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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.2 no.5 Campinas Nov./Dec. 2006

 

 

Dificuldades e atrativos presentes na exportação

 

 

por THIAGO ROMERO

 

 

CÂMBIO INSTÁVEL, EXCESSO DE BUROCRACIA E DIFICULDADES LOGÍSTICAS SÃO AS PRINCIPAIS BARREIRAS NA CONQUISTA DO MERCADO EXTERNO

Empresas de pequeno porte têm papel fundamental na economia brasileira, seja pela contribuição significativa no Produto Interno Bruto (PIB), na geração de novos empregos ou no preenchimento de lacunas de mercado deixadas pelas grandes empresas. Mas, quando a questão é comércio exterior, micro e pequenas empresas (MPE) têm baixa participação do ponto de vista financeiro: apesar de sete mil MPE's brasileiras, aproximadamente, exportarem seus produtos e processos, de um total de 11,2 mil companhias exportadoras em todo o país, elas detêm apenas 2,4% do total de recursos movimentados em exportações, que foi de US$ 118 bilhões em 2005, considerando também as médias e grandes empresas. Em países desenvolvidos, a participação das MPE's chega a mais de 40% do volume total de recursos exportados.

O principal entrave que explica essa baixa participação é a política cambial brasileira, afirma o consultor em administração de empresas, Fernando Martinson Ruiz, que defendeu, recentemente, dissertação de mestrado sobre o tema, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). "Muitas vezes o problema não são as taxas desfavoráveis, mas a instabilidade das cotações e do mercado, que dificulta ao exportador traçar suas estratégias no longo prazo", explica.

 

 

Excesso de burocracia aduaneira e dificuldades logísticas para o transporte de mercadorias, incluindo deficiências em portos, estradas e aeroportos, vêm em seguida. A falta de políticas governamentais de incentivo à exportação e a dificuldade de obtenção de crédito foram o quarto e o quinto obstáculos apontados como de maior importância. "O Brasil possui cerca de 5 milhões de empresas em atividade, sendo que mais de 90% são micro e pequenas, exportadoras ou não", garante Ruiz. "Apesar desse cenário refletir em um grande número de micro e pequenas empresas exportadoras, infelizmente o volume de recursos exportados é irrisório perto das grandes companhias nacionais", ressalta.

Para o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), porém, a baixa participação financeira das MPE's não é reflexo da quantidade de produtos exportados ou de preços baratos ou caros. "O grande problema é o valor médio exportado por cada firma, que é muito baixo. Isto porque, na maioria dos casos, as firmas não se mantêm muito tempo na exportação e, portanto, não conseguem aumentar de forma significativa os volumes de recursos exportados", explica Ribeiro, responsável pela elaboração do boletim "Desempenho Exportador das Micro e Pequenas Empresas Industriais Brasileiras", publicado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

 

 

Ele aponta a falta de planejamento como outra barreira relevante às exportações. "Pelo menos 50% das MPE's que se iniciam na exportação em um determinado ano deixam de exportar já no ano seguinte. Após cinco anos, então, apenas 20% delas continuam exportando", lamenta Ribeiro. Para ele, muitas MPE's se iniciam nas exportações por motivos oportunistas, como um câmbio excepcionalmente bom ou a fraqueza da demanda interna. "Quando as condições se modificam, elas deixam de exportar. Isto é um claro sinal de falta de planejamento para enfrentar o mercado externo, ou seja, a maioria das MPE's que tenta exportar não se prepara adequadamente para isso", conclui o economista da Funcex.

Em seu mestrado, Fernando Ruiz utilizou a definição usada pelo Sebrae e pela Funcex, para classificar as empresas: micro são aquelas com menos de 20 funcionários e com um volume de exportação anual menor que US$ 300 mil; pequena empresa tem menos de 100 funcionários e receitas anuais com exportação menores que US$ 2,5 milhões. As empresas estudadas são do tipo industrial, uma vez que as micro e pequenas empresas não-industriais ou de serviços contribuem ainda menos para o comércio exterior. Sua participação não chega a 1% do total de recursos exportados no país.

Foram analisadas informações obtidas em entrevistas com 102 micro e pequenos empresários do estado de São Paulo, de várias áreas e que exportam com freqüência. Além disso, o pesquisador realizou um levantamento em profundidade em nove empresas dos setores têxtil, calçadista e de equipamentos odontológicos. Outros dados foram colhidos a partir de uma revisão detalhada de artigos e obras publicadas.

 

MOTIVAÇÃO PARA EXPORTAR

Além dos obstáculos, o pesquisador da USP listou também as principais motivações para exportar, com base em depoimentos de dirigentes das empresas. A principal delas é a perspectiva de elevar as margens de lucro. Escoar o excedente interno de produtos no mercado internacional e diversificar clientes são razões que aparecem em seguida. Além disso, "manter clientes no exterior para compensar as vendas quando o mercado interno estiver desfavorável" foi um dos comentários feito por um entrevistado, que traduz bem o pensamento dos micro e pequenos empresários analisados. "