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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.2 Campinas Apr./June 2006

 

 

Como construir grupos setoriais

 

 

ELIANE FRANCO, FLÁVIA CARVALHO e SÍLVIA CARVALHO

 

 

O Índice Brasil de Inovação (IBI) contempla não somente uma classificação de empresas inovadoras, como também de setores líderes em inovação tecnológica. A construção de um ranking setorial da inovação pressupõe, contudo, a identificação de similaridades de comportamento tecnológico entre as indústrias, tal que as qualifiquem como pertencentes a um mesmo grupo. O presente artigo apresenta uma primeira proposta de agregação setorial, com base em indicadores de esforço e de resultado da atividade inovadora para os 22 sub-setores industriais da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), do IBGE.

A composição dos indicadores foi realizada a partir de informações da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) sobre gastos em P&D, pessoal alocado em P&D e número de empresas inovadoras. Para não incorrer em distorções quanto ao peso absoluto das grandes empresas na atividade inovativa, as variáveis acima foram relativizadas, respectivamente, pela receita líquida da empresa, número de empregados e número de empresas. Assim, os indicadores tecnológicos que irão sinalizar uma primeira proposta de agregação setorial serão os seguintes:

 

 

INDICADORES DE ESFORÇO

Em uma economia globalizada, os indicadores de inovação são estratégicos para que a empresa e o setor a que ela pertence dimensionem seu nível de competitividade, e se posicionem no mercado.

A escolha da P&D deve-se à importância de tal atividade na geração de novos conhecimentos. Embora não seja o único esforço empreendido pela empresa para inovar — acrescente-se, por exemplo, licenciamento de tecnologia, aquisições de máquinas e equipamentos, investimentos em treinamento, entre outros —, a P&D compreende o trabalho criativo desenvolvido pela empresa em bases sistemáticas para aumentar o estoque de conhecimento e utilizá-lo em novas aplicações. (Manual de Oslo, versão 2005)

Para dimensionar a capacidade criativa da empresa, selecionaram-se duas medidas de esforço em P&D: dispêndios e recursos humanos. Enquanto a primeira mede o fluxo de gastos efetuados pela empresa com P&D, a segunda mede o estoque de capital humano empregado nessa atividade.

Pelo fato dos recursos humanos serem o principal agente gerador de conhecimento e de novas idéias, a intensidade de pessoal alocado em P&D é uma medida que indica a capacidade da empresa em ser competitiva, sobretudo no longo prazo, por meio da aplicação do conhecimento acumulado no desenvolvimento de novos produtos ou processos. Por sua vez, a intensidade de gastos em P&D é um indicador do esforço econômico realizado pela empresa para financiar uma parte relevante da atividade inovadora, o que o torna instrumento importante para avaliação e implementação de políticas de C&T no país. Ambos os indicadores se complementam, sendo medidas que captam as dimensões de temporalidade do processo de inovação.

Completando os indicadores de esforços de P&D, optou-se por investigar também o comportamento das indústrias em termos de resultado. Para tanto, a medida utilizada foi a taxa de inovação, que corresponde à proporção de empresas inovadoras em relação ao total de empresas existentes no setor industrial em que atuam. Como se observa no gráfico, a taxa de inovação é muito mais constante intersetorialmente do que os esforços em P&D. Esse comportamento sugere que a taxa de inovação é muito mais uma resultante da difusão de tecnologias já existentes do que da criação de novos conhecimentos, o que ressalta a ausência de um ambiente efetivamente inovador dentro da maior parte das empresas brasileiras.

Tais características inviabilizam, portanto, o uso da taxa de inovação como um indicador de resultado do esforço em P&D. Daí sua exclusão como medida de referência para formação de grupos setoriais.

 

AGREGAÇÃO SETORIAL

A proposta de agrupar setores industriais por intensidade tecnológica não é inédita. Ao contrário, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já desenvolveu uma classificação setorial por intensidade tecnológica (alta, média e baixa) baseada nos dispêndios em P&D das indústrias dos países-membros.

 

 

A classificação da OCDE aplica-se, contudo, a países desenvolvidos, cuja estrutura econômica e, sobretudo, tecnológica diverge consideravelmente de países em desenvolvimento. No Brasil, estudos empíricos mostraram "sensíveis diferenças estruturais nos padrões setoriais de esforço tecnológico", atribuídas ao fato da "economia brasileira ser relativamente fechada, não desenvolver especialização tecnológica em setores de alta ou média-alta tecnologia (...) e ser dependente do fluxo externo de tecnologia". (Furtado e Quadros, 2005; p.1)

Esse exercício propõe agrupamentos setoriais com base no ranking do indicador de gastos em P&D, por atividades industriais. A escolha dessa medida para compor os grupos deve-se, entre outros fatores, à maior abrangência na captação dos esforços em P&D, vis-à-vis a medida de recursos humanos, e por permitir, também, uma comparabilidade com o indicador utilizado para compor a classificação internacional de setores por intensidade tecnológica. Os agrupamentos foram obtidos a partir da divisão da distribuição dos valores de intensidade de gastos em P&D em "quartis", ou seja, em quatro partes iguais (à exceção do grupo 4, que contém dois sub-setores industriais a mais do que os demais grupos).

 

COMPOSIÇÃO DE GRUPOS SETORIAIS

A agregação setorial baseada em quartis da intensidade de gastos em P&D torna os grupos setoriais mais homogêneos, a despeito de estabelecer um ranking setorial diferenciado da classificação internacional da OCDE. Além disso, sugere a composição de novos grupos, baseados na proximidade da base técnica. Em outras palavras, percebe-se uma convergência de indústrias pertencentes a complexos produtivos que seguem uma lógica semelhante de competitividade e de aquisição de capacitação tecnológica. Esse é o caso das indústrias de material de transportes (aeronáutica e automotiva), dos setores do complexo eletrônico (informática, eletrônica e comunicações, instrumentação), dos setores produtores de bens de capital metal-mecânicos (máquinas, equipamentos mecânicos e material elétrico) e dos setores do complexo químico (química, petróleo e álcool, fumo e borracha e plástico).

 

NOTAS

1) OECD (2005), The measurement of scientific and technological activities - Oslo manual, Third edition, OECD and Eurostat, Paris.

2) Furtado, A. e Quadros, R. (2005), Padrões de intensidade tecnológica: um estudo comparativo com os países centrais, São Paulo em Perspectiva, vol. 19 n. 1, p. 70-84, jan./mar.

 

Eliane Franco, Flávia Carvalho e Sílvia Carvalho são pesquisadoras associadas do DPCT/IG/Unicamp.