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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.4 Campinas set./out. 2006

 

 

Metrologia química: nova fronteira na área de alimentos e bebidas

 

 

por CAROLINA CANTARINO

 

 

Associações de produtores e cooperativas agrícolas da União Européia (UE) têm solicitado a proibição da importação de uma série produtos alimentares brasileiros. A alegação é a falta padrão de qualidade internacional. Em março deste ano, a UE suspendeu a importação do mel brasileiro alegando a presença de substâncias contaminantes proibidas.

Diante da competitividade e dos embates políticos em torno da maior abertura dos mercados agrícolas e do fim dos subsídios dados pelos países ricos aos seus agricultores, o rigor das regras e dos padrões de qualidade e segurança para produtos tornou-se um fator relevante na arena do comércio internacional. É nesse contexto que a metrologia se impõe, tornando-se uma área de pesquisa estratégica na medida em que, para exportar, os produtores brasileiros precisam respeitar normas de qualidade internacionais, através da certificação de seus produtos por laboratórios metrológicos de credibilidade reconhecida.

Instituições como o Instituto Nacio-nal de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) vêm investindo em novos programas de certificação, principalmente na área de metrologia química relacionada a produtos importantes para a balança comercial brasileira — como o álcool combustível — e também para a conquista de novos mercados — no segmento de bebidas alcoólicas, como a cachaça. "O Inmetro está ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e nosso foco, portanto, é desenvolver apenas os padrões de medição que sejam estratégicos para o país", lembra Vanderléa de Souza, gerente da divisão de metrologia química do Inmetro.

 

 

Nessa direção, foi lançado em abril passado, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um edital para seleção de projetos para o Programa de Capacitação Científica e Tecnológica do Inmetro (Prometro), de apoio à pesquisa tecnológica e de inovação em metrologia científica e industrial, com investimentos de R$ 7,6 milhões.

 

ÁREA NOVA E EM EXPANSÃO

A divisão de metrologia química do Inmetro — que integra a diretoria de metrologia científica e industrial — foi criada em 2000. A preocupação com a confiabilidade das medições químicas, no mundo todo, é bastante recente e a química é uma área da metrologia que ainda está em expansão. Para se ter uma idéia, o Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) — que reúne todos os institutos nacionais de metrologia — foi criado em 1875. O Comitê Consultivo de Quantidade da Matéria (CCQM) — relativo à metrologia química e que integra o BIPM — foi criado somente em 1993.

Os padrões de medição em metrologia química são chamados de materiais de referência: soluções que são utilizadas para calibrar equipamentos (como os cromatógrafos) capazes de detectar a substância que se quer medir num determinado produto. Os laboratórios de metrologia química do Inmetro pesquisam e desenvolvem materiais de referência a serem utilizados por outros laboratórios em suas análises. Além disso, o instituto realiza a implantação de padrões primários: aqueles — como os métodos de medição de Ph e de condutividade — que possuem a mais alta qualidade metrológica e não precisam ser comparados a nenhum outro padrão.

O primeiro material de referência desenvolvido pela divisão de metrologia química do Inmetro foi a solução de etanol em água utilizada para calibrar os etilômetros (popularmente conhecidos como bafômetros). "O Brasil importava essa solução de etanol em água que não tinha confiabilidade nenhuma. Qualquer um poderia contestar a medição. Agora, com a calibração a partir de um material de referência produzido pelo Inmetro, existe garantia na qualidade da medição", lembra Vanderléa de Souza.

A garantia e a confiabilidade dos materiais de referência produzidos pelo Inmetro são decorrência do trabalho de intercomparações com outros institutos nacionais de metrologia que constituem, assim, uma cadeia de rastreabilidade. A partir de uma série de regulamentações e normas e das comparações entre os laboratórios, a cadeia permite rastrear a procedência do material, garantindo-se, assim, sua qualidade. O Inmetro, portanto, é rastreado internacionalmente e faz parte do Sistema Internacional de Unidades (SI).

 

 

No Brasil, o Inmetro ocupa o topo da hierarquia metrológica. Ou seja, é ele quem pesquisa e desenvolve materiais de referência, certificados para medições a serem feitas por outros laboratórios, públicos ou privados. Esses laboratórios também podem desenvolver materiais de referências secundários, respeitando-se, assim, a chamada cadeia de rastreabilidade. Na divisão de metrologia química, o Inmetro conta com cinco laboratórios localizados no Parque Tecnológico de Xerém, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

 

CHECAGEM DE QUALIDADE EM CADEIA

Em junho de 2005, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou uma instrução normativa que estabelece limites para os contaminantes presentes na cachaça, tendo em vista a legislação para bebidas destiladas de países como Canadá e Estados Unidos.

A partir de uma solicitação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, coube ao Inmetro o desenvolvimento de materiais de referência para o cobre, arsênio e chumbo, os três contaminantes inorgânicos presentes na instrução normativa. Esses materiais de referência certificados pelo Inmetro estão sendo utilizados por outros laboratórios que fazem o monitoramento da qualidade da cachaça e a expectativa é a de que a exportação da bebida aumente: o Brasil produz cerca de 1 bilhão e meio de litros de cachaça por ano, mas apenas 1% dessa produção é exportada, segundo dados do ministério.

"Ainda estamos certificando outros parâmetros para a cachaça e trabalhando, agora, com materiais de referência para os contaminantes orgânicos", lembra Vanderléa de Souza. Segundo a engenheira química, a cachaça constitui uma mistura de mais de 200 componentes químicos. Dentre esses, materiais de referência serão desenvolvidos apenas para os contaminantes apontados pela instrução normativa do Mapa: "Não estamos preocupados com o que cachaça deve ter mas com o que ela não pode conter, porque senão ela será barrada quando for exportada".

 

NORMAS DA CACHAÇA

Primeiro laboratório acreditado pelo Inmetro na área de alimentos, o Labtox integra o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) e utiliza materiais de referências certificados pelo Inmetro para a medição de resíduos de agrotóxicos em alimentos. "Para atender às exigências do mercado externo, percebemos a necessidade de sermos acreditados por um laboratório reconhecido internacionalmente e, por isso, solicitamos uma auditoria do Inmetro em 2002", conta Adélia Araújo, coordenadora do laboratório que também é acreditado pelo Ministério da Agricultura e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Labtox se especializou, a partir de 1998, na área de alimentos, a partir de uma demanda do próprio setor produtivo: os exportadores de mangas e uvas produzidas no Vale do Rio São Francisco. Depois disso, o laboratório estendeu suas análises para outras regiões do país, trabalhando também com outras frutas, especialmente mamão e melão. "Cerca de 85% das frutas exportadas entram pelo porto de Roterdam. Adotamos, por isso, uma metodologia holandesa, bastante aceita pela União Européia", lembra Araújo. Os serviços de análise oferecidos pelo laboratório contam com um sistema informatizado: os clientes enviam suas amostras e os resultados das análises são disponibilizados na internet, podendo ser acessadas pelo próprio importador. O Labtox também realiza análises e medições para produtores de mel, camarão e cachaça.