SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.2 issue2Uso da biodiversidade e acesso a recursos genéticos no Brasil: atual regulamentação dificulta pesquisa e desenvolvimentoDe média para micro: o caminho contrário pode ser mais vantajoso author indexsubject indexsearch form
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Article

Indicators

  • Have no cited articlesCited by SciELO

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Bookmark

Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.2 Campinas Apr./June 2006

 

 

Radiofármacos: produção deverá aumentar com novo acelerador

 

 

por THIAGO ROMERO

 

 

INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES RECEBERÁ CÍCLOTRON PARA PRODUZIR RADIOISÓTOPOS E AUMENTAR A DISTRIBUIÇÃO EM REGIÕES DO INTERIOR PAULISTA

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) assinaram há poucos meses um convênio de cooperação técnico-científica para a instalação de mais um acelerador cíclotron na capital paulista, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). A instalação e operação desse acelerador permitirá ao Ipen incrementar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos radiofármacos, de modo a atender a demanda crescente dos profissionais de medicina nuclear no país.

A medicina nuclear é uma especialidade médica que administra pequenas quantidades de materiais radioativos no corpo humano. Ao serem inseridos no organismo por diversas maneiras, seja por via oral, venosa ou inalação, esses materiais auxiliam no diagnóstico precoce de vários tipos de câncer e até mesmo de doenças cardíacas e neurológicas. Tais materiais, conhecidos como radiofármacos, têm afinidade com a parte do corpo ou o órgão a ser estudado e, ao mesmo tempo, emite radiação durante o tratamento. Ou seja, as propriedades do radioisótopo precisam ser compatíveis com os processos metabólicos do órgão examinado para que o radiofármaco consiga atingir a parte do corpo que se deseja analisar.

Essa especialidade surgiu há mais de 40 anos e vem evoluindo consideravelmente nos últimos tempos. Mas para entender melhor esse processo, é preciso saber a diferença básica entre radioisótopos e radiofármacos. O primeiro é um elemento químico obtido pela irradiação de elementos naturais, em reatores nucleares conhecidos como cíclotrons. Já o radiofármaco é um composto que contém um radioisótopo na sua estrutura e pode ser usado tanto no diagnóstico como na terapia.

Atualmente, o Brasil conta com apenas dois cíclotrons em operação, um em São Paulo, no Ipen, já com sua capacidade de produção perto do limite, e outro no Rio de Janeiro, no Instituto de Energia Nuclear (IEN). Os dois institutos são vinculados à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que constitucionalmente tem o monopólio de produção dos radiofármacos no país.

Dois outros equipamentos semelhantes estão em processo de aquisição para funcionar em Belo Horizonte e Recife. É nítido o interesse de outros estados brasileiros pela aquisição de novos cíclotrons, uma vez que os radioisótopos produzidos nesse tipo de equipamento possuem meia-vida curta, ou seja, em pouco tempo têm sua radiotividade reduzida à metade da inicial, o que dificulta seu envio para distâncias afastadas dos centros produtores. Nesse contexto destaca-se o Flúor-18, radioisótopo com meia-vida de menos de duas horas. Após esse período, sua radioatividade decai pela metade.Os radioisótopos de meia-vida curta liberam mais energia em tempo menor. A eliminação desses materiais radioativos pelo organismo humano ocorre de forma natural, muitas vezes antes de eles perderem totalmente sua radioatividade.

"Com o novo cíclotron a ser instalado no Ipen, poderemos oferecer maior eficiência na produção e distribuição de 18-FDG para hospitais e clínicas, em especial no estado de São Paulo, permitindo o atendimento a um número crescente de pacientes", diz Cláudio Rodrigues, superintendente do Ipen. O Flúor-18, associado ao Fluoro Deoxi Glucose (FDG), gera o radioelemento 18-FDG, capaz de revelar as áreas do organismo humano com metabolismo intenso de glicose, como o cérebro, o coração e os tumores, ainda em estágio inicial. A leitura desses resultados é feita numa câmara PET (Positron Emission Tomography).

 

 

Entre as vantagens desse tipo de atendimento, em particular os procedimentos que usam a técnica PET podem ser apontados diagnósticos rápidos, precisos, não invasivos e, no caso do 18-FDG, a detecção de tumores malignos, obtida no início da doença. "Isso ocorre porque o metabolismo em tumores do 18-FDG, em que o Flúor-18 está associado a uma molécula da glicose, é bastante elevado", explica Rodrigues.

O programa de atividades do Ipen inclui ainda a produção de outras moléculas de interesse na medicina nuclear, a saber: Flúor-DOPA e 18F-Fallapride para pesquisas cerebrais, 11C-metionina para estudo de síntese protéica e 124I para marcação de ácidos graxos na cardiologia.

 

MAIS ACESSO AO TRATAMENTO

Além de fomentar o desenvolvimento de pesquisas, de tecnologia e de produção dos radioisótopos de meia-vida inferior a duas horas na saúde humana, o convênio prevê ainda a instalação de dois equipamentos PET em hospitais públicos, um na cidade de São Paulo e outro no interior do estado, com o objetivo de tornar mais acessíveis os tratamentos fora da capital paulista. Por terem meia-vida curta, esses radioisótopos ficam restritos à região metropolitana da cidade.

Para isso, o Ipen ficará encarregado de entregar aos hospitais públicos ou entidades filantrópicas reconhecidas pela Secretaria de Estado da Saúde, de forma gratuita, doses de 18-FDG para o desenvolvimento de pesquisas e protocolos de aplicação em saúde pública. A meta é distribuir o total de 10 mil doses em cinco anos.

Mas mesmo antes do convênio ser totalmente concretizado, há motivos de sobra para comemorar. A taxa de crescimento da prestação de serviços com radiofármacos no Brasil é bastante expressiva. "O atendimento a pacientes cresce a uma taxa da ordem de 10% ao ano", diz Cláudio Rodrigues. "E especificamente no caso do 18-FDG, o crescimento em 2005 foi de 50% em relação ao ano anterior", completa.

Segundo o físico, o Ipen produz e distribui, atualmente, para a classe médica brasileira, 34 produtos radioativos, usados para a realização de procedimentos médicos de diagnóstico e terapia de várias doenças. Em 2005, esses radiofármacos produzidos pelo instituto atenderam mais de 2,5 milhões de pessoas em todo o Brasil. O volume de recursos orçamentários necessários, no ano de 2005, para o custeio de toda a produção de radioisótopos e radiofármacos no Ipen foi de 30 milhões de reais.

"Estamos permanentemente acompanhando o estado da arte na área das pesquisas com radiofármacos, buscando atender a demanda crescente da medicina nuclear brasileira", afirma Rodrigues. "Por conta disso, novos radiofármacos com meia-vida curta serão produzidos de acordo com toda a regularidade exigida para o novo cíclotron a ser instalado no Ipen", finalizou o físico.