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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.1 Campinas Jan./Mar. 2006

 

 

Agropolos: sustentabilidade para agricultura familiar

 

 

por RAQUEL SACHETO

 

 

A agricultura familiar exerce papel fundamental na economia de uma parcela significativa das pequenas cidades brasileiras. Em muitos casos, é ela a responsável pelo bom desempenho dos negócios urbanos, pelo suprimento da demanda interna de alimentos e pela manutenção do homem no meio rural. Melhorar a capacidade organizacional dos produtores, agregar valor aos produtos e facilitar o acesso dos mesmos ao mercado, tornando-os mais competitivos são, portanto, alternativas que contribuem para o aumento da renda e do desenvolvimento regional.

A inserção dos produtos da agricultura familiar no mercado depende, no entanto, de uma série de fatores como a organização das cadeias produtivas e dos próprios produtores, a inovação tecnológica e as condições institucionais favoráveis (crédito, infra-estrutura, acesso a informações, etc). Na maioria dos casos, porém, os produtores, de forma isolada, não reúnem as condições necessárias para tanto. O modelo de agropolos, adotado pelo Brasil no final dos anos 1990, propicia o desenvolvimento regional por meio da exploração sustentável dos recursos naturais.

Mas o que são os agropolos? Trata-se de um modelo de gestão pautado na premissa de esforços ordenados em um espaço geográfico, na visão de longo prazo e na melhoria da qualidade de vida da população envolvida, por meio do aumento do emprego e da renda. Um agropolo deve ser visto como uma rede envolvendo produtores rurais, instituições públicas e privadas, para desenvolver ações integradas e sistemáticas que incrementem a produção, a qualidade e a competitividade das cadeias produtivas de uma determinada região.

 

 

Sendo assim, os agropolos preconizam um modelo de gestão cooperativa. "A primeira fase de implantação de um agropolo é a sensibilização da comunidade envolvida, incluindo aí não apenas os produtores, mas também o governo, as escolas, os empresários, os comerciantes e demais líderes da região", explica Leoni Lüdke, analista de ciência e tecnologia da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa e Tecnologia (Abipti), instituição responsável pela elaboração da metodologia de Agropolos adotada no Brasil. (ver box)

Somente após concluir a fase de sensibilização e garantir o envolvimento da comunidade é que a implantação de um agropolo começa a tomar corpo. A partir daí é realizado um diagnóstico sócio-econômico da região e se determina qual a sua cadeia produtiva prioritária. "Essa cadeia será a espinha dorsal do projeto sem, contudo, ignorar as demais cadeias existentes. É, no entanto, a partir da cadeia principal que o trabalho se desenvolve", explica Leoni. Para a cadeia escolhida é realizado um diagnóstico participativo, onde se busca explorar todos os pontos fortes e fracos da produção, criando-se então, projetos cooperativos que potencializem os acertos e eliminem os pontos de gargalos.

 

CONCILIAR DUAS VISÕES DE MUNDO

Dentro dessa metodologia, mesmo que a agricultura familiar da região ainda esteja na fase de subsistência, o trabalho é direcionado para que essa etapa seja superada e se ingresse na comercialização, estabelecendo o contato entre o produtor e o mercado. Para isso, ao mesmo tempo em que se busca preservar as características da agricultura familiar, com sua lógica de produção e respeito à diversidade cultural, o desafio é a inserção desse produtor numa lógica empresarial.

Outra característica importante dessa metodologia é que as ações buscam identificar cadeias produtivas ainda não exploradas na região. "É preciso destacar que a metodologia de agropolos não visa apenas à lucratividade, mas principalmente, a qualidade dos produtos destinados ao mercado e à maturidade das relações entre os envolvidos. A metodologia se preocupa com questões sociais e ambientais. Ou seja, com o crescimento sustentado", ressalta Leoni.

 

 

 

 

Um exemplo é o agropolo Ibiapaba, no oeste do Ceará, com propriedades familiares com tamanho médio de 30 hectares. O diagnóstico inicial da região revelou uma agricultura deficiente em inovações, com dificuldades na comercialização da produção, resistência às novas tecnologias e uso abusivo de agrotóxicos, além de baixa produtividade das principais culturas — tomate, maracujá, cenoura, beterraba, pimentão.

 

FLORES DO NORDESTE

A implantação do agropolo permitiu melhorar o desempenho das cadeias produtivas já existentes, bem como elaborar projetos para que os agricultores locais se inserissem em novas experiências agrícolas, como o início do plantio de flores na região. A iniciativa deu tão certo que atraiu algumas das maiores empresas do país no setor e gerou a criação da Tecflores, unidade destinada à realização de testes, capacitação de mão-de-obra e de produtores.

Hoje, o Ceará é o maior exportador de rosas do Brasil e até o final de 2005 a expectativa é atingir US$ 7 milhões em divisas, um crescimento de 350% em relação a 2004, quando as vendas externas somaram R$ 2 milhões. Além da experiência de Ibiapaba, no Ceará já existem seis outros agropolos: Metropolitano, Sertão Central, Baixo Acaraú, Baixo Jaguaribe, Cariri e Centro-Sul.

 

AGROPOLO CAPIXABA

Em implantação desde julho de 2004, o agropolo da Serra do Caparaó, no Espírito Santo, desenvolve ações e atividades voltadas para aprimorar a exploração da cadeia produtiva do café arábica e de novas cadeias potenciais. A prática da monocultura do café provoca reações adversas à sustentabilidade econômica da região devido às condições climáticas e ao relevo montanhoso da região, outras atividades agroindustriais têm forte potencial econômico como o turismo rural, a fruticultura, a floricultura, a piscicultura e produção de madeira e celulose, além de hortaliças em geral.

O agropolo da Serra do Caparaó compreende a microrregião sudoeste do Espírito Santo e agrupa os municípios de Alegre, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Lúna, Muniz Freire e São José dos Calçados. A região conta com um riquíssimo complexo paisagístico, de cenários bucólicos, configurado no Parque Nacional do Caparaó e tem como ponto turístico mais visitado o Pico da Bandeira, com 2.890 m de altitude.