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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.1 Campinas jan./mar. 2006

 

 

Desafios e oportunidades em displays

 

 

ALAIDE P. MAMMANA e VICTOR P. MAMMANA

 

 

Em sua transformação de sociedade industrial para sociedade da informação, a humanidade vem utilizando cada vez mais os meios de comunicação baseados em imagens, utilizando mostradores ou displays para sua exibição.

Mostradores são dispositivos eletro-ópticos que provêm os estímulos visuais para a comunicação do homem com os sistemas eletrônicos e informáticos. Seu grande desafio é alcançar a capacidade de processamento do sistema visual humano, presenciando-se uma corrida desenfreada por dispositivos capazes de exibir imagens de alta resolução e alta fidelidade à cor, em telas panorâmicas, de pequeno volume e peso e baixo consumo de energia.

Diversas tecnologias competem nessa corrida. Os tubos de raios catódicos (cathode ray tubes ou CRTs), apesar da excelente qualidade da imagem e do baixo custo, estão sendo substituídos pelos painéis delgados (flat panel displays ou FPDs) de grande área, pequenos volume e peso e baixo consumo de energia. Os FPDs não só vêm substituindo os CRTs, como têm viabilizado novas aplicações, abrindo novos mercados, como o de equipamentos portáteis, que só passaram a existir com o advento dos mostradores de cristal líquido (LCDs).

A escalada dos displays delgados revela-se no crescimento de seu mercado que, de US$ 24,6 bilhões, em 2000, saltou para US$ 44,3 bilhões em 2004, devendo ultrapassar US$ 65 bilhões em 2006, conforme números conservadores da iSuppli/Stanford Resources. Enquanto isso, em 2006 os CRTs não devem superar US$ 23,5 bilhões, o que é pouco mais que os US$ 22,5 bilhões de 2000.

 

DISPLAYS SÃO ESTRATÉGICOS

Os displays são estratégicos como vetores de inovação (a exemplo da criação dos laptops e outros portáteis), por concentrarem elevado percentual do custo dos equipamentos (até 75% do custo) — limitando as margens de retorno dos integradores de sistemas — e por influenciarem fortemente a opção dos consumidores — uma vez que são a "face" dos equipamentos e sistemas. Assustador é o fato de que as margens devem ficar ainda menores com a integração dos circuitos aos displays — a chamada era do chassis de vidro — graças a impressionantes avanços tecnológicos que estão convertendo os displays em sistemas completos. Esse paradigma deve implicar, também, na perda de autonomia e diferenciação nos projetos dos sistemas, comprometendo a competitividade dos integradores de sistemas, até porque já se observa uma tendência dos grandes fabricantes mundiais de FPDs de reservarem para suas próprias system houses seus melhores displays.

A entrada do Brasil no negócio de mostradores é imperativa para evitar que os setores de eletrônica e informática (e os que deles dependem) percam competitividade ou mesmo fiquem obsoletos. É, também imperativa, para equilibrar a balança de pagamentos do setor eletro-eletrônico, cujo déficit foi de cerca de US$ 7,3 bilhões em 2004, devendo atingir US$ 80 bilhões em 10 anos, se mantido o modelo atual de importações. Os displays têm um peso significativo nesse déficit, que deve aumentar ainda mais se o mercado brasileiro acompanhar a taxa de crescimento anual de 20%, prevista para os mostradores nos próximos anos.

Os LCDs são a mais bem-sucedida tecnologia a emergir dos laboratórios de pesquisa nos últimos 30 anos, sendo fascinantes e nada triviais os avanços da engenharia e da manufatura responsáveis pelo aumento de sua qualidade e queda em seus custos, viabilizando sua produção em grande escala, com margens de retorno típicas de commodities, para atender mercados extremamente competitivos.

Se por um lado o paradigma de commodities desaconselha a entrada tardia no mercado mundial (new comers), por outro, a exigência de escala, imposta por esse mesmo paradigma, impede que as grandes empresas globais atuem em mercados, como o brasileiro, que demandam uma grande variedade e pequenas quantidades de displays (scattered market). É precisamente essa conjuntura que abre oportunidades para a fabricação, no Brasil, de pequenas séries de mostradores para aplicações especiais. Essa fabricação flexível é imprescindível para garantir o acesso das pequenas e médias empresas inovadoras às tecnologias de displays, normalmente dificultado por barreiras geográfica (distância aos laboratórios de desenvolvimento), econômica (custos elevados para desenvolver protótipos ou fabricar pequenas séries — os chamados pedágios) e cultural (dificuldades em adotar novas tecnologias e barreiras de língua e comunicação).

