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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.2 Campinas Apr./June 2006

 

 

Empresas da Rede Pescar ensinam profissão a jovens de baixa renda

 

 

por CAROLINA CANTARINO

 

 

PROJETO DESENVOLVEU TECNOLOGIA SOCIAL PIONEIRA PARA ESTIMULAR EMPRESAS A FORMAR E INTEGRAR ADOLESCENTES NO MERCADO DE TRABALHO

Tudo começou em 1976 numa pequena sala de aula. Inspirado pelo provérbio de Lao Tsé — "Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo por um dia. Se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo por toda a vida" — o empresário gaúcho Geraldo Linck, proprietário de uma empresa revendedora de máquinas e equipamentos rodoviários, quis ensinar um ofício a jovens pobres da periferia de Porto Alegre. Foi criado, então, o Projeto Pescar que tem como objetivo fazer com que empresas promovam a inclusão social de jovens de baixa renda através do aprendizado de uma profissão.

Passados 30 anos, o projeto desenvolveu um modelo pioneiro de franquia social: a empresa integrada ao Projeto Pescar abre espaço, em suas próprias dependências, para a formação pessoal e profissional dos adolescentes selecionados. A intenção também é encaminhá-los, depois, ao mercado de trabalho. A empresa franqueada recebe suporte e orientação técnica da Fundação Projeto Pescar, organização não-governamental criada em 1995 para divulgar a tecnologia social desenvolvida pelo projeto.

"Nossa escola sempre esteve envolvida em ações sociais, mas pontuais. Queríamos uma atividade mais sistemática e contínua" afirma Dário Schneider, professor responsável pelo Projeto Pescar no Colégio Anchieta, primeira escola particular de ensino fundamental e médio a adotar uma franquia do projeto. As empresas que oferecem produtos e serviços ao colégio tornaram-se, também, suas parceiras no projeto.

 

CIDADANIA

O Colégio Anchieta oferece um curso técnico de auxiliar de informática para jovens que estejam em situação de vulnerabilidade social na periferia da Região Metropolitana de Porto Alegre. Um dos critérios de seleção para o curso é que o jovem — com idade entre 16 e 18 anos — esteja cursando a oitava série ou o ensino médio em alguma escola pública.

Uma das características do Projeto Pescar é a formação não só profissional, mas também pessoal dos adolescentes. "Na Unidade Anchieta, os alunos do projeto têm aulas sobre meio ambiente, saúde, educação artística e teatro. Pode-se dizer que 60% do currículo é voltado para questões de cidadania", lembra Schneider. Os adolescentes também recebem um auxílio para transporte e alimentação.

A primeira turma formada pelo colégio concluiu o curso — com duração de oito meses — em julho de 2005. Dos 17 jovens formados, 13 conseguiram seu primeiro emprego. "Acredito que para ser eficaz, a noção de responsabilidade social de uma empresa deve surgir de dentro para fora. É possível a uma instituição realizar ações sociais que sejam válidas para a sociedade como um todo" afirma Dário Schneider ao destacar os resultados positivos do Projeto Pescar.

Mais de 9.711 estudantes já passaram pelo Projeto e cerca de 70% deles conseguiram emprego logo após a formatura. O projeto conta, atualmente, com 87 empresas franqueadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rondônia, Ceará e Distrito Federal.

 

PEDAGOGIA

Uma das empresas franqueadas é a Vicunha, considerada a maior indústria têxtil da América Latina, que adota o Projeto Pescar em quatro de suas 15 unidades operacionais: em Americana e na capital, em São Paulo; em Maracanaú, no Ceará, e outra em Natal, no Rio Grande do Norte. A unidade da empresa em Americana desenvolve parceria com a Fundação Projeto Pescar desde de agosto de 2004, contando já com uma segunda turma de alunos em formação.

 

 

"No início da implantação de uma nova franquia, o orientador — responsável pelo Projeto Pescar dentro de uma determinada empresa — realiza um curso de formação na sede da Fundação, em Porto Alegre, com duração de uma semana", descreve Melissa Cristina da Silva, orientadora do Projeto da unidade da Vicunha em Americana. Responsável por essa unidade desde o seu início, a pedagoga lembra que depois disso, a Fundação fornece supervisão pedagógica contínua e realiza, anualmente, seminários nacionais para promover encontros entre os orientadores das empresas para que troquem informações sobre suas experiências particulares com o projeto.

 

 

A Vicunha seleciona, a cada turma, 14 adolescentes carentes, através da aplicação de um questionário socioeconômico e oferece a eles um curso profissionalizante na área de serviços administrativos. A empresa é responsável, diariamente, pelo traslado desses jovens, que ainda contam com o acompanhamento de uma psicóloga e uma assistente social. O curso dura, ao todo, 10 meses — 800 horas — e é realizado durante o período da manhã.

Dos 13 jovens que se formaram na primeira turma (houve uma desistência), nove conseguiram ingressar no mercado de trabalho. "Em relação à empregabilidade, além da própria Vicunha, temos contatos com agências de emprego e com empresas da região que, através do nosso trabalho, conhecem o Projeto Pescar e o apóiam", afirma Melissa Cristina da Silva.

A Rede Pescar conta, não só com as empresas franqueadas, mas também com o apoio de voluntários, estendendo, assim, suas parcerias. "Contamos, em nosso projeto na Vicunha, com a presença de dois professores universitários do Centro Universitário Salesiano de São Paulo — conhecido como Unisal — que, voluntariamente, ministram aulas com noções básicas sobre administração de empresas para os alunos", lembra Melissa.