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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.4 Campinas set./out. 2006

 

 

Programa fomenta desenvolvimento de inovação dentro da empresa

 

 

por GABRIEL ATTUY

 

 

Criado em 1993 para estimular parcerias de desenvolvimento tecnológico entre empresas e instituições de pesquisa e ensino, o Programa Parceria para Inovação Tecnológica (Pite) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) consolidou um novo modelo para o avanço da tecnologia industrial no Brasil.

Segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, o Pite foi paradigmático porque introduziu a idéia de custos compartilhados entre empresa e instituto de pesquisa. "Até então, era mais freqüente no Brasil a idéia de transferência de tecnologia. A universidade realizaria a pesquisa e transferiria a tecnologia para a empresa. Esta é uma estratégia que não se sustenta como base para uma política de desenvolvimento tecnológico. O Pite introduziu a idéia de que o projeto de pesquisa seria elaborado de maneira compartilhada entre a empresa, a instituição de pesquisa e a Fapesp, e com financiamento da empresa e da Fapesp", comenta Brito.

Desde a sua criação o Pite já apoiou 87 projetos que contaram com aportes de R$ 55 milhões e US$ 12 milhões (investidos em importação de insumos e equipamentos). Entre as 61 empresas que participaram do programa estão as maiores companhias do Brasil como Petrobras, Embraer, Companhia Siderúr-gica Nacional (CSN), Nestlé e Rhodia.

 

 

Entre alguns projetos de destaque, Brito cita o desenvolvido entre a Petrobras e a Escola Politécnica da USP, que desenvolveu um sistema de otimização de refinarias, que trouxe benefícios à empresa estimados em US$ 100 milhões de dólares anuais e um que envolveu a Itautec-Philco e o Instituto de Ciências Matemáticas da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, na criação de um corretor ortográfico em português que mais tarde foi licenciado para a Microsoft. Um projeto pioneiro foi o do professor Fernando Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a Serrana, desenvolvendo pigmentos para tintas usando nanotecnologia, que, em 2005, resultou no mais importante licenciamento de patente de universidade para empresa no país.

A expectativa do diretor científico é que o Pite continue a crescer, principalmente por conta do progressivo reconhecimento das empresas, da necessidade de desenvolver pesquisas e tecnologia internamente. "Um dos principais desafios para o programa é termos mais cientistas trabalhando em P&D em empresas, o que facilitará a comunicação com o cientista acadêmico e alargará o horizonte de objetivos das empresas em termos de uso da boa ciência".

 

PICTA

Em 2000, por conta da demanda da Embraer para desenvolvimento de projetos específicos, foi criada uma ramificação do Pite, o Programa Parceria para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespaciais (Picta). Entre os quatro projetos já realizados nessa área está o que promoveu, por iniciativa da Embraer, o desenvolvimento de um complexo software de simulação utilizado no desenvolvimento e testes de aeronaves e processos para a utilização dessas ferramentas. Liderado por João Luiz Filgueiras de Azevedo do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), ligado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos (SP), e pelo engenheiro Guilher-me Lara de Oliveira, da Embraer, o projeto foi vencedor do Prêmio CNI 2005 na categoria de parceria para inovação tecnológica, promovido pela Confedera-ção Nacional da Indústria (CNI).

Com aportes de cerca de R$ 8 milhões, o projeto foi concluído com sucesso em abril deste ano. A ação desenvolveu um bem-sucedido software de simulação, utilizado pela Embraer para realizar testes e projetar aeronaves. Anteriormente a empresa tinha acesso principalmente a ferramentas comerciais e buscou desenvolver um sistema que atendesse às suas demandas específicas. "O projeto atuou na área de mecânica dos fluidos computacional (CFD - Computational Fluid Dynamics, em inglês) para desenvolver ferramentas e processos em CFD para aplicações de interesse da Embraer. Não buscávamos usar apenas as ferramentas desenvolvidas pelo projeto, mas também a integração com ferramentas de CFD comerciais para criar processos em aplicações de importância estratégica para a empresa", comenta Azevedo.

 

 

Entre as inovações resultantes do projeto está um software que calcula a formação de gelo nas aeronaves, o que auxilia no desenvolvimento de proteção contra gelo, fundamental para a certificação de novos aviões. Outra, foi desenvolvida para a geração automática de malhas computacionais. Para gerar uma nova malha um engenheiro pode levar até duas semanas, mas a ferramenta desenvolvida permite — ao gerar malhas com apenas pequenas modificações em relação a aeronaves já existentes — que o processo seja realizado a partir de poucos parâmetros, reduzindo o tempo para algumas horas. "Isso aumenta a competitividade porque se ganha tempo. E na área aeroespacial o tempo é tudo. Quem chegar primeiro ganha o mercado", diz Azevedo.

Além de conferir maior competitividade e rapidez à Embraer no tocante aos testes de aeronaves, com ferramentas desenvolvidas na companhia, e das quais seus concorrentes não dispõem, o projeto atingiu outro de seus objetivos: o desenvolvimento de mão-de-obra qualificada. "Pretendíamos que o projeto atuasse como uma forma de capacitação de mão-de-obra, já que o nível de treinamento de engenheiros ou cientistas da computação não é suficiente para as necessidades da Embraer", afirma Azevedo. A questão de tecnologia de hardware também foi atendida pelo projeto, que introduziu no setor de informática da Embraer a utilização de clusters de microcomputadores, em substituição a processadores maiores e mais caros.

Realizado em duas fases, entre 2002 a 2006, o projeto contou com a participação de cerca de 60 pessoas na primeira etapa e 70 na segunda, excluindo o pessoal da Embraer. Além do IAE/CTA, participaram do projeto pesquisadores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) — também ligado ao CTA —, da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP de São Carlos, além de pessoal do Departamento de Mecânica da Escola Politécnica da USP, e das universidades federais de Uberlândia e Santa Catarina.

 

 

PROGRAMA

As bases para as diretrizes do Pite evoluíram de uma experiência em projetos de pesquisa iniciada nos anos 80 no Brasil, o Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico (PADCT), financiado pelo Banco Mundial e que buscava integração entre institutos de pesquisa e empresas.

Até o momento, os recursos do Pite foram destinados principalmente a projetos nas diversas áreas da engenharia, ciências biológicas e agrárias. Esses três grupos foram responsáveis por 67 dos 87 projetos aprovados. Entre as instituições que participaram do programa, a USP, a Unicamp e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) são os que contam com mais participações. "Há hoje no Brasil uma base acadêmica de pesquisa muito competitiva internacionalmente e com capacidade para colaborar com cientistas de empresas no desenvolvimento de projetos. A principal limitação para ampliar a quantidade de projetos é o pequeno número de cientistas que trabalham em empresas, situação ocasionada pelo fato de que as condições atuais da economia desfavorecem o investimento em pesquisa e desenvolvimento", comenta Brito.