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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.3 Campinas jul./ago. 2006

 

 

Na trilha certa

 

 

por BRUNO BUYS

 

 

"Se mostrarmos dez planos diferentes de produção para dez empresários, e perguntarmos qual o seu preferido, os dez dirão que é o que gera o maior lucro. Se formos até as empresas desses mesmos empresários e perguntarmos aos engenheiros envolvidos diretamente na produção o que eles devem colocar na máquina naquele momento, todos dirão que é aquilo que melhor atende ao plano de produção".

Com essa provocação, Ricardo Sarmento Costa, engenheiro de produção e diretor de Trilha Desenvolvimento de Projetos, procura ilustrar para seus alunos uma situação comum em empresas: o planejamento de longo prazo não contempla as peculiaridades e imediatismos do curto e curtíssimo prazos no chão-de-fábrica. E as decisões de curto prazo, por sua vez, têm seu impacto no planejamento global.

A Trilha surgiu na incubadora de empresas do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), a partir da percepção da existência de uma lacuna de ferramentas para gestão de curto prazo nas empresas. De um lado, o setor comercial da empresa se esforça para aceitar mais pedidos de entrega de produtos, com a sua atenção voltada para a oportunidade. De outro, na produção, os profissionais estão preocupados em atender os pedidos, e cumprir os prazos, atentos à racionalidade do processo de produção. Dessa interação, nem sempre harmônica, surge a necessidade da gestão estratégica de curto prazo.

"É um problema combinatorial interessantíssimo, e para o qual ninguém tem uma resposta definitiva. Um problema que consome boa parte do esforço de pesquisa acadêmica nessa área e, curiosamente, nas empresas e fábricas, é relegado a segundo plano", lamenta Costa. A equipe de engenheiros de produção da Trilha desenvolve técnicas de gestão de curto prazo capazes de tomar as variáveis relevantes da produção e prever cenários de trabalho, de maneira a subsidiar as decisões de curto prazo do chão-de-fábrica.

Essas técnicas são implementadas por meio de softwares que a empresa desenvolve, depois de algum tempo de interação com a empresa cliente. É necessário conhecer a realidade local da fábrica, para que se possa desenvolver uma solução personalizada. "Enviamos nossos engenheiros de produção, que ficam em contato com os técnicos e com o cotidiano da fábrica até que tenhamos um entendimento profundo de seu funcionamento e dos desafios do dia-a-dia. Depois disso, podemos adaptar nossa tecnologia See-The-Future para o cliente", explica Costa.

No chão-de-fábrica, predomina uma cultura de reação. Com a rapidez do mundo moderno, as fábricas correm para cumprir prazos e evitar multas por atraso de entrega. O bom profissional de fábrica é aquele capaz de "apagar os incêndios" que surgem. O uso de softwares simuladores de gestão são, nesse contexto, uma mudança para uma cultura mais ativa, porque eles permitem simular o que vai acontecer no curto prazo, dadas as possibilidades imediatas.

Para não se chocar com essa cultura dos operadores, a Trilha procura deixar claro que o software produzido é fruto de uma parceria. "O gerente de produção da fábrica interagiu muito conosco antes de ver a solução pronta. Foi ele que nos indicou o que é relevante e o que não é, para que possamos personalizar o simulador. Quando chegamos ao produto final, ele percebe que existe boa parte da influência dele no processo como um todo. Desta forma, a aceitação é melhor", diz Costa.

 

DURA CONCORRÊNCIA

Costa gosta de referir-se à Trilha sempre como uma empresa de capital humano em engenharia de produção e não uma companhia de software. No entanto, o seu produto concorre com produtos de megaempresas, como a SAP e a Microsoft, detentoras de pacotes de automação de escritório e de gerenciamento tão populares e disseminados quanto a planilha Excel. O ponto em que a Trilha obtém uma vantagem é que os simuladores desenvolvidos pela empresa são adaptados a cada cliente, cobrindo profundamente os detalhes peculiares de cada fábrica. Uma megaempresa como a Microsoft busca gerar escala com um produto genérico, capaz de atender uma gama ampla de clientes, porém, sem cobrir as especificidades de cada um. É exatamente nessa lacuna que atua a empresa.

 

 

PIONEIRISMO DO INT

A Trilha conta com o apoio e a parceria do INT desde o desenvolvimento inicial dos conceitos da engenharia de produção que são a base dos simuladores See-The-Future, até hoje. Costa conta que em 1985, quando iniciava seu mestrado no Instituto, recebeu de seu orientador de tese, Eduardo Jardim, a seguinte recomendação: "Você vai começar o seu levantamento bibliográfico. Não comece lendo, não. Vá para uma fábrica, porque a fábrica é que é o laboratório da engenharia de produção, e não a academia. Tente ser útil lá, tente formular um problema interessante. Depois volte e faça uma leitura crítica da bibliografia". Para ele, essa atitude foi fundamental para o encaminhamento de sua carreira profissional, resultando no que é hoje a empresa.

Essa, segundo Teresa Barros — diretora e sócia-gerente da empresa — é uma das marcas fortes de Trilha, sua origem acadêmica. "O grupo tem uma forte origem na pesquisa acadêmica, no INT, e tem vontade de entender os problemas, de formular soluções. Essa é a maneira pela qual nos diferenciamos de uma empresa convencional de software e pela qual podemos oferecer um produto personalizado para cada cliente".

Teresa conta que o nome da empresa surgiu da idéia de "trilhar um caminho": "Levar o conhecimento gerado dentro de um instituto de pesquisa até quem pode extrair dele utilidade e benefícios era, e é ainda, um difícil caminho a ser trilhado. A imagem de uma trilha que podemos abrir e deixar para outros seguirem nos motivou muito. Poder vir a ser uma grande contribuição".

Desde 1998, quando foi fundada, a empresa tem conseguido implantar seus simuladores junto a clientes do porte da Honda, Siemens, Sony, Nokia e a Companhia Siderúrgica Nacional. O reconhecimento definitivo do esforço inovador da Trilha, porém, veio com os prêmios Master 2003, do IEPQ, da Anprotec, de melhor empresa graduada de 2005, e o 3º lugar no Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, também no ano passado. Além do desenvolvimento de simuladores, a Trilha tem atuado crescentemente nas áreas de treinamento e aperfeiçoamento de recursos humanos e consultoria.