, de crescimento de apenas 1.8 pontos percentuais na taxa de inovação das empresas, são relevantes, diante do quadro macroeconômico de 2003?

Mariana Rebouças Não sei se são números relevantes, porque o aumento foi muito pequeno em termos estatísticos. Mas eles sinalizam que está havendo uma maior percepção da importância da inovação por parte dos empresários. Os anos de 2001, 2002 e 2003 foram de turbulências, difíceis para a indústria brasileira, principalmente em relação à expectativa para o investimento. Em 2001 houve o início da crise da Argentina, depois o racionamento de energia, em seguida, a repercussão do 11 de setembro na economia americana, refletindo no desaquecimento econômico mundial. Em 2002, teve toda a tensão pré-eleitoral nos Estados Unidos, a elevação do câmbio a quase R$ 4 o dólar, e 2003 foi um ano de crescimento muito baixo, praticamente nulo. Eu chamo esse cenário de adverso para o investimento. No entanto, mesmo diante desse cenário, as empresas investiram em inovação, aumentando ligeiramente o número de empresas inovadoras.

A expectativa era, então, de decréscimo nessa taxa?

Mariana Exatamente. Mesmo assim os empresários investiram em projetos baratos, de baixo risco e por isso o gasto caiu. Nesse sentido parece-me que essa informação do ligeiro aumento da taxa de inovação sinaliza que os empresários estejam incorporando essa cultura inovativa.

Em 1998-2000 predominava a inovação só em processo. Em 2001-2003 as empresas parecem ter adotado a estratégia de inovar em produto e processo. A que é atribuída essa mudança?

Mariana A inovação em produto é um dos sinais positivos na Pintec. Além do ligeiro aumento na taxa de inovação, percebe-se que a estratégia de inovar em produto e em processo foi maior que a de inovar apenas em processo, como ocorreu em 2000. Parece que estamos entrando em outro patamar de competitividade, no qual a diferenciação por produto é mais importante do que o corte de custos. Quando você inova em processo, está tentando melhorar a produtividade, introduzir inovações no processo de produção daqueles produtos de que dispõe. O objetivo é aumentar a competitividade via melhor eficiência do processo. Esse tipo de inovação era o que predominava. O crescimento na taxa de inovação em produto e em processo indica que os custos continuam sendo importantes, mas a diferenciação de produto entra na pauta.

 

 

Apesar dessa mudança, a taxa relativa à introdução de produtos novos para o mercado caiu de 4,1% para 2,7%. O que isto significa em termos de competitividade dessas empresas? Melhora a competição interna, mas a externa fica prejudicada?

Mariana O cenário adverso fez com que, mesmo indo para esse novo patamar de competitividade, as empresas buscassem projetos baratos e de menor risco. O projeto que inova para o mercado nacional tem um grau de novidade maior embutido e, provavelmente, tem um custo maior e um risco maior. Diante desse cenário, as empresas procuraram diferenciar produtos produzindo similares. O empresário identifica que o concorrente está fazendo um produto, que é aceito e desejado pelo mercado, então passa a imitá-lo, e faz algo que não sabia fazer. As empresas inovaram, a taxa cresceu, mas inovaram com projetos de custo mais baixo e de risco menor comparado a 2000. Com um grau de novidade menor.

 

 

E como isso se reflete nas exportações?

Mariana As exportações foram o único vetor positivo naquele cenário de 2003. Naquele ano, a formação bruta de capital fixo, que é a taxa de investimento na economia, caiu. Caiu o consumo das famílias, o consumo do governo, e o que cresceu foram as exportações. O crescimento da indústria em 2003 foi impulsionado em grande parte pelo movimento da agroindústria e das exportações. Houve um esforço para exportar. Produtos novos para uma determinada empresa, mas não necessariamente novos para o mercado mundial ou para o nacional, e apenas alguns poucos realmente novos para o mercado doméstico.

Quantas dessas empresas inovaram para o mercado mundial?

