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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.1 Campinas ene./mar. 2006

 

 

Flores: alta tecnologia na produção e diversificação

 

 

por BÁRBARA BORTOLIN

 

 

Avanços tecnológicos têm sido os principais responsáveis pela diversificação e melhora na qualidade da produção de flores no Brasil. A partir da introdução de novas tecnologias e práticas de manejo, foi possível aumentar o número de espécies cultivadas e modificar as que já eram produzidas no país. No caso das rosas, as mais recentes variedades produzidas permitiram um aumento de 25% nas vendas para o mercado nacional e, também, a ampliação das exportações, principalmente para a Holanda e Portugal. As novas variedades são maiores, mais resistentes e duráveis.

Entre as tecnologias usadas para o cultivo das rosas, estão as desenvolvidas pela Flora Reijers. Especializada na produção de rosas híbridas de chá (com flores ou botões grandes), a empresa possui campos de produção no sul de Minas Gerais (nas cidades de Andradas e Itapeva), no Ceará (em São Benedito e Ubajara) e em São Paulo (em Holambra).

Segundo Gustavo Vieira, engenheiro agrônomo da empresa, uma das novidades é o sistema de reuso da água com a solução nutritiva, no qual as rosas, semi-hidropônicas, são cultivadas em fibras de coco, utilizadas como substrato, que são colocadas dentro de potes ou canaletas de plástico. Embaixo desses potes ou canaletas, uma calha plástica recolhe o excesso da solução nutritiva que saiu da flor, reutilizando-a na próxima irrigação.

 

 

A irrigação por gotejamento é totalmente controlada por um computador, o que implica em economia para a empresa, devido ao uso racional de água e adubo.

A Reijers também investiu na climatização dentro das estufas, montadas com plásticos que disponibilizam para as rosas luz em quantidade suficiente para aumentar a fotossíntese e com uma uniformidade que permite que não haja diferença de coloração entre as rosas. Produzidas em estufa e com o sistema de gotejamento, essas flores ganham padrão de qualidade internacional. Internamente, essas flores são comercializadas para arranjos, devido ao seu maior tamanho.

 

 

Para produzir as rosas comuns, no campo ou em estufas menos estruturadas, a Reijers faz uso de estações meteorológicas, que monitoram via satélite, as condições climáticas, permitindo o conhecimento prévio sobre pressão atmosférica, temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento, precipitação pluviométrica, radiação solar, temperatura e umidade do solo em três níveis de profundidade. Isso possibilita que, em caso de chuva, as flores possam ser pulverizadas preventivamente, medida mais barata que a curativa.

Em Holambra, que possui uma das maiores produções de rosas do país, está sendo usado um sistema de iluminação artificial para garantir flores do mesmo tamanho e com a mesma qualidade o ano todo. A técnica é utilizada para determinar o tamanho das flores e o dia da colheita.

O sistema consiste em interromper o processo ou a aceleração da floração de determinadas flores por meio do controle da luz que elas recebem. Para isso, as estufas são equipadas com lâmpadas convencionais e com pesadas lonas que podem fazer o dia virar noite e a noite virar dia.

O crisântemo, por exemplo, precisa de pelo menos 13 horas consecutivas de escuro para terminar de florescer. Se não houver a interferência no seu crescimento, a espécie vai florescer rapidamente e atingir, no máximo, cerca de 20 centímetros. Quando a luz é acesa, os produtores "enganam" a flor, pois ela "pensa" que é dia e pára de crescer. Com o controle da floração, os produtores conseguem fazer com que essas flores atinjam um tamanho maior, com hastes de até um metro de altura. O objetivo da técnica não é aumentar a produtividade, mas a beleza, qualidade e a produção constante das flores.

Outra flor que requer a utilização dessa técnica é o tango, que floresce em noites longas de até 11 horas de escuridão. Nesse período, a flor acumula o hormônio do crescimento até a concentração que resulta na floração. Quando as luzes são acesas, o tango, assim como o crisântemo, precisa começar o processo novamente. Dessa forma é possível retardar o florescimento e garantir a produção durante todo ano. Apesar do processo parecer simples, a luz tem que ser desligada no momento certo — normalmente quando a flor atinge 50 centímetros de altura, para que ela cresça mais 20 ou 30 cm.

A mesma técnica pode ser utilizada nas produções no campo, ao ar livre, cobrindo os canteiros com lonas. Algumas variedades, como o crisântemo, necessitam das estufas para que o sistema de iluminação artificial funcione. Outras, como tango e aster, apresentam bons resultados no cultivo ao ar livre.

 

GIRASSOL

No caso do girassol ornamental, a inovação tecnológica e o melhoramento genético foram os responsáveis pela criação de nove tonalidades diferentes da planta. Desenvolvido a partir de 1996, pela Embrapa Soja, foram criadas variedades que se adequam às exigências brasileiras, podendo ser cultivadas em qualquer região do país, sem a necessidade de estufas.

