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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.1 no.3 Campinas Nov./Dec. 2005

 

 

Em direção a uma metodologia baseada na Pintec-IBGE

 

 

RUY QUADROS e ANDRÉ FURTADO

 

 

Nos textos anteriores sobre o Índice Brasil de Inovação (IBI), em processo de elaboração na parceria Unicamp/Uniemp/Fapesp, alguns pressupostos institucionais e metodológicos foram estabelecidos. Propõe-se, agora, uma abordagem inicial para a construção do IBI, que possa constituir-se em alternativa rápida e de baixo custo para a apresentação de resultados em curto prazo. A proposta é construir os indicadores com base no fornecimento voluntário pelas empresas, das informações por elas prestadas ao IBGE, em resposta à coleta da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec). Portanto, esse primeiro passo metodológico ater-se-ia a trabalhar sobre informações das pesquisas de inovação, que seguem os conceitos e diretrizes do Manual de Oslo (OCDE)1. Mesmo com limitações, os indicadores das pesquisas de inovação estão ancorados em abordagem ampla e satisfatória para uma primeira aproximação do que seria a capacidade efetiva de inovação das empresas. Numa segunda etapa, novos indicadores, cuja elaboração demandaria produção de informações primárias, poderiam ser incorporados na construção do IBI, de modo a aperfeiçoá-lo.

O requisito para que tal possibilidade se viabilize é a concordância das empresas em fornecer as informações da Pintec para a equipe responsável pela elaboração do IBI. Essa seria a forma de participarem do ranking das mais inovadoras a custo adicional zero, no que concerne a coletar, preparar e comunicar informações, com a garantia de sigilo sobre informações individuais.

O IBI deve ser um índice composto, resultado de tratamento matemático de informações das empresas. O índice em si não é revelador das informações que o alimentam. Espera-se que as empresas que venham a aderir ao projeto participem, discutam e estabeleçam consenso em relação aos conceitos subjacentes ao IBI, bem como em relação ao tratamento das informações.

O primeiro e mais significativo componente conceitual a se introduzir é que se leve em consideração as duas dimensões centrais dos indicadores de inovação: de esforço e de resultado. Indicadores de inovação procuram medir os esforços das empresas para inovar, por exemplo, por meio de suas atividades internas de P&D, ou da obtenção de conhecimento por meio da aquisição de direitos de propriedade intelectual, ou ainda pelo investimento produtivo em produtos ou processos inovadores. No entanto, o avanço teórico dos estudos da inovação tem levado as metodologias de mensuração da inovação empresarial a darem igual importância aos resultados (ou produto) da atividade inovativa. Afinal, os esforços tecnológicos não constituem um objetivo em si, mas são instrumentos para garantir o crescimento da empresa. Dessa forma, resultados como a capacidade de introduzir novos produtos ou processos inovadores para o mercado nacional, a obtenção de receita com base na introdução de produtos inovadores e o impacto das inovações para o crescimento da fatia de mercado das empresas são vistos como igualmente importantes, por evidenciarem os impactos econômicos e empresariais da inovação.

Uma das vantagens de se trabalhar com informações de pesquisas como a Pintec-IBGE é que ambas as dimensões do processo de inovação empresarial são consideradas na metodologia da OCDE. Dessa forma, propõe-se aqui um tratamento das informações fornecidas pelas empresas no questionário da Pintec 2003, que leve em consideração os seguintes aspectos metodológicos:

O IBI deve dar igual importância para indicadores de esforços (insumo) e resultados (produto), mas deve privilegiar o balanço entre esses dois aspectos do processo de inovação. Dessa forma, o IBI seria dividido em dois grandes indicadores, sendo um o resultado do tratamento dos diversos indicadores de esforços (Indicador Agregado de Esforço - IAE) e o outro, o resultado do tratamento dos indicadores de produto (Indicador Agregado de Resultado - IAR). Além disso, o tratamento matemático e estatístico do IBI agregado deve ser tal que o balanceamento entre os grandes indicadores de esforço e de resultado, assim como dos indicadores individuais que os compõe, seja considerado. Esse balanceamento consiste na compensação e na complementação relativa de um indicador elementar pelo outro e possibilita uma percepção sistêmica do processo de inovação. Ele será obtido trazendo cada indicador individual para uma base comum. Uma forma possível é de formar um indicador a partir da diferença relativa entre o valor de cada empresa com a média do seu grupo.

Os indicadores individuais que irão compor cada um dos dois grandes componentes do IBI devem ser também normalizados, levando-se em consideração o tamanho da empresa e o setor a que pertence2. Em relação ao primeiro tipo de normalização, pode-se criar um quociente constituído pela divisão do valor da variável de esforço pelo VTI (Valor da Transformação Industrial) da empresa. Em relação ao segundo tipo de normalização, uma alternativa seria dividir o valor da empresa pelo correspondente do setor.

Na composição do IAE e do IAR, os indicadores individuais devem receber ponderação de acordo com a importância que venha a ser atribuída a cada indicador. Por exemplo, se é considerado que os esforços internos feitos pelas empresas em P&D para a implementação de novos produtos ou processos são mais importantes do que os esforços representados pelos dispêndios em máquinas e equipamentos, essa diferença se refletiria num peso maior atribuído ao primeiro indicador. No entanto, as ponderações atribuídas a indicadores individuais poderiam ser diferenciadas de setor para setor, refletindo assim as diferenças setoriais dos processos de inovação.

 

 

Uma ilustração desses conceitos para a construção do IBI agregado é apresentada no gráfico acima. O eixo das abscissas corresponde aos indicadores de resultados, mais especificamente ao seu agregado (IAR). Nesse composto, entrariam indicadores individuais como: a) desempenho inovador, b) o percentual das vendas ou das exportações decorrentes dos produtos inovadores, c) obtenção de patentes a partir dos esforços de inovação etc.. O eixo das coordenadas corresponde ao agregado dos indicadores de esforços, composto a partir de indicadores individuais como: a) dispêndio em P&D interno, b) dispêndio em bens de capital para implementar inovações, c) percentual de doutores em relação ao total de empregados em atividades de P&D, d) ocorrência de vínculos cooperativos por tipo de parceiro de cooperação e objeto da cooperação (competências relacionais).

Garantidas igual importância e balanceamento entre o IAE e o IAR, o gráfico indica que as empresas mais inovadoras são as que se encontram no 1º quadrante do gráfico, porque apresentam esforços para inovação e resultados da inovação acima da média do seu setor. As empresas com resultados acima da média setorial, mais esforços inovadores abaixo da média, são as empresas mais difusoras (mas não as mais inovadoras).

O próximo passo para a construção do IBI consistirá em detalhar quais as variáveis da Pintec 2003 serão usadas na sua construção, assim como a forma de cálculo dos indicadores individuais e de sua agregação nos grandes indicadores. Esse modelo inicial será, posteriormente, submetido aos interessados para sugestões.

 

NOTAS

1. Sobre essa metodologia, ver matérias sobre o IBI nos números anteriores da revista Inovação Uniemp.

2. Entendendo-se como setor o nível de desagregação resultante da abertura da Cnae a três dígitos (grupo).

 

Ruy Quadros e André Furtado são professores do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp