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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.2 Campinas abr./jun. 2006

 

 

Biblioteca de funções: facilidade na difusão de informações geográficas

 

 

por BRUNO BUYS

 

 

 

UTILIZANDO SOFTWARE DE CÓDIGO ABERTO, REDE DE INSTITUIÇÕES DE PESQUISA GARANTE O USO DE DADOS EM NOVAS APLICAÇÕES POR PARTE DE PREFEITURAS E EMPRESAS DO SETOR PRIVADO

Um dos maiores desafios a serem vencidos para ampliar a utilização dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG's) é saber lidar com a diversidade de dados, formatos de arquivos e de modelos matemáticos empregados nos diferentes pacotes de softwares especializados desse campo de pesquisa. Para responder a esse desafio, um consórcio de três grupos de pesquisa mantém o projeto TerraLib. Trata-se de uma biblioteca de funções que fornece as rotinas básicas encontradas em sistemas de informação geográfica, e que, por ser de código aberto (software livre), pode ser facilmente readaptada para diferentes demandas, além de ter custo zero.

A TerraLib surgiu como resultado de uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o grupo Tecnologia em Computação Gráfica (TecGraf) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e a Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologias Espaciais (Funcate). A proposta inicial era criar uma base sólida de programação, capaz de fomentar o desenvolvimento de novas aplicações que pudessem tirar proveito de avanços recentes na pesquisa em fontes de informações geográficas. Terralib deveria também permitir o uso simultâneo por diversos usuários, ou "uso distribuído", uma vez que o mercado corporativo era o alvo desejado. Nesse ambiente, Terralib poderia conectar-se com diferentes bancos de dados para troca de informações. O projeto teve apoio dentro do próprio Inpe e da PUC-RJ, que alocaram equipes de programação. Recebeu também aportes financeiros do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), através de recursos do Fundo Setorial de Tecnologia de Informação (CT-Info).

O desenvolvimento de uma biblioteca de funções (ver box) parecia o caminho certo, uma vez que o objetivo do projeto era atingir desenvolvedores de software e empresas de geoprocessamento e tecnologia. Uma biblioteca é a parte de um programa de computador que desempenha um conjunto de funções específicas. Existem bibliotecas de variados tipos, com rotinas lógicas e matemáticas, de conversões de formatos, entre outras. TerraLib fornece rotinas de manipulação e conversão de imagens de geoprocessamento que podem ser inseridas em um programa mais amplo, e cuja função pode variar muito, graças a sua flexibilidade e código-fonte disponível.

O projeto de Terralib tem uma natureza integradora. Nas palavras de Lúbia Vinhas, gerente de Desenvolvimento de Terralib: "todos os projetos que necessitem de uma capacidade de análise de dados no espaço e no tempo são foco da Terralib. necessitamos disso para atender as demandas institucionais que trabalham com os grandes sistemas para simulação da dinâmica de uso e cobertura da Terra na amazônia brasileira. Os modelos espaciais para biodiversidade e modelagens integradas de clima e impactos, os sistemas de análise criminal avançadas para apoiar a inteligência na análise da violência nas cidades brasileiras, ou os sistemas de alerta epidemiológico com o uso intensivo de dados espaço-temporais têm uso promissor para a TerraLib. Resumindo, tudo que precisa de inteligência no trato com o dado geográfico é cenário promissor para a TerraLib". Lúbia termina, concluindo que "mais que um software livre, de código aberto, a TerraLib é um software público. Tem um compromisso com a sociedade brasileira em fornecer a tecnologia necessária para os desafios do estado brasileiro no cenário nacional e no internacional".

 

 

A julgar pelo conjunto de projetos derivados da TerraLib, a proposta inicial foi muito bem sucedida: vigilância sanitária, monitoramento de crimes e gestão de redes de tubulações de água e esgoto estão entre as tecnologias desenvolvidas a partir desta biblioteca de código aberto.

 

APLICAÇÕES

José Pinheiro, engenheiro da Nexus Geoengenharia, conta que a biblioteca foi uma grata descoberta, que facilitou grandemente o desenvolvimento dos sistemas da Nexus. "Tivemos contato com o pessoal do Inpe, e ficamos impressionados com a qualidade tecnológica da TerraLib. Após algumas idas ao exterior, encontramos o que precisávamos aqui no Brasil".

