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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.4 Campinas set./out. 2006

 

 

Ronald Martin Dauscha

 

Executivo faz balanço da participação da Anpei nas políticas de fomento à inovação

 

 

por PATRÍCIA MARIUZZO e SIMONE PALLONE

 

 

À FRENTE DA ASSOCIAÇÃO POR DOIS ANOS, EX-PRESIDENTE APONTA A NECESSIDADE DE ARTICULAÇÃO DAS EMPRESAS EM TORNO DA TEMÁTICA DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

À frente da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Empreen-dedorismo das Empresas Inovadoras (Anpei) por dois anos, o diretor de tecnologia corporativa da Siemens no Brasil, Ronald Martin Dauscha, passou o cargo para o cientista-chefe da Embraer Hugo Borelli, durante a conferência anual da associação, realizada em junho. Antes, porém, fez um balanço sobre as iniciativas adotadas no país com o objetivo de oferecer um arcabouço mais avançado de incentivos para que se consolide uma política e uma cultura inovativa no setor produtivo. Apresentando dados do sistema de inovação nacional, tais como o de gastos de 1% do PIB em P&D, e a pequena participação das empresas industriais em atividades inovativas — apenas 33%, segundo dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) de 2003 —, Dauscha lembrou de algumas ações tais como a criação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, a promulgação da Lei 11.196 (Lei do Bem), ainda não regulamentada, a regulamentação da Lei 10.973 (Lei de Inovação), o aumento do orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, o lançamento do Portal de Inovação, do MCT e do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), bem como a aprovação de novas linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES) e de novas ferramentas da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outras.

Ronald Dauscha destacou a atuação da Anpei em vários momentos desse processo, seja apresentando propostas ou participando de discussões na área, em nome dos associados ou por solicitação dos órgãos governamentais, textos para as leis e decretos, assim como para novos tipos de financiamento, sugerindo e instigando, ainda, a implantação de centros de inovação e modernização entre os empresários ligados à entidade.

 

 

Formado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Dauscha fez especialização em administração industrial na Universidade Federal do Paraná, MBA gerencial na Siemens e em finanças empresariais pelo Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ISAE). Trabalha há 20 anos na multinacional alemã, onde assumiu a diretoria de gestão corporativa de tecnologia em 2002. Integra, ainda, a diretoria dos conselhos da Certi, VDI, Finep, Uniemp e CPC/MCT.

Na última conferência da Anpei, realizada em junho, comentou-se em mais de uma apresentação que nos últimos anos foram criados vários mecanismos fiscais e de financiamento para incentivar a atividade inovativa no país. A seu ver, o que falta para haver uma aplicação eficiente desses instrumentos por parte do setor industrial?

Ronald Dauscha - Em minha opinião, existem pelo menos três pontos a serem melhor trabalhados para que se obtenha resultados mais satisfatórios. Um deles seria aumentar a quantidade desses incentivos e o volume de cada um, pois hoje temos, por exemplo, contingenciamentos o que acaba por limitar o alcance dos recursos. Deve haver, também, maior direcionamento desses benefícios para as empresas pois, hoje, a maioria deles ainda é alocada nas instituições de pesquisa, as chamadas ICTs. E, finalmente, se buscar maior eficácia e abrangência em casos como alguns incentivos novos — por exemplo, a Lei do Bem — que até agora tem atingido mais grandes empresas.

Os dados apresentados sobre a Pintec mostraram que houve pouco avanço e que, das empresas que não inovam, 51% não o fazem porque não vêem necessidade. Nesse sentido, qual pode ser o papel do governo, das agências de fomento e de entidades como a Anpei, o Sebrae, a CNI para tentar convencer essas empresas a inovarem?

Dauscha - Do lado do governo, estimulando o mercado e incentivando fortemente a inovação tecnológica nas empresas, oferecendo fomentos atrativos a P&D; da parte das agências de fomento, seu papel é viabilizar e operacionalizar esses benefícios nas empresas; e, no caso das entidades, trabalhar em conjunto na conscientização da importância e na capacitação em inovação tecnológica das empresas.

 

 

A conferência contou com a apresentação de duas empresas estratégicas no país — Petrobras e Embraer — que são talvez os principais exemplos de inovadoras brasileiras, ambas viabilizadas com grande injeção de recursos públicos. A que o senhor atribui o sucesso alcançado por elas?