 

 

"Os principais problemas foram adaptação, conhecimento do mercado interno e transformação de uma planta oleaginosa em flor, já que o girassol sujava a toalha da mesa porque o pólen caía do centro, além de ser muito grande para ficar em um vaso comum", explica Marcelo Fernandes de Oliveira, pesquisador da Embrapa Soja e responsável pela pesquisa inicial.

O primeiro passo para a criação do girassol ornamental foi o melhoramento genético para a obtenção de novas cores. Depois, começou o trabalho, também genético, para diminuir o tamanho das flores e atender os mercados de corte (com uma flor por caule) e jardinagem (com 5 a 20 flores, dependendo da cor). O girassol normal tem 20 cm de diâmetro. Os dois tipos desenvolvidos possuem de 5 a 7 cm de diâmetro. As flores podem durar até 10 dias em vaso com água, e até 25 dias no jardim.

A partir do início de 2006, sementes de três tonalidades de girassol ornamental estarão sendo comercializadas: o mesclado (para corte), ferrugem escuro e vinho (as duas para cultivo em jardim). Segundo Ana Cláudia Barneche de Oliveira, pesquisadora da Embrapa Soja e melhorista do girassol ornamental, continuam as pesquisas para criação de novas tonalidades e sementes. "Nós continuamos a trabalhar no desenvolvimento das outras sementes para comercialização e na criação de novas tonalidade do girassol ornamental, como o preto e o branco", informa a pesquisadora.

Outro trabalho realizado pela Embrapa, na unidade Agoindústria Tropical, no Ceará, é o melhoramento genético de flores tropicais. Segundo o pesquisador Levi de Moura Barros, a unidade trabalha com flores, principalmente helicônias, há seis anos. "Neste período conseguimos a introdução de 160 acessos de diferentes genótipos de flores tropicais; estudos para caracterização morfológica e molecular de helicônias e antúrios; uso de material de propagação vegetativa para experimentação e fornecimento de mudas para produtores; formação de uma coleção de cactos nativos da região Nordeste através de coletas botânicas autorizadas; e estudos para o desenvolvimento de protocolos mais eficientes de propagação in vitro das espécies da coleção", explica.

De acordo com Barros, o programa de melhoramento de helicônias no Brasil, ainda em estágio inicial, tem como objetivo a organização da diversidade de espécies existentes nas instituições públicas e na iniciativa privada, além da busca por novas combinações híbridas. Além disto, estudos têm sido conduzidos para entendimento dos mecanismos de cruzamentos artificiais, uma vez que são poucas as informações sobre o assunto.

As helicônias são muito apreciadas, em função da grande durabilidade, beleza e exuberância das inflorescências, no mercado de flores de corte e plantas para paisagismo em todo o mundo. A maioria das espécies do gênero helicônia são neotropicais e capazes de florescer durante o ano inteiro, em condições favoráveis.

 

 

Para o pesquisador, é fundamental a existência de variabilidade genética para o comércio de flores. "Trata-se de um mercado tipicamente de novidades, sendo que a demanda por novas variedades para manutenção do interesse dos consumidores é muito maior do que em qualquer outra atividade agrícola".

Quem concorda com a opinião do pesquisador é Renato Optiz, presidente da Câmara Setorial Federal de Flores e Plantas Ornamentais, que começou a funcionar em 2003, com o objetivo de levar ao governo, de uma forma organizada e pré-discutida, sugestões da cadeia da floricultura. Para ele, a inovação tecnológica é fundamental. "O Brasil tem investido muito pouco em inovação nos últimos anos. No caso da floricultura, são poucas as instituições que trabalham com o desenvolvimento de novas variedades", diz.

 

 

 

 

Segundo Optiz, a previsão de exportação de flores do Brasil para este ano é US$ 30 milhões — principalmente rosas, que são exportadas em buquês prontos. "Mais de 90% da produção nacional é consumida pelo mercado interno. Apenas 10% são exportados. Há possibilidade, com o melhoramento genético e os novos processos de produção, de aumentar este valor nos próximos anos".

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Kess Schoenmaker, o Brasil tem um mercado interno gigantesco que, muitas vezes, é esquecido pelos produtores. "A concorrência no exterior é muito grande e ainda há um grande potencial no nosso mercado interno. Para se ter uma idéia, o gasto médio do brasileiro com flores e plantas é de US$ 4,70 por ano. Na Bélgica o consumo médio per capita é de US$ 69,00, na Holanda US$ 80,00 e na Suécia US$ 89,00. Além disso, nós temos um dos melhores climas do mundo para produção de bulbos. Precisamos investir em máquinas, equipamentos, colheita, pós-colheita e tratamento".