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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.4 Campinas Sept./Oct. 2006

 

 

Empresa patrocina experiência de voluntariado internacional

 

 

por PATRÍCIA MARIUZZO

 

 

Eduardo Barroso é engenheiro do Centro Tecnológico da Lafarge na América Latina. Seu trabalho exige que ele percorra fábricas de cimento em lugares como México, Venezuela e Antilhas para resolver questões operacionais e tecnológicas. Sua experiência internacional fez diferença para o grupo de cinco voluntários da Lafarge que viajaram para Banda Aceh, província mais afetada pelo tsunami que devastou a Indonésia e outros países como Tailândia, Índia e Sri Lanka em dezembro de 2004. Foram quase 40 horas de viagem para, literalmente, colocar a mão na massa ajudando a reconstruir casas para as vítimas da catástrofe. O projeto da empresa é entregar, até setembro, 274 casas à prova de terremoto, que deverão abrigar 300 famílias. Cada casa custa US$ 10 mil, e estão sendo construídas em regime de mutirão pelos funcionários da cimenteira.

No dia seguinte ao tsunami, a Lafarge criou um fundo e organizou uma rede mundial de ajuda nos 75 países em que está instalada. Como os funcionários se mostraram muito motivados a ajudar, a empresa decidiu oferecer a oportunidade deles conhecerem de perto a realidade da província, participando diretamente da construção de casas antiterremoto. "Para o Grupo Lafarge a diversidade cultural é uma fonte de riqueza, e os funcionários só têm a ganhar, tanto no aspecto pessoal quanto profissional, com tais experiências fora dos países onde atuam", afirma Clóvis Correa, da assessoria de comunicação do grupo.

 

 

A unidade da Lafarge na província de Banda Aceh, na Indonésia, teve 75% das instalações destruídas pela onda gigante e 190 funcionários que estavam trabalhando na hora da tragédia morreram ou desapareceram, além da perda da casa de 326 famílias. A fábrica só volta a operar em julho de 2007. Como os funcionários ficaram impossibilitados de trabalhar, parte deles tem sido treinada como operários da construção civil e recebido ajuda de grupos internacionais como o dos brasileiros.

 

A EQUIPE BRASILEIRA DE VOLUNTÁRIOS

A intenção original da Lafarge era enviar 15 voluntários que seriam sorteados entre os 80 mil funcionários da empresa no mundo. No entanto, no Brasil, o número de inscritos surpreendeu os organizadores do projeto: 65 pessoas se inscreveram no programa. Diante disso, resolveu-se aumentar uma das frentes de trabalho e criar um grupo só de brasileiros.

Do Brasil, partiram cinco voluntários no dia 23 de março; chegaram a Jacarta 36 horas depois e de lá foram mais quatro horas até Banda Aceh. "A alegria de ser um dos escolhidos foi substituída por um grande impacto ao encontrar destruição por toda parte, mesmo depois de mais de 18 meses do desastre", conta o engenheiro Eduardo Barroso. Quem percorre hoje Banda Aceh ainda encontra sinais desconcertantes da tragédia, como barcos nas ruas, a quilômetros do oceano. A infra-estrutura se mantém precária, com ruas e estradas intransitáveis em vários pontos e falta de água potável, acrescenta.

Ainda é grande o número de pessoas vivendo em abrigos à espera de uma casa. Segundo a agência que lidera o processo de reconstrução no arquipélago, cerca de 50 mil pessoas estão instaladas em barracões montados emergencialmente para receber desabrigados. Outras 67 mil vivem em tendas. Foram construídas até agora 16 mil casas, número insuficiente para atender a todos que ficaram sem ter onde morar.

 

CASAS ANTITERREMOTO

Diferente da grande maioria das edificações brasileiras, para a construção das casas antiterremoto em Aceh, a Lafarge utiliza uma tecnologia francesa em que a fundação é apoiada sobre uma base graduada, com material de medidas específicas. Por baixo, são acondicionados 30 centímetros de pedra calcária, dispostas manualmente uma a uma para fechar os vazios. Sobre esta camada, são colocados 10 centímetros de cascalho, cinco de areia e, para completar, no mínimo, 3 centímetros de pó de pedra calcária. "É uma forma de estabilizar a construção, minimizando a transferência das vibrações do solo para a estrutura da casa, em caso de terremoto", detalha o assistente técnico da empresa, Eduardo Junqueira Augusto, que é outro dos voluntários escolhidos. "É importante ressaltar que, para assegurar a estrutura reforçada das casas — que medem 36 m² — o projeto prevê uma grande quantidade de pilares (a cada 3 metros x 2 metros), um padrão não usual para casas deste tamanho", acrescenta.

 

 

Outra característica inovadora nesse tipo de obra é o concreto utilizado na proporção de um volume de cimento para dois de areia e três de brita. Essa composição visa oferecer uma resistência mínima à compressão de 18MPa (unidade de resistência de compressão da construção civil), o que garante a obtenção de um concreto de alta resistência em tal empreendimento. Uma construção similar a essa, em São Paulo, por exemplo, pode utilizar como referência de projeto 10 MPa. A rigidez das casas é obtida também pela forma como são dispostas as barras de ferro nas fundações, pilares e sapatas para que o esforço estrutural seja distribuído uniformemente em toda a casa. "Em caso de tremores de terra, todas as paredes da casa sofrerão a mesma carga de apoio e, caso haja um desnível no terreno, a estrutura impedirá que a casa, ou parte dela, venha a ruir", explica Augusto.

De volta ao Brasil, em abril passado, havia muitas histórias para contar. "A experiência em Banda Aceh foi única. A forma como as pessoas reagem à tragédia é algo comovente", conta Manoelina Henriques, especialista em gestão de pessoas, única mulher no grupo de voluntários. "O tsunami aconteceu, mas a vida continua com toda força e vigor. Não há lamentações, há sim, um espírito de união e ajuda mútua e desapego às coisas materiais". Eduardo Barroso acrescenta: "pensei que encontraria tristeza e lamento por todos os lados, mas o trabalho na vila permitiu verificar como a fé pode superar um desastre de tamanha proporção. As pessoas foram capazes de dividir o pouco que lhes restou e, em momento algum, se queixaram das dificuldades. Só tenho a agradecer a lição que aprendi. Terima kasih!", conclui ele, usando a palavra que aprendeu na língua local, o bahasa, que quer dizer obrigado.