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Inovação Uniemp
versão impressa ISSN 1808-2394
Inovação Uniemp v.1 n.3 Campinas nov./dez. 2005
Capacitação: peça-chave para obter vantagens competitivas
por DANIEL CHIOZZINI
EMPRESAS COMO A COMPANHIA IGUAÇU DE CAFÉ SOLÚVEL E A WEG INDÚSTRIAS S.A. VÊM APOIANDO A FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS, OBTENDO GANHOS EM RELAÇÃO AOS SEUS CONCORRENTES
Recursos humanos qualificados propiciam condições mais sólidas para inovar e empresas que investem na capacitação de seus funcionários têm mais chances frente a seus concorrentes. Este preceito é reconhecido, inclusive, na Lei de Inovação: "as empresas inovadoras podem abater até 160% do total investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do Imposto de Renda, mas este percentual pode chegar a 200%, caso as empresas possuam mestres e doutores entre seus quadros". Tal convicção foi apresentada por Ronald Martin Dauscha, presidente da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), na 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que aconteceu em julho, em Fortaleza (CE). Em sua opinião, o ponto de partida para atingir esses percentuais está na aproximação de empresas com centros de pesquisa, de forma a promover, por meio de programas específicos, a formação de funcionários, em diversos níveis, em projetos inseridos no planejamento estratégico da empresa.
Na mesma trilha está Eurico Pedroso de Almeida Junior, diretor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Cornélio Procópio (Cefet-PR), que ressalta a necessidade de se implantar uma estrutura de P&D, com atividades que façam parte do planejamento global da empresa. O diretor diz que já existem empresas no Brasil incorporando esse conceito, com o objetivo de identificar, adquirir e desenvolver competências necessárias aos seus recursos humanos. Segundo o pesquisador, o "programa é uma ferramenta para desenvolver quadros em condições de suceder outros funcionários dentro da empresa", afirma. Um exemplo de empresa nesse caminho, segundo Almeida Junior, é o da Companhia Iguaçu de Café Solúvel. "A empresa conseguiu desenvolver um amplo planejamento de recursos humanos, por meio de cursos, seminários e palestras nas áreas de qualidade" afirma. Tais iniciativas foram importantes para obter certificações e se tornar uma das maiores exportadoras do setor, além de líder no mercado de café solúvel e em pó do país.
Outro recurso voltado para o mesmo objetivo, segundo Almeida Junior, é o Programa de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas em Apoio à Inovação Tecnológica (RHAE-Inovação). Trata-se de um mecanismo de fomento, lançado em abril pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele prevê que a empresa receba profissionais qualificados para auxiliar no desenvolvimento de produtos e/ou processos, transferindo conhecimento para seus próprios profissionais e colaboradores. Segundo informações no site do CNPq, o objetivo é "atender a demanda de empresas e entidades empresariais interessadas no engajamento de recursos humanos necessários às atividades de pesquisa". O pesquisador lamenta que esse ainda seja um procedimento pouco utilizado pelas empresas.
O CASO WEG
Por outro lado, algumas empresas vêm se destacando ao desenvolver estrutura própria de P&D com profissionais de diversos níveis na própria empresa. É o caso da Weg Indústrias SA, que começou produzindo motores elétricos e hoje atua também nas áreas de geradores, transformadores, componentes eletroeletrônicos, automação industrial, além de tintas e vernizes. Segundo Sebastião Lauro Nau, gerente de pesquisa e desenvolvimento da divisão de motores da Weg, a atual estrutura significa o investimento de 1,8% da receita líquida anual, mobilizando cerca de 400 engenheiros. Em 2004, foram investidos cerca R$ 35 milhões em P&D.
Uma das características do programa da Weg é o desenvolvimento de ações específicas para determinados segmentos de mercado que ela deseja atingir. Em janeiro desse ano, por exemplo, a empresa inaugurou um laboratório para dar suporte ao desenvolvimento de aplicações especiais de contratores e disjuntores, o único no Brasil. Só na estrutura física do laboratório, foram investidos cerca de US$ 1 milhão. O processo foi iniciado em 1996, juntamente com as atividades de treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos. Uma dessas atividades é fruto da parceria com a Universidade de Dresden, na Alemanha, que proporcionou um treinamento qualificado aos engenheiros e técnicos da empresa para implantação de um centro de pesquisa e desenvolvimento. Posteriormente, iniciaram-se acordos de cooperação com outras universidades alemãs, como a TU Braunschweig e a TU Ilmenau. Os investimentos totais na área chegaram a US$ 3 milhões.
Essas iniciativas estão ancoradas em uma prática que existe desde a origem da empresa. "Desde 1968, quando tinha sete anos, a Weg realiza contratação externa de tecnologia, criando uma cultura de pesquisa e inovação que explica seu crescimento e consolidação como empresa mundial, afirma Sebastião Nau. "Se não se tem o conhecimento disponível internamente, devemos buscá-lo onde ele estiver", completa. No entanto, o engenheiro destaca que tal busca só é eficaz se realizada por meio da aquisição de "pacotes abertos" de tecnologia, recebendo treinamento diretamente da fonte geradora. Desse modo, a empresa consegue se manter atualizada em relação às novas tecnologias e pode transferi-las aos seus produtos.
A estrutura de inovação da empresa também passa por parcerias com universidades e centros de pesquisas brasileiros. São concedidas bolsas de até 50% a colaboradores e funcionários que façam cursos de pós-graduação, desde que relacionadas à atividade da empresa. Além disso, também são realizados cursos de mestrado e especialização in-company, tanto na área técnica, como de gestão. Nesse caso, segundo Paulo César Bortoletti, chefe de treinamento da Weg, o investimento é 100% feito pela empresa.
Outras iniciativas da estrutura inovadora da empresa são cursos técnicos gratuitos, oferecidos a clientes e a estudantes. No caso dos cursos voltados para estudantes, a Weg conta com um centro de formação, o Centroweg. São contratados jovens de 15 anos, que recebem uma formação por três anos. A maioria desses jovens é, posteriormente, aproveitada nas empresas do grupo. Segundo Natalino Petry, chefe do Centroweg, são 21 programas diferentes, nas áreas de eletrotécnica, eletrônica, mecânica de manutenção, ferramentaria e química.
O vínculo dessas atividades com o processo de inovação do segmento em que a Weg atua é explicado por Rau: "as atividades de P&D nem sempre geram produtos ou processos radicalmente diferentes de seus predecessores; na verdade, a inovação incremental é mais freqüente que a radical", conclui.