Mariana Apenas 177 empresas inovaram para o mercado mundial, num universo de 84.262 empresas. Para o mercado nacional, as empresas que inovaram em produto foram 2.297, enquanto que, em novos processos, apenas 1.023 empresas. Ao todo, 2.844 empresas puderam ser consideradas inovadoras no mercado nacional. Ou seja, em um universo de 84.262, o estudo identifica 28 mil como inovadoras, dessas, apenas 2.844 inovaram para o mercado interno. E, ainda, somente 177 foram inovadoras para o mercado mundial. Nesse sentido, é possível observar que as inovações de maior teor de novidade são de poucas empresas e, geralmente, as grandes. Em relação aos setores econômicos, as inovações não foram desenvolvidas naqueles de maior intensidade tecnológica. Algumas são do setor de alimentos, por exemplo. Entre as empresas que inovaram em produto, que foram 148, uma pertence ao setor extrativo, outra ao de refino, 17 de química e 32 pertencem ao setor metal-mecânico — que é de média-baixa intensidade tecnológica. Ou seja, essas empresas estão distribuídas em setores que não são os mais intensivos.

Isto significa que nos setores mais intensivos não houve inovações?

Mariana Houve, sim. Os quatro setores de intensidade alta, nos quais ocorreram inovações seriam os de aparelhos e equipamentos de comunicação, com duas em produto; material eletrônico básico, que teve uma em produto; e informática, sem nenhuma inovação mundial. Normalmente esses setores são os que têm forte participação de multinacionais e que fazem a inovação na matriz ou, dependendo do caso, quando o Brasil é uma plataforma de exportação, a inovação pode até ser feita aqui. Isso depende da estratégia global da empresa. Algumas fazem, como no caso do setor de biocombustível. Empresas de fabricação de peças para veículos e automóveis também têm promovido inovações mundiais no Brasil.

Dos 33 setores industriais que a pesquisa engloba, a taxa de inovação só apresentou crescimento em oito deles e os restantes apresentaram queda na relação receita líquida e dispêndio. Que setores apresentaram melhor desempenho na pesquisa?

Mariana Alguns setores apresentaram uma taxa elevada comparada com a média da indústria, que foi de 33,3%. O setor de aparelhos e equipamentos para comunicações, por exemplo, apresentou uma taxa de 51,8% e material eletrônico básico de 61,7%, portanto, bem acima da média da indústria. Entretanto, com relação ao ano de 2000, esses setores tiveram a taxa de inovação reduzida. No caso de material eletrônico básico, a taxa que era de 62,9% passou para 61,7% em 2003. Material eletrônico e aparelhos e equipamentos de comunicações, que tinham um índice de 62,5%, caíram para 56,7%. Ainda assim, elas são a segunda e a quarta indústrias que mais inovaram. A primeira foi informática (71,2%), depois material eletrônico básico (61,7%), em seguida automóveis, caminhões, camionetas, utilitários e ônibus (57,5%), depois material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações (56,7%). Em quinto lugar, ficaram os produtos farmacêuticos (50,4%). Ou seja, houve crescimento em todos os setores de alta ou de média intensidade de inovação, como é o caso de automóveis.

 

 

O aumento de 31,5% para 33,3% decorreu, principalmente, do movimento das empresas que empregam de 10 a 49 pessoas. Por quê?

Mariana Essa é a grande novidade da Pintec. Mostrar que mesmo naquele cenário adverso houve empresas investindo em inovação e essencialmente as pequenas. Todas as outras faixas de tamanho apresentaram queda. Para mim, isso sinaliza que a inovação está entrando na agenda das empresas, principalmente das pequenas. Houve uma mudança de cultura. A pequena empresa, que num cenário adverso é a mais atingida, mesmo assim inovou. Há um movimento das exportações ajudando, mas observamos que há uma preocupação dessas empresas de entrar no mercado com produtos mais novos, o que levou ao aumento da taxa de inovação no período. Até nas empresas de 500 ou mais pessoas ocupadas teve uma retração, embora pequena, de 75,7 para 72,5%. É possível reparar que todo mundo investiu, mas investiu pouco, até mesmo a pequena empresa investiu um pouco. Quando se fala em termos de gastos, a relação entre gasto e receita, a taxa caiu em vários setores, mas a taxa só cresceu, por faixa de tamanho, na pequena.

A parceria das empresas com as universidades e centros de pesquisa também caiu de 2,5 mil para apenas 1 mil. Quais os problemas detectados para que isso tenha acontecido?