A Nexus integra a biblioteca em seu sistema de gerenciamento de redes de tubulações de água e esgoto. Seus clientes são prefeituras, que reduzem os gastos na gestão de suas redes e minimizam desperdícios de água com tubulações defeituosas. "Auxiliamos o cliente a instalar e alimentar o sistema com os dados necessários, que muitas vezes já existem na forma de mapas e tabelas da época da instalação das tubulações na região. Depois dessa etapa, o nosso software pode, por exemplo, produzir mapeamentos socioeconômicos de uso da água por região, ou então apontar quais são os registros a serem fechados para estancar um vazamento em algum ponto da rede". A empresa segue o modelo de negócio baseado em licenciamento de código aberto, no qual a receita provém do fornecimento de serviços, em vez da venda do software. As prefeituras de Votuporanga e de Santo André já utilizam o sistema.

Em São Carlos, a empresa Enalta Inovações Tecnológicas fornece uma solução para gestão agrícola, integrando funções de visualização e geoprocessamento, via TerraLib, a um sistema de controle e acompanhamento (o "Pims", da empresa Próxima) de produção agrícola. Segundo Wellington Lopes, analista de sistemas da Enalta e um dos programadores envolvidos no Pims-SIG — como foi batizado —, o software já está em uso em cinco usinas de açúcar em diferentes cidades do interior do estado de São Paulo, gerenciando um total de 120 mil hectares de cana-de-açúcar.

Na área de vigilância epidemiológica, TerraLib fornece a base para o desenvolvimento do projeto Sistema de Apoio Unificado para Detecção e Acompanhamento em Vigilância Epidemiológica (Saudável). O projeto forma, na verdade, uma rede de instituições de pesquisa, composta pela Divisão de Processamento de Imagens (DPI) do Inpe, a Escola Nacional de Saúde Pública e o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (ENSP e CPqAM, ambos da Fundação Oswaldo Cruz), o Laboratório de Estatística Espacial (Leste, da UFMG), o Prodabel (da prefeitura de Belo Horizonte) e o Laboratório de Estatística e Geoinformação (LEG, da UFPR). O objetivo da rede é produzir softwares capazes de auxiliar na detecção e monitoramento de epidemias e de doenças transmissíveis, bem como estimular o uso de imagens de sensoriamento remoto em vigilância epidemiológica.

Dentro do contexto do Saudável, o Leste desenvolveu o TerraCrime, programa que gera análises e relatórios estatísticos sobre ocorrências criminais, cruzando os dados com outras informações, como perfil socioeconômico, população e área da ocorrência. A violência tem sido entendida pela Organização Panamericana de Saúde (OPS) como uma epidemia urbana, um problema grave que atinge especialmente populações carentes e como um obstáculo à ação dos agentes de saúde.

Outros usos de TerraLib incluem o projeto InfoPAE, software de monitoramento de condições operacionais em instalações de petróleo, desenvolvido pelo TecGraf-PUC-RJ (de uso exclusivo da Petrobras), para o qual TerraLib fornece funções de visualização, típicas de sistemas de informações geográficas (SIG's), e aplicações da Embrapa para análises de dados espaciais.

 

 

LICENCIAMENTO LIVRE

O licenciamento de TerraLib é feito sob a Lesser General Public License (LGPL), publicada pela Free Software Foundation. Esta é uma das mais populares licenças usadas para softwares livres e que aplica-se, especialmente bem, para bibliotecas de funções, como é o caso da TerraLib. A LGPL permite a criação de produtos comerciais derivados da biblioteca original, que podem ser licenciados até mesmo por licenças comerciais tradicionais. Dessa forma, TerraLib pode ser incorporada em uma gama variada de softwares, livres ou não.

Segundo Antonio Miguel Vieira Monteiro, engenheiro do Inpe e um dos gerentes do Projeto TerraLib, os resultados alcançados até agora superaram as expectativas. Desde o desenvolvimento do Spring, um pacote gratuito de software para análises e visualização de imagens geográficas, o Instituto esteve envolvido na produção de software para geoprocessamento para a comunidade brasileira. "Com TerraLib o Instituto objetiva atingir não somente o usuário dessas tecnologias, mas principalmente o desenvolvedor de software. Temos parcerias importantes com órgãos governamentais, departamentos universitários de pesquisa e empresas privadas. Além do trabalho de manutenção da versão atual de TerraLib (a 3.1), estamos em um momento de consolidar o trabalho realizado, apoiar e ampliar os grupos em formação".