SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.2 número3Um giro pelas FAPSDigital: empresa brasileira busca expansão no exterior índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Articulo

Indicadores

  • No hay articulos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Bookmark

Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.3 Campinas jul./ago. 2006

 

 

Saúde animal: Brasil já é o segundo maior produtor de insumos

 

 

por FLÁVIA NATÉRCIA

 

 

O SEGMENTO DE BOVINOS É O LÍDER DO MERCADO, AO QUAL SE DESTINAM 56,60% DA PRODUÇÃO DO SETOR; JÁ O DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO (CONHECIDOS COMO PETS) É O QUE APRESENTA MAIOR POTENCIAL DE EXPANSÃO. EM BIOTECNOLOGIA, PORÉM, FALTA INVESTIR MAIS.

Até 2008, a indústria de insumos para a saúde animal no Brasil deverá ultrapassar a casa dos R$ 3 bilhões, mantido o crescimento atual de 11% ao ano. Em 2005, o setor movimentou mais de R$ 2 bilhões, consolidando o país como o segundo maior mercado do mundo nesse segmento. Desde 1997, quando a receita atingiu R$ 923 milhões, o crescimento chega perto dos 240%, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Saúde Animal (Sindan) e do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa). Em 2004, as quatro maiores empresas do setor respondiam por 36,5% do mercado; o segmento de produtos para bovinos representava 55,6% do mercado, seguidos pelas aves (21,7%). Os pets constituíram apenas 9,3% do total. Portanto, com um grande potencial para crescer.

No que concerne ao tipo de produto (gráfico 1), os biológicos, liderados pelas vacinas, e os antimicrobianos figuram entre os mais vendidos. Dentre as vacinas, merecem destaque as que combatem a febre aftosa, atualmente fabricadas por cinco laboratórios— Merial, Bayer, Intervet, Pfizer e Vallée —, representando cerca de 35% do mercado veterinário somente para a bovinocultura (corte e leite). A doença é causada por um vírus e se dissemina com facilidade por ser muito contagiosa. Considerada endêmica em diversas regiões do mundo (Oriente Médio, Ásia, África e América do Sul), atinge bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos. Assim, uma vez que eclode, compromete a comercialização do setor pecuarista como um todo.

 

 

 

 

A situação desse mercado fica ainda mais favorável frente a outros números: em quantidade de animais domésticos, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se haver 27,9 milhões de cães, 12 milhões de gatos e 4 milhões de outros animais de estimação no país — 59% dos lares têm pelo menos um. É, ainda, o maior produtor de alimentos pet na América Latina, respondendo por cerca de 48% do total, seguido do México (25%), e da Argentina (6,5%). Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal-Pet), entre 1995 e 2002, o consumo de alimentos industrializados para pequenos animais aumentou 400%. Esse segmento responde por uma grande fatia do mercado pet e, em 2004, aumentou seu faturamento em 20,41% enquanto a produção cresceu 10,48%, relacionados a 2003. Em 2004, apenas 37% dos animais de estimação eram alimentados com produtos industrializados, o que dá uma idéia das possibilidades de expansão do setor. Somente cães e gatos podem movimentar pelo menos R$ 3 bilhões.

 

 

Atento às perspectivas do setor, o Grupo Ouro Fino começou, em 2001, a construir novas instalações — a Ouro Fino Saúde Animal Ltda — em Cravinhos, município paulista vizinho de Ribeirão Preto, onde foram investidos US$ 15 milhões. Mesmo sem atuar em todos os segmentos, a Ouro Fino ocupa a sétima posição no ranking do mercado nacional do setor de saúde animal. "Nossa meta agora é alavancar as exportações e entrar em outras especialidades, como a de biológicos", diz Fábio Lopes, sócio-diretor da unidade. A empresa, formada por capital 100% nacional, foi fundada em 1987, com o nome de Produtos Veterinários Ouro Fino Ltda, para fabricar e comercializar produtos veterinários para saúde animal. À comercialização e à fabricação de produtos, a empresa agregou a pesquisa e o desenvolvimento que, por sua vez, levou ao estabelecimento de parcerias com outros laboratórios privados e ainda universidades e institutos públicos de pesquisa, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Estadual Pau-lista, campus de Jaboticabal, e o Instituto Butantan. "É muito caro fazer tudo aqui", completa. A Ouro Fino recebe apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

