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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.2 Campinas abr./jun. 2006

 

 

De média para micro: o caminho contrário pode ser mais vantajoso

 

 

por GABRIELA DI GIULIO

 

 

Garantir qualidade é a máxima que orienta os trabalhos do farmacêutico industrial e empresário Marcos Correia Silva, diretor de produção da MZ Cosméticos, uma microempresa focada na terceirização e prestação de serviços, que desenvolve, fabrica e embala produtos cosméticos para diferentes clientes. São mais de 200 itens diferentes e a meta, para 2006, é atingir uma produção anual de 2,6 milhões de unidades. Entre as fórmulas pesquisadas e desenvolvidas, estão mais de 70 produtos da linha de cosméticos da marca Ecologie, como hidratantes capilares e corporais, fluídos reparadores para cabelos, sabonetes líquidos, entre muitos outros.

Criada em 2001 — sua fábrica no bairro paulistano do Bom Retiro ocupa uma área de quase mil metros quadrados, onde trabalham 20 funcionários — a MZ nasceu após a venda da marca Ecologie, criada em 1986 pelo empresário, em parceria com a esposa Annette Klepacz e Silva, formada em marketing. "No início, não tínhamos fábrica, apenas vendíamos pelo sistema domiciliar os produtos fabricados para nós, por terceiros", lembra.

A comercialização no varejo, por meio de expositores e showcases em grandes lojas de rede, como Mesbla e Mappin, foi bem-sucedida e fez a marca crescer, conquistando a fatia de mercado dos magazines. Tal expansão passou a exigir mais, devido aos prazos a cumprir com as redes lojistas. Marcos percebeu que não podia mais depender exclusivamente da terceirização dos seus produtos e, com novos parceiros —mais dois investidores da família — resolveu montar uma fábrica, em 1994, no mesmo local onde, hoje, funciona a MZ Cosméticos. Já nessa época, a preocupação do empresário em relação à qualidade dos produtos tinha um caráter inovador: ele optou, por exemplo, por importar proteínas vegetais para evitar o uso de ingredientes derivados de sacrifícios de animais nas fórmulas.

 

 

EXPERIÊNCIA ADQUIRIDA

"A idéia de criar a MZ foi fruto de nossa experiência com a Ecologie, na fabricação e produção de cosméticos, e que ganhou corpo com a venda da marca". Marcos lembra que a Ecologie de então, considerada uma empresa de porte médio, além dos técnicos e funcionários administrativos, chegou a contar com uma grande equipe de vendas, apesar dos momentos difíceis vividos por conta da economia brasileira, com as mudanças de planos econômicos. "Nossa rentabilidade crescia, mas tínhamos prejuízos com algumas redes de lojas e dificuldade em manter crescente o capital de giro necessário para investir na empresa".

Como a maioria das linhas de financiamentos de então privilegiava os grandes projetos, não restou muita opção a não ser a venda da marca Ecologie em 2001. Duas empresas mostraram-se interessadas e quem levou foi a Harty Cosméticos. "Doeu, foi como se tivéssemos vendido um filho nosso, tamanho era o nosso carinho com a marca que criamos. Mas filhos são criados para o mundo. De uma certa maneira, esse foi o nosso sentimento ao decidir pela venda da marca, pois sabíamos de seu potencial e, de certa forma, sem os investimentos necessários, estaríamos atravancando sua expansão".

Com o dinheiro obtido com a venda, Marcos Silva decidiu partir para a criação de uma microempresa, a MZ Cosméticos, mas com outro foco: na área de produção e não mais preocupada com marketing e comercialização. Bem mais enxuta do que a fábrica anterior, a microempresa ganhou em agilidade, afirma seu diretor de produção. "Somos mais ágeis que as grandes multinacionais, que demoram pelo menos dois anos para lançarem um produto novo; já nossa equipe consegue desenvolver uma novidade em um prazo bem curto, de três a seis meses", compara. "Somos uma pequena empresa com a filosofia de uma grande, preocupada em garantir qualidade dos produtos e conectada na satisfação dos clientes".

 

 

Hoje, a MZ Cosméticos não possui mais marca própria, trabalhando no desenvolvimento e embalagem de produtos para terceiros. Produz para cerca de 10 empresas diferentes, mas tem uma carteira com mais de 30 clientes, todos nacionais, embora alguns deles exportem seus produtos. Marcos Silva qualifica suas relações com esses clientes de parceria, pois existe um grande investimento em matéria-prima e em embalagem, por parte deles, assim como em todo produto consta o nome da MZ Cosméticos, como responsável pela fórmula e pelo registro junto aos órgãos fiscalizadores do Ministério da Saúde.

 

PARCERIA E INVESTIMENTO EM INOVAÇÃO

Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento — que variam de 1% a 3% do gasto anual da empresa, de acordo com a demanda — têm garantido resultados positivos para a microempresa. Segundo o diretor, nenhum produto da MZ teve, até agora, qualquer problema como recolhimento de lotes, por estarem fora de peso ou por contaminação. Além disso, Marcos destaca que realiza um forte investimento em novidades, participa freqüentemente de work-shops e simpósios e está sempre de olho nos lançamentos das indústrias de matérias-primas no que diz respeito ao mercado de cosméticos — cerca de 90% das matérias-primas utilizadas nos produtos são importadas.

Mantém, também, intercâmbio permanente com o laboratório de microbiologia de uma empresa ligada à Faculdade Oswaldo Cruz, para fazer análises microbiológicas necessárias para sua cadeia de produção. O empresário destaca como elementos inovativos de sua empresa, a organização do trabalho dentro de uma estrutura enxuta, com uma equipe motivada e atenta a novidades na área de biotecnologia, essencial na criação de novos produtos.

Apesar de manter investimentos constantes em P&D, Marcos Silva reconhece as dificuldades enfrentadas por outras empresas do porte da sua, devido à vulnerabilidade da economia brasileira e aos entraves burocráticos para se obter financiamentos. Além de investimentos em inovação, o empresário considera que ter espírito empreendedor faz a diferença. "Tenho plena convicção de que chegamos até aqui porque somos muito persistentes, temos determinação e obsessão pela qualidade para continuar a trabalhar. Mudamos o foco da nossa empresa, ao criar a MZ Cosméticos, mas a convicção de que tínhamos mérito e qualidade permaneceu".

Marcos Silva faz um balanço positivo de sua passagem de média para microempresa. Segundo ele, o valor agregado nos produtos que desenvolve atualmente é menor, mas os gastos também são. "Tínhamos uma empresa com um faturamento bruto mais alto, mas com retorno menor, porque os riscos eram maiores", conclui.