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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.3 Campinas jul./ago. 2006

 

 

Projeto e concepção das obras são as prioridades inovativas do setor

 

 

por CAROLINA CANTARINO

 

 

Uma nova fronteira da inovação vem sendo explorada pelas grandes construtoras e empreendedoras brasileiras. O setor tende a privilegiar o investimento em novas tecnologias nos processos construtivos, porém, a agregação de valor aos empreendimentos e a competitividade das empresas dependem cada vez mais da incorporação de um novo valor ao produto final: a ênfase no projeto e na concepção das obras.

"A capacidade de influenciar no custo e no valor da obra é muito maior durante a sua concepção e detalhamento, diminuindo gradativamente no decorrer do processo de construção. Por isso, devemos voltar o foco da inovação para a primeira etapa: a gestão do projeto". A recomendação é de Hugo Marques da Rosa, presidente da Método Engenharia, uma das principais empresas do setor.

O projeto da obra tende a ser visto, pelas construtoras, como um custo e um tempo a serem minimizados. Muitas vezes é deixado em segundo plano, o que pode resultar em aumento de gastos durante a construção, quando erros de cálculo e riscos não previstos podem paralisar o andamento da obra, ou mesmo resultar na demolição e reconstrução de etapas, comprometendo prazos, orçamento e a própria relação com o cliente.

Nesse cenário, a estratégia da Método é se definir mais como uma gestora de projetos do que como uma executora de obras. O investimento da construtora na concepção de projetos pode ser observado na realização de ousados empreendimentos como o Hotel Unique, em São Paulo. O projeto arquitetônico de Ruy Ohtake e novas soluções de engenharia civil tornaram-se um importante diferencial na valorização do empreendimento.

 

 

Fundada em 1973, a Método investiu em inovação durante toda a sua trajetória. Num primeiro momento, focalizou a área de recursos humanos, visando a melhoria das condições e relações de trabalho nos canteiros de obras. Depois, voltou-se para as tecnologias de produção, introduzindo novos materiais e técnicas como a dry construction que substitui o uso da argamassa por acoplamentos à seco (como encaixes e soldagens de pré-fabricados). "Essas inovações trouxeram benefícios em produtividade e competitividade, mas foram rapidamente incorporadas pela concorrência", lembra Hugo Rosa.

Por conta disso, a empresa resolveu diferenciar-se, deslocando o foco da inovação para o desenvolvimento de um sistema próprio de gestão de projetos, privilegiando as relações entre seus profissionais, e a própria identidade da empresa, baseada em conceitos como o greenbuilding, que visa à construção de edificações ecologicamente sustentáveis. A idéia de linha de produção também foi abolida em nome da composição de equipes multidisciplinares (arquitetos, engenheiros, projetistas, fornecedores, investidores) que participam de todo o processo construtivo, desde sua concepção até a execução.

 

ATIVOS INATINGÍVEIS

"O primeiro passo para o setor é inovar em suas próprias crenças", considera Martin Paul Schwark, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, diretor superintendente da construtora Moura Schwark e presidente da Munte Construções Industrializadas. Para ele, além do aperfeiçoamento técnico, a inovação depende, cada vez mais, da valorização dos chamados ativos intangíveis, como a relação entre clientes e fornecedores, a qualidade e competência dos colaboradores e o compartilhamento de conhecimento entre a equipe durante todo o processo de construção.

 

 

Nessa linha, a Munte investe em sua reorganização interna através da adoção do Sistema Toyota de Produção, que valoriza a integração da pesquisa e desenvolvimento ao processo produtivo. A inovação não fica, assim, restrita ao departamento de P&D da empresa.

A Moura Schwark, por sua vez, aposta na gestão do conhecimento, promovendo fóruns de discussão sobre as inovações a serem introduzidas em seus projetos, e programas de treinamento. "Para que a inovação se torne uma prioridade nas empresas, é preciso investir na formação dos profissionais e na mudança da própria cultura do setor", avalia Martin Schwark que, destaca, ainda, a pulverização do setor (caracterizado por um número elevado de empresas pequenas) e a conjuntura econômica e política do país como fatores que explicariam o desinteresse da indústria da construção civil na inovação.

 

NOVA TECNOLOGIA EM OCUPAÇÃO

Na área da habitação popular, iniciativas inovativas também estão deslocando o foco da criação de materiais e processos produtivos para outras etapas envolvidas nos ciclos de vida dos empreendimentos, como a ocupação dos edifícios. A Companhia de Desenvol-vimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), através do Programa Qualihab, desenvolve um projeto-piloto num conjunto de edifícios no bairro paulistano da Mooca. A proposta é reduzir despesas através da medição individualizada e à distância do consumo de água, gás e eletricidade.

O projeto atende a reivindicações de mutuários da CDHU pela medição individualizada do consumo de água. Comumente, o fornecimento de água é medido por um único hidrômetro e as despesas são rateadas em partes iguais entre os moradores. "Com a medição individual, cada família paga pelo que consome, o que é mais justo e incentiva o uso mais responsável da água, diminuindo o desperdício", lembra Raphael Pileggi, secretário executivo do programa Qualihab.

Os hidrômetros foram instalados em caixas individualizadas dotadas com um dispositivo digital que envia pulsos elétricos proporcionais ao consumo de água. A novidade é que a medição de gás e de eletricidade também integram o sistema. Cada andar do edifício conta com esse dispositivo eletrônico que concentra as leituras de consumo e, através de tecnologia PLC (Power Line Communication), disponibilizada pela Eletropaulo, transmite as informações de todas as medições às concessionárias dos serviços.

"O sistema também propicia economia para as concessionárias pois reduz os custos de medição tradicional em que seu funcionário visita e lê cada medidor", explica Pileggi. A tecnologia PLC, ao incorporar sinais digitais à rede elétrica, também disponibiliza o acesso à internet. Uma sala comunitária com 16 computadores foi instalada no condomínio da Mooca, dando início a um programa de inclusão digital da CDHU que deverá ser estendido para outros 50 condomínios.