Dauscha - A Embraer definiu claramente seu nicho de mercado, e aliou a isto uma estratégia de inovação, entre outras, bem focada nos objetivos que desejava alcançar. A Petrobras conseguiu, igualmente através de investimentos consistentes em inovação, em tecnologias de exploração em águas profundas, conquistar seu crescimento.

O que o senhor considera mais eficiente como política de fomento à inovação: aumento da subvenção que eleve o número de empresas inovadoras, ou foco em setores estratégicos?

Dauscha - Pessoalmente, acho que deve haver um misto das duas políticas: defendo fomentos em escala, independentes de setor, com algumas inserções prioritárias em áreas onde o Brasil tem vocação ou potencial para se tornar um diferencial em nível internacional.

Qual o balanço das conquistas e dificuldades, que o senhor faz, dos dois últimos anos em que esteve no comando da Anpei?

Dauscha - Se fosse resumir em poucas palavras, diria que foram dois anos em que participamos muito na criação de novos instrumentos de P&D junto ao governo, não presenciamos, no entanto, nenhuma evolução das atividades inovativas e de P&D nas empresas em geral e acompanhamos, infelizmente, pouca ou nenhuma melhoria em temas importantes como a situação da propriedade intelectual no país e o contingenciamento de verbas de incentivo à inovação. Por outro lado, foi um período em que se começou a falar muito mais em inovação nas empresas e presenciamos um sem número de eventos, associações e grupos discutindo esse tema. O que é muito bom.

Outra dificuldade que encontramos foi o de nos relacionarmos, no governo, com vários parceiros e interfaces na temática de política industrial e tecnológica, porém todos com baixa institucionalidade para tratar do tema (basta ver quantos atores participaram e alteraram a Lei de Inovação e a Lei do Bem). Do ponto de vista das empresas, também nos deparamos com uma baixa articulação e unidade em torno da temática da inovação tecnológica. Em minha avaliação, considero que precisamos urgentemente de um sistema de representação do setor produtivo.

Na última assembléia dos associados da Anpei decidiu-se por criar comitês temáticos. Como devem funcionar esses comitês?

Dauscha - Esses comitês reunir-se-ão sistematicamente para tratar de temas importantes, densos e que não podem esperar as diversas conferências e encontros para serem discutidos, como compras governamentais, atratividades de centros de P&D para o Brasil, entre outros.

 

 

A inovação em gestão tem sido um recurso para aumentar a competitividade das empresas. Esta tem sido uma prática comum às empresas ligadas à Anpei?

Dauscha - A maioria das empresas associadas à Anpei têm um perfil bastante inovador, possui áreas específicas de pesquisa, desenvolvimento ou engenharia, e fazem uso de fomentos públicos à inovação. Enxergam em sua gestão de inovação tecnológica um instrumento claro de aumento de competitividade.

A Anpei deve apresentar em breve os resultados da última pesquisa, feita em parceria com a Fundação Seade, sobre as atividades de P&D das indústrias brasileiras, a exemplo do que faz o IBGE com a Pintec. Qual foi o objetivo da pesquisa e quais os principais resultados?

Dauscha - O objetivo foi oferecer uma leitura mais detalhada sobre a P&D no país (mais restrito que inovação tecnológica), os resultados em detalhe ainda não podem ser disponibilizados, mas o principal deles é que as empresas ainda realizam muito pouco P&D no país e fazem pouco uso de fomentos públicos.

O senhor poderia detalhar por que as empresas ainda têm essa atitude? O que falta para elas recorrerem a esses fomentos?

Dauscha - Acredito que o motivo para esta baixa atratividade em realizar P&D esteja na percepção das empresas dos altos riscos econômicos e altos custos da inovação, falta de estímulos à P&D e pouco conhecimento sobre todos os instrumentos públicos existentes.

Em que medida esses indicadores têm contribuído para a adoção de políticas de fomento à inovação?

Dauscha - As bases de dados da Anpei sempre foram utilizadas como base de estudos e definição de políticas públicas por parte de órgãos governamentais.

Em que linhas de ação ou programas governamentais a Anpei pode ser mais produtiva e ter ações de interferência mais efetiva?

Dauscha - A Anpei continuará a aumentar a oferta de serviços de apoio à P&D aos seus associados, deve manter as parcerias com os órgãos governamentais no desenvolvimento de novos instrumentos de incentivo à inovação para empresas e, junto com a sociedade organizada, trabalhar insistentemente na conscientização geral de que a inovação tecnológica se faz nas empresas e que, como na maioria dos países que tiveram um desenvolvimento econômico acentuado, os fomentos e incentivos à inovação devem ser direcionados às empresas.