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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.3 Campinas jul./ago. 2006

 

 

Construindo o IBI

 

 

ANDRÉ FURTADO e RUY QUADROS

 

 

Desde o último artigo, em que foi feito um exercício de ordenamento para embasar a classificação setorial das empresas, a equipe responsável pela construção do Índice Brasil de Inovação realizou o levantamento das informações estatísticas necessárias para a elaboração dos valores que serão utilizados para normalizar os dados das empresas que participarem do IBI. Esses indicadores foram levantados junto ao IBGE e ao INPI.

As tabulações especiais de médias setoriais fornecidas pelo IBGE foram o primeiro passo dado no sentido de testar a consistência da fórmula, cuja primeira proposta foi publicada na revista Inovação Uniemp (nº 1, ano 2), e a adequação dos dados da Pintec 2003 para o propósito de normalizar os valores que deverão ser apresentados pelas empresas. A observação dos valores correspondentes às médias aritméticas e ao desvio padrão das variáveis nos grupos de atividade industrial evidenciaram a sua inadequação do que poderia se esperar de uma ordenação dos esforços e resultados inovativos de setores industriais. Em realidade, o irregular desempenho de um reduzido número de empresas que respondem por algum esforço enviesa os indicadores para comportamentos erráticos.

Esse primeiro teste da metodologia levou a equipe do projeto a repensar a maneira de normalizar os dados que formam cada um dos componentes do IBI. No lugar de se usar a média aritmética dos micro-dados e o desvio-padrão das divisões e grupos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae), optou-se por normalizá-los apenas através da média setorial agregada. Essa escolha apresenta dados muito mais consistentes com o objetivo de medir o grau de inovatividade das empresas.

A fórmula sofreu também uma simplificação para reduzir o número de componentes e eliminar possíveis redundâncias. O indicador de recursos humanos, através de uma alteração dos pesos passou a refletir principalmente o efeito da qualificação, porque o indicador de intensidade do esforço financeiro de P&D interna possuía uma forte correlação com o de recursos humanos. O indicador de cooperação foi descartado porque representava uma certa redundância em relação ao de atividade tecnológica.

A fórmula agregadamente ficou da seguinte forma:

(IAI.P1 + IRH.P2).Q1 + (+ IP.P3+II.P4).Q2 = IBI, onde

P1 + P2 = 1, P3 + P4 = 1 e Q1 + Q2 = 1

IAI = Indicador de Esforço em Atividades Inovativas

IRH = Indicador de Esforço em Recursos Humanos em P&D

IP = Indicador de Impacto em Patentes

II = Indicador de Impacto Econômico da Inovação

Um aspecto importante da fórmula consiste na normalização dos valores por meio das médias agregadas das divisões da Cnae. De forma que uma empresa será sempre comparada ao seu respectivo setor de atividade, antes de sê-lo com as empresas dos demais setores. Ademais essa comparação deverá ocorrer dentro de determinados conjuntos.

 

EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO

Procedeu-se a um primeiro exercício de construção do IBI a partir dos dados obtidos com as tabulações especiais da Pintec 2003. Utilizaram-se, nesse exercício, os grupos da Cnae, a 3 dígitos, como se fossem indivíduos, que passaram a ser normalizados através das médias agregadas das divisões setoriais (2 dígitos). Nesse caso, o IBI mede a inovatividade relativa do grupo dentro da divisão setorial. Para efeito de cálculo ainda foram necessários alguns ajustes devido à ausência de determinados componentes. Assim, no caso do IP utilizaram-se os dados fornecidos pelo IBGE, que são da proporção de empresas que fizeram depósito de patente no conjunto das empresas do setor, no lugar do indicador buscado que era do número de patentes pelo número de empregados da empresa.

Os 10 grupos da indústria de transformação que apresentaram maior IBI pertencem a um conjunto heterogêneo de setores (tabela 1). Há grupos que pertencem a setores de alta tecnologia, mas também outros de baixa. Isto se deve ao procedimento de normalização, isto é, ao fato de que o indicador composto mede o desempenho relativo do grupo dentro de uma divisão setorial. Portanto, o grupo de abate e preparação de produtos de carnes se destaca dentro do setor de alimentos, assim como os grupos de vidro e de cimento se destacam dentro do setor de minerais não-metálicos. Observa-se que a variável IP apresenta uma maior sensibilidade. Isto se deve à grande oscilação do comportamento inventivo das empresas, mesmo dentro de um determinado setor industrial. Por essa razão, optou-se por dar um peso menor a essa variável no cômputo total do IBI. A predominância de grandes empresas representa uma importante causa para que um grupo se destaque em termos de inovação dentro do seu setor. A metade desses grupos de destaque dentro da indústria manufatureira brasileira contém um número igual ou inferior a 33 empresas, que são predominantemente grandes.

 

 

Os dados do exercício permitem perceber, também, que os setores com maiores valores de IBI apresentam valores muito mais elevados das variáveis de resultados, tanto de impacto econômico (II) como de patentes (IP). Esses grupos se destacam em sua capacidade de gerar resultados. As montadoras de veículos automotores se sobressaem na capacidade de gerar resultados inovativos, o que as coloca em primeiro lugar na classificação do IBI. Alguns grupos, no entanto, demonstram um comportamento relativamente mais equilibrado entre esforços e resultados como o de fabricação de caminhões e ônibus, aeronaves e de celulose.

 

A NORMALIZAÇÃO

Este exercício de simulação, a partir da base de dados constituída com a Pintec 2003, revela a abordagem equilibrada e abrangente do IBI, que não é um indicador baseado em um único componente, mas um conjunto completo de indicadores que reflete tanto os esforços quanto resultados, cujos componentes estão normalizados por médias setoriais. Isto torna o IBI bastante comparável intersetorialmente, conforme foi demonstrado neste exercício. Mais importante, a normalização pela média do setor de atividade permitirá a comparação entre empresas de diferentes setores, quando da aplicação da metodologia com o objetivo de ranquear empresas interessadas em aderir ao IBI.

A construção do IBI terá continuidade por meio da incorporação dos dados de patentes, tanto de depósitos quanto de registro, que estão sendo trabalhados, através de tabulações especiais obtidas junto à base de patentes do INPI. Além disso, esforços estão em andamento no sentido de refletir na fórmula um peso específico ao equilíbrio entre variáveis de esforço e variáveis de resultados. A partir da consolidação da fórmula, será lançado um sítio na internet em que estarão disponíveis os detalhes da fórmula do IBI e a forma de classificação das empresas, assim como os procedimentos das empresas interessadas em se candidatar a concorrer ao melhor índice do respectivo setor.

 

André Furtado e Ruy Quadros são professores do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp.