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Inovação Uniemp
versão impressa ISSN 1808-2394
Inovação Uniemp v.2 n.4 Campinas set./out. 2006
Recursos humanos em P&D
SILVIA ANGÉLICA DOMINGUES e ANDRÉ FURTADO
No âmbito da proposta de construção do Índice Brasil de Inovação (IBI), este artigo tem por objetivo discutir a distribuição dos recursos humanos em P&D nos setores da indústria de transformação e enfocar o indicador de recursos humanos (IRH), um componente do IBI, considerando a importância do emprego de mão-de-obra altamente qualificada para o processo de inovação.
Como já foi abordado nos textos anteriores, o IBI é composto por dois conjuntos de indicadores. Um conjunto mede os esforços ou insumos para inovar e o outro, os resultados ou produtos deste processo. O indicador de resultado é auferido a partir dos dados de patentes (concedidas ou depositadas) e das informações de impacto das inovações de produto sobre a receita líquida de vendas das empresas. Já o indicador de esforço é medido pelo dispêndio em atividades inovativas (P&D interna e externa, aquisição de máquinas e equipamentos, licenças, royalties, etc.) e pelo recurso humano mobilizado para as atividades de P&D. Assim, os indicadores de esforço ou insumo para a inovação focalizam, entre outros aspectos, os esforços realizados pelas empresas em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A categoria de recursos humanos em ciência e tecnologia constitui o núcleo do Manual de Canberra, considera tanto o lado educacional quanto o ocupacional, e inclui "as pessoas que completaram o ensino pós-secundário ou que estejam trabalhando em uma ocupação associada à ciência e tecnologia, ainda que não tenham completado aquele nível de ensino". (OCDE, 1995). Com base nisso, os recursos humanos destinados à P&D podem ser subdivididos em três categorias: cientistas e engenheiros, técnicos e pessoal de apoio. No questionário da Pesquisa Industrial da Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, principal fonte de dados deste índice, também se expressa uma divisão de acordo com o nível de qualificação: técnicos de nível superior (doutores, mestres e graduados), técnicos de nível médio e outros de suporte. O tempo de dedicação das pessoas às atividades de P&D também representa uma medida de contabilização de recursos humanos. O indicador de recursos humanos (IRH) que compõe o IBI mede, então, a qualificação do pessoal de nível superior alocado pela empresa para a atividade de P&D.
Em números absolutos, os setores da indústria de transformação que mais empregam doutores (tabela 1) são: o químico, o de produção e refino de petróleo e o de máquinas e equipamentos para informática. Esse indicador revela que, na indústria brasileira, existe uma concentração em termos absolutos dos recursos humanos mais qualificados em setores de média intensidade tecnológica, fato este coerente com a maior vocação dessa indústria para setores mais maduros tecnologicamente.
Para fins de medição do IRH, o número de pessoal de nível superior mobilizado em P&D é normalizado pelo pessoal ocupado total de cada setor e ponderado de acordo com o nível de formação, de forma que o termo correspondente aos doutores, tem um peso maior, o que corresponde aos mestres um peso intermediário e o que corresponde aos graduados, o menor peso. Para formar o IRH, a soma dos recursos humanos relativos alocados em tempo integral à P&D, ponderada por nível de qualificação de cada empresa, é depois normalizada em relação à média setorial ponderada a dois dígitos. Com isso, objetiva-se destacar as empresas com maiores e mais intensos esforços para inovar em relação ao seu respectivo setor, o que também se reflete pela melhor qualificação do pessoal mobilizado em P&D.
Na Tabela 2, os setores a dois dígitos estão ordenados de acordo com o seu respectivo componente do IRH. Os setores considerados de alta e média-alta intensidade tecnológica são os destaques em termos de maior média ponderada setorial, porém nem sempre. Assim, o setor fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática apresenta uma participação de doutores, mestres e graduados bem superior aos demais, o que se reflete em sua média setorial ponderada que é quase duas vezes superior ao segundo colocado. Essa diferença se justifica por este ser um setor de alta tecnologia, que é, também, objeto de uma política federal de incentivos ao desenvolvimento tecnológico e inovativo.
Nem sempre os setores com a melhor qualificação de pessoal ocupado em P&D correspondem aos setores com maior intensidade de gastos nesta atividade. O setor fabricação de outros equipamentos de transporte, o mais intensivo em P&D, com dispêndios da ordem de 4% de sua receita líquida de vendas, é o 2º setor na média ponderada, sendo o 5º com maior intensidade de mestres em P&D e o 9º em doutores. O setor de montagem de veículos automotores, embora seja o 3º em intensidade de P&D, posiciona-se apenas em 7º lugar na média ponderada de recursos humanos. Causa também surpresa, o setor de fumo, normalmente associado ao setor de alimentos e que é considerado como sendo de baixa intensidade tecnológica, estar posicionado no 4º lugar em termos da média ponderada e em 2º lugar para a intensidade de doutores.
Esses dados revelam que o IRH mede um aspecto complementar do esforço tecnológico das empresas que não necessariamente varia na mesma direção que a intensidade de P&D e, subseqüentemente, ao IAI (indicador de atividades inovativas) que mede o esforço através do dispêndio em atividades inovativas em relação à receita líquida.
Sílvia Angélica Domingues e André Furtado são pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OECD- Organization for Economic Co-Operation and Development. The measurement of scientific and technological activities: manual on the measurement of human resources devoted to S&T - Canberra Manual. Paris, 1995.
FERREIRA, S. P. (coord.) Recursos Humanos disponíveis em Ciência e Tecnologia in LANDI, F. R. (coord.) Indicadores de ciência, tecnologia e inovação em São Paulo 2004. São Paulo: Fapesp, 2005.