As oportunidades estendem-se a empresas de diversas especialidades que, juntas, devem encarar o desafio de se capacitar na criação de processos e ferramentas para a fabricação flexível. Não menos importantes são as oportunidades em serviços de reparos e recondicionamento dos displays (para tornar robustos), e em sua qualificação e teste.

 

A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA

Foi com esta visão que o CenPRA (à época CTI) iniciou esforços para implantar a tecnologia de LCDs no país, com base num estudo de viabilidade realizado na década de 1980. A partir da P&D nos dispositivos, materiais, processos e equipamentos, instalou linha-piloto para a fabricação de protótipos e pequenas séries de LCDs, com a qual vem atendendo empresas e instituições brasileiras e ibero-americanas (do México, Argentina, Colômbia, Portugal e Chile) que necessitam displays para seus novos produtos.

Expandiu suas atividades para outras tecnologias, como a de cristal líquido disperso em polímero, de displays de emissão de campo (FEDs) e de displays eletroluminescentes orgânicos (OLEDs) bem como para novas aplicações, como painéis outdoor, janelas especiais e inteligentes, chaves ópticas com cristais líquidos para telefonia, tabletes, telas de toque e outras que utilizam os processos desenvolvidos para os displays.

Na tecnologia de FEDs, similar a de CRTs, o Brasil tem excepcionais condições de competir, graças a importantes inovações em materiais e estruturas para a emissão de elétrons e à nova estratégia proposta para o bombeamento de vácuo, já patenteadas pelo CenPRA, que devem superar os problemas de confiabilidade que estavam inviabilizando a entrada dos FEDs no mercado, especialmente os de grande área. Outro aspecto estratégico a considerar é que, porque os FEDs ainda não adentraram o mercado, o Brasil tem excelentes condições de concorrer com os países centrais que voltaram a investir nessa tecnologia.

Os OLEDs estão, também, sendo muito festejados nos meios industriais e científicos como alternativa para competir com os LCDs. No entanto, no estágio de desenvolvimento em que se encontram, apresentam ainda sérias limitações de desempenho, principalmente de tempo de vida. Graças aos esforços já despendidos em LCDs e FEDs, o Brasil tem condições de competir nesta tecnologia, razão porque o CenPRA já instalou linha-piloto para produzir os primeiros OLEDs com materiais e processos desenvolvidos no país.

A inserção competitiva no mercado de displays requer a congregação de esforços de toda a cadeia produtiva, composta por usuários, fabricantes de displays, materiais, equipamentos e instrumentos, setor de P&D, associações de classe, órgãos do governo, agências de fomento e empresas de capital de risco.

 

REDES DE COOPERAÇÃO E A BRDISPLAY

Para tanto, o CenPRA propôs a criação de redes de cooperação, como mecanismos eficazes para articular e integrar estes agentes. Inaugurando com as Redes Iberoamericanas de Mostradores de Informação do CYTED (Rede IXB e IX:F) mais recentemente foi criada a Rede Brasileira — BRDisplay — em que participam 60 instituições e empresas brasileiras —para propor ações e mecanismos que levem à crescente participação brasileira no mercado nacional e internacional de displays. Seus resultados já são auspiciosos, com a criação de novas empresas, como a Displaytec e a LC Eletrônica, em Minas Gerais, para fabricar LCDs, a BRDisplays Ltda, em Campinas, para recondicionar (ruggedization) painéis de LCDs e fabricar de displays de PDLC, a Multividros, em Fortaleza, para fabricar vidros condutores e janelas inteligentes, e a Numina, em Campinas, para desenvolver FEDs. Empresas como a Optanica, de Recife, e a Rei Midas, de Sorocaba, estão sendo apoiadas para fabricar OLEDs e vidros especiais, respectivamente.

É importante observar que o país tem excepcionais condições para se sair vencedor nos displays uma vez que dispõe de um parque industrial de mecânica, eletrônica e materiais para compor sua cadeia produtiva, de infra-estrutura de P&D já instalada em centros de pesquisa e universidades; de capacidade para formar recursos humanos em todos os níveis; de recursos financeiros governamentais e privados tanto para P&D como para apoiar o setor produtivo; e, mais que tudo, de mercado com condições excepcionais para absorver novos produtos.

Por fim, é fundamental observar que os displays estão sendo componentes críticos para garantir que programas de cunho social — como o de Inclusão Digital e do "Computador de 100 dólares" (One laptop per child) — possam ter sucesso em disponibilizar computadores inovadores e de baixo custo para a população brasileira. Da mesma forma os displays são os componentes críticos da TV Digital, hoje tão discutida no país.

 

Alaide Pellegrini Mammana é coordenadora da Divisão de Mostradores de Informação do Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRa), de Campinas. É chairman do Latin American Chapter da Society for Information Display (SID).

Victor Pellegrini Mammana é coordenador de Mostradores de Efeito de Campo do CenPRa.