Mariana Acredito que a escolha de projetos de menos risco e menos caros levou a essa retração no número de empresas desenvolvendo parcerias para inovar. Repare que na grande empresa não houve queda. O número de grandes empresas que inovavam por meio de parcerias continuou, e até aumentou. A grande empresa tem muito mais capacidade de construir uma rede de cooperação. A pequena vai depender de um Arranjo Produtivo Local (APL), ou de estar envolvida em uma dessas redes de uma grande empresa e, normalmente, são as médias as que têm mais acesso a essas redes. Quanto à pequena, acredito que tenha deixado de buscar parcerias com a universidade porque, provavelmente, os projetos que envolvem a parceria são mais caros e mais arriscados.

 

 

Qual foi o impacto dos apoios governamentais à P&D sobre a taxa de inovação?

Mariana A maior parte dos instrumentos de apoio à inovação foram constituídos a partir de 1999. São, portanto, muito recentes. Entretanto, a Pintec 2003, comparada com a anterior, já mostra um crescimento no número de empresas que utilizaram esses instrumentos, o que é positivo. Mesmo assim, esse número ainda é reduzido. Apenas 18,7% das empresas receberam apoio governamental, quando no período entre 1998 e 2000 foram 16,9%. Isso está relacionado ao ambiente econômico.

Essa maior oferta de apoios governamentais a partir de 1999 pode ter se refletido na avaliação dos problemas e obstáculos apontados pelas empresas? Entre os obstáculos apontados pelos empresários, houve uma queda de 62,1 para 56,6 no item "Escassez de fontes de financiamento".

Mariana O principal obstáculo sempre são os elevados custos da inovação, que estão relacionados ao ambiente econômico, que diz respeito às taxas de juros para inovar, ao preço do financiamento, enfim, riscos econômicos excessivos e escassez de fontes de financiamento. Esses três itens tiveram um decréscimo, mas não acredito que tenha sido em função de uma maior oferta de programas governamentais. Há uma queda na freqüência de todos esses itens, exceto em falta de pessoal qualificado e dificuldade para se adequar a padrões. Essa freqüência tem que ser olhada com cuidado, porque acredito que a queda em alguns itens se deve ao fato de as empresas terem se acostumado com a pesquisa, respondendo de forma mais criteriosa às questões, em relação à anterior.

Nas mais de 28 mil empresas consultadas, a quantidade de profissionais de nível superior em tempo integral trabalhando com inovação subiu de 20 mil para 21,8 mil. Se houve menor gasto das empresas, dá para concluir que houve achatamento salarial?

Mariana O menor gasto da empresa foi principalmente devido à queda na aquisição de equipamentos. Não posso concluir que tenha havido achatamento salarial. A pesquisa não pergunta isso diretamente. No entanto, a Pintec é uma sub-amostra da pesquisa industrial anual. Vamos construir uma base de dados ampliada da Pintec, na qual traremos informações de variáveis econômicas não levantadas por esta pesquisa, mas que as empresas responderam no levantamento industrial anual. Custos, despesas, salários, valor da transformação industrial, que é uma proxy do PIB industrial, são alguns exemplos de variáveis que permitem aos estudiosos, com tabulações especiais solicitadas ao IBGE, descobrir mais detalhes sobre as empresas inovadoras. Introduzimos também dados da Secex [Secretaria de Comércio Exterior], para saber se as empresas exportadoras são as mais inovadoras e vice-versa. Ou seja, essa pergunta deve ficar para quando tivermos a base de dados ampliada.

Quais devem ser as novidades para a próxima Pintec?

Mariana Nesta Pintec ainda, em breve, vamos disponibilizar ao público uma base mais ampliada, cruzando informações da pesquisa industrial anual e da Secex e estamos negociando a possibilidade de introduzir a Rais [Relação Anual de Informações Sociais], junto com a Pintec, para solicitações de tabulações especiais. Para a próxima Pintec, pretendemos expandir o âmbito para além da indústria, incluindo setores de serviços tais como telecomunicações, informática, P&D, e outros que consideramos importantes para ajudar a traçar um perfil de inovação tecnológica no setor industrial brasileiro.