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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.3 Campinas July/Aug. 2006

 

 

Outsourcing: uma estratégia de vantagem competitiva em TI

 

 

por THIAGO ROMERO

 

 

A fórmula tem mostrado sucesso. Terceirizar atividades administrativas pode trazer uma série de benefícios às empresas brasileiras. Redução de custos, melhoria da performance operacional, aumento da produtividade e maiores retornos financeiros são algumas vantagens da prática, conhecida como outsourcing, que vem ganhando importância no país principalmente no que diz respeito à área de Tecnologia da Informação (TI). Ou seja, tarefas como segurança corporativa, suporte tecnológico e administração de redes estão sendo passadas pelas grandes companhias para outras empresas, especializadas nessas áreas. O setor de TI é o mais maduro quando se fala em outsourcing, e calcula-se que as empresas brasileiras invistam cerca de 5,3% do faturamento líquido nesse tipo de tecnologia.

 

 

Mas o que vem chamando a atenção dos especialistas, no entanto, são os desafios a serem enfrentados para incluir o Brasil na rota de outsourcing das empresas globais, tornando o país um potencial exportador de serviços de TI. O tema tem despertado interesse de empresas e organizações que têm-se reunido em eventos para debater estratégias para tornar as subsidiárias brasileiras das empresas globais as principais responsáveis por uma política de acesso ao mercado mundial de software e serviços de TI.

 

 

Flavio Grynszpan, diretor do Departamento de Tecnologia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e diretor da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), listou à reportagem da Inovação Uniemp inúmeras barreiras que impedem o Brasil de ser reconhecido como um dos centros mundiais de desenvolvimento de software para as empresas globais. "Além de termos pouca experiência internacional no setor, temos que concorrer com outros países que estão atuando no mercado mundial e já criaram tradição como bons desenvolvedores para as principais companhias", explica. Para piorar a situação, as empresas nacionais ainda não conseguiram criar uma vantagem competitiva realçada. "Nossos custos são maiores que os de muitos países e ainda não temos especialização em nenhum nicho de mercado que nos diferencie de nossos concorrentes", lamenta.

Grynszpan aconselha que as companhias brasileiras priorizem o mercado interno "que é grande e diversificado", dando mais atenção às empresas globais aqui estabelecidas e que são bem sucedidas no fornecimento de produtos e serviços ao mercado nacional. "Temos que trabalhar com as subsidiárias locais das empresas globais e criar condições para competir internamente nas respectivas corporações com as subsidiárias de outros países", afirma.

Além disso, criar competência e massa crítica em setores de mercado específicos são fatores fundamentais para que o país possa ser reconhecido internacionalmente pela excelência em serviços de TI. "Se soubermos aproveitar a capacidade instalada nas subsidiárias brasileiras das empresas globais, poderemos criar bons canais de comercialização dos softwares desenvolvidos pelas empresas nacionais. O segredo é nos apoiarmos nas companhias estrangeiras que já são bem sucedidas no mercado nacional como fabricantes", ressalta Grynszpan.

Outro fator a ser considerado é o aumento da visibilidade do Brasil nas corporações globais, o que poderia influenciar a alta direção dessas empresas na hora de escolher o país para a instalação de seus centros de competência. Para isso, o auxílio da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom) seria algo decisivo. A associação integra as principais empresas nacionais e tem capacidade de promover o software brasileiro no mercado internacional.

Os principais concorrentes do Brasil nesse cenário são Índia, China, Rússia, México, Argentina e Chile, além de alguns países da Europa Oriental e asiáticos, como Filipinas, Malásia, Tailândia e Vietnã. A Índia e a China são dois casos à parte. O primeiro país já está tão na frente dos outros que não precisa mais se preocupar com a concorrência e serve de referência para os demais países, que procuram ocupar os espaços que restam. A China também corre em raia própria, ocupando nichos de mercado cada vez mais amplos e diversificados.

 

 

MARCA BRASIL

Na opinião de Fernando Birman, diretor de TI do Grupo Rhodia para a América Latina, o principal obstáculo que impede o Brasil de se tornar um centro de referência mundial é o desconhecimento do país como produtor de TI. "A nossa marca é muito fraca. Precisamos investir na marca Brasil e na divulgação de competências com base em nossos casos de sucesso. As empresas brasileiras precisam ocupar rapidamente o espaço que resta, antes que outras nações o façam de forma definitiva", acredita.

Para ele, o Brasil tem capacidade suficiente para competir com os centros de competência internacionais. "Temos que mostrar nossas principais qualidades e tentar fornecer uma solução de TI completa. As empresas nacionais têm um enorme potencial para desenhar e conceber soluções por inteiro, e não apenas executá-las", garante Birman. "E isso que nos diferencia da dura concorrência internacional."

Birman, que integra o comitê mundial de informática do Grupo Rhodia, afirma ainda que participar desse tipo de negócio não é apenas interessante para os trabalhadores brasileiros, mas é algo vital. "Não se trata só de ganhar espaço lá fora, mas de evitar a exportação de empregos. Nesse caso, uma maior agressividade das empresas nacionais e o ataque ao mercado externo é a melhor tática de defesa", conta.

O mais importante, segundo ele, é que a classe empreendedora brasileira não está esperando de braços cruzados. Para ilustrar com um caso de sucesso, pode-se citar a Tempest. A empresa instalada no Porto Digital, arranjo produtivo local de software, em Recife (PE), fechou no final do ano passado uma parceria com a francesa Net2S para exportar serviços no setor de outsourcing de proteção da informação. O acordo prevê que todos os clientes mundiais da Net2S relacionados a serviços de segurança passem a ser gerenciados pelas bases de operação da Tempest em São Paulo e no Recife.

 

 

O Seminário Internacional sobre Estabelecimento de Centros de Com-petência de Empresas Globais no Brasil, realizado no mês de fevereiro em São Paulo, apresentou propostas para que o país consiga atingir a meta estabelecida pelo governo federal de exportar US$ 2 bilhões em serviços de TI até 2007. "Nesse prazo, poderíamos alavancar nossas exportações de serviços de TI aproveitando multinacionais que já têm mercado definido e garantido, como por exemplo a Accenture, a IBM e a Eletronic Data Systems (EDS). Essas empresas darão bons saltos até 2007", aposta Grynszpan, que foi o organizador do evento.

Segundo ele, apesar da área de software e serviços de TI ser uma das prioridades da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), os mecanismos de apoio ainda não estão claros e o governo federal não conseguiu elaborar uma legislação atrativa que ofereça bons incentivos. "No caso das multinacionais, a oferta de financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES) não ajuda muito, pois essas empresas têm acesso a recursos no mercado internacional a taxas bem menores do que as praticadas no Brasil", compara.

Grynszpan finaliza com uma boa notícia, divulgada como uma das principais conclusões do seminário: o mercado brasileiro está disposto a oferecer boas oportunidades de emprego a milhares de pessoas, de modo a atender às demandas já identificadas em empresas como IBM e EDS. "Atual-mente, o maior gargalo é formar 30 mil pessoas em um prazo curto e a custos compatíveis. Essa é uma grande oportunidade para os brasileiros conseguirem novos empregos. Caso contrário, os projetos e seus respectivos empregos migrarão para outros países", alerta Grynszpan.