PFIZER APOSTA EM BIOTECNOLOGIA E MERIAL EM PESQUISA DE VACINAS

Jorge Espanha, diretor da Divisão de Saúde Animal da empresa transnacional de origem norte-americana Pfizer, garante que a empresa é a que mais investe em P&D de novos medicamentos. "Em 2005, a Pfizer — incluindo saúde humana e animal — destinou mais de US$ 7,4 bilhões em todo o mundo para pesquisa, o que representa o maior investimento do setor", afirma. Apesar de o Brasil estar presente na lista dos 10 países que mais têm empresas de biotecnologia, o setor de saúde animal ainda pode se expandir, e muito. Espanha diz que a Pfizer, que se instalou no país em 1952, está atenta a essa tendência.

 

 

A empresa ainda não tem um centro de pesquisa no país, como tem, por exemplo, no Japão e na França. "Todos os estudos são feitos no exterior. Entretanto, a filial brasileira mantém parceria com entidades e universidades, que fazem estudos locais de medicamentos já desenvolvidos ou presentes no mercado", afirma Espanha. A Divisão de Saúde Animal da Pfizer no Brasil, como a Ouro Fino, mantém parcerias com universidades e entidades do segmento veterinário, entre elas: a Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Campus de Botucatu e a Embrapa Gado de Corte. "Na UFMG, a Divisão é parceira do Unileite, projeto de melhoria da qualidade do leite e controle da mastite. Com a Unesp, fazemos estudos na área da reprodução e, na Embrapa, temos vários trabalhos sobre o Programa 5-7-9 Pfizer, que é um protocolo de controle de verminoses em bovinos", completa Espanha.

P&D para a Pfizer é sinônimo de inovação radical. A aposta da empresa está na busca de soluções para necessidades e problemas ainda não resolvidos no campo veterinário. "Temos investido em pesquisa nas áreas de doenças infecciosas, obesidade, câncer, controle de parasitas, doenças cardiovasculares e problemas bucais. Os estudos incluem animais de grande porte e de estimação. Dados da Wood Mackenzie demonstram que, só em 2004, a Pfizer Saúde Animal investiu em todo o mundo cerca de US$ 285 milhões em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos veterinários", conta Espanha. Até o final deste ano, a Pfizer deve lançar dois novos medicamentos, um para suínos/aves, outro para bovinos.

Outra grande empresa da indústria farmacêutica, a franco-americana Merial, resultante da fusão da Merck Co. com a Sanofi-Aventis, acaba de lançar a vacina combinada Vaxxitek para o controle das doenças de Marek ("aids dos frangos") e Gumboro (um vírus que provoca tumores) em aves comerciais. Com uma única dose aplicada no ovo ou sob a pele de um animal no primeiro dia de vida, imuniza-se contra as duas doenças. A fábrica brasileira da Merial, em Paulínia, interior de São Paulo, foi escolhida pela empresa como plataforma de lançamento da nova vacina para um mercado que abrange a Ásia, a África, a América Latina e a Europa.

 

MERCADO EM EXPANSÃO

Cerca de 20 anos atrás, quando a Ouro Fino foi fundada, a indústria veterinária no Brasil era composta exclusivamente por empresas transnacionais. Em 2001, havia 304 empresas de biotecnologia no Brasil, mas somente 4% delas eram dedicados exclusivamente à fabricação de produtos para saúde animal. Outros 4% se dedicavam também à saúde vegetal e humana. "Hoje, o universo de empresas está na casa dos 320, sendo 120 as mais expressivas em termos de faturamento". De acordo com Lopes, o setor de animais de companhia é o que mais pode crescer — seja na produção de ração, seja na de medicamentos.

 

 

"A tendência de redução da natalidade ocasiona o aumento do número de animais de companhia", diz o diretor da Ouro Fino. O grupo que ele representa entrou nesse mercado desenvolvendo a linha de produtos Ouro Fino Pet, em 2000, e vem fabricando, com bom desempenho, antibióticos, antiinflamatórios, antiparasitários e dermatológicos. De 2003 a 2004, a empresa cresceu 17% e obteve um faturamento de R$ 8 milhões. Em 2004, registrou um crescimento de 32% com o lançamento e o reposicionamento de diversos produtos.

O grupo também investiu no desenvolvimento de uma linha para nutrição animal. Uma equipe da Ouro Fino em conjunto com pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Nutricional (Cenac) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais. O centro, voltado para cães e gatos, foi criado recentemente e abriga os requeridos testes de campo. Os primeiros produtos foram as rações Ouro Fino Super Premium e Ouro Fino High Premium. O Brasil, em 2005, foi o terceiro produtor mundial de rações, fabricando 43 milhões de toneladas contra 145 milhões dos Estados Unidos e 86 milhões da China, e o maior produtor da América Latina, onde é responsável por 48,7% do mercado.

 

IMPACTO DA CERTIFICAÇÃO

De acordo com Lopes, a fabricação dos medicamentos para combater doenças como essa constituem apenas um passo. "Pecuaristas e industriais do setor têm de se preocupar com todas as etapas da cadeia de produção, tendo em vista a rastreabilidade. Toda a cadeia deve estar preparada. Vacinas o Brasil sempre teve, mas às vezes o pecuarista não aplica. Ele recebe um certificado ao comprar o produto, e pode não o utilizar. Tem de haver uma maior conscientização da cadeia como um todo". As crescentes exigências de certificação no mercado internacional, segundo Espanha, são necessárias para garantir a segurança alimentar. Por exemplo, assegurando a comercialização de uma carne livre de resíduos ou leite com níveis aceitáveis de certas substâncias. "E isso envolve toda a cadeia, desde o laboratório que desenvolve o medicamento até o criador que usa esses produtos. Por isso, todos precisam ter uma atuação bastante precisa e responsável", diz Espanha.

A certificação de produtos e a preocupação com a segurança alimentar representam a outra face da intensa internacionalização da produção agropecuária brasileira, e se tornaram tão importantes e estratégicas quanto a quantidade e a qualidade para a comercialização de alimentos. Intensas negociações com dezenas de países compradores da carne nacional se seguiram, recentemente, a uma nova eclosão da febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Espanha lembra que há um impacto econômico associado às certificações, uma vez que se torna necessário um maior investimento em formulações e provas de resíduos em animais e no ambiente. "A Divisão de Saúde Animal da Pfizer mantém um programa de testes que atende as exigências dos órgãos regulatórios. A empresa tem certificado da comunidade européia — mais especificamente da Medicines and Healthcare Regulatory Agency (MHRA)—, da Food and Drug Adminis-tration (FDA), além de passar por auditorias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que aprovam os produtos". A Ouro Fino, por sua vez, está em processo de certificação para poder exportar para a Europa, os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia.

 

 

Em abril, foi realizada em Brasília a II Conferência Internacional sobre Rastreabilidade de Produtos Agro-pecuários, com o objetivo de proporcionar uma troca de experiências sobre sistemas de qualidade e marcos regulatórios em processos agropecuários e, conseqüentemente, promover ou fortalecer a inserção brasileira em mercados internacionais estratégicos, como o de alimentos, aliando qualidade com competitividade. O Brasil foi o segundo a adotar o sistema de rastreabilidade na cadeia pecuária, logo depois da União Européia, e trabalha no aperfeiçoamento e na implantação do Sistema Brasileiro de Identificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). Mais de 50 milhões de animais, equivalentes a um quarto do rebanho nacional, já foram cadastrados no banco de dados do Ministério da Agricultura, podendo ser abatidos e exportados dentro dos padrões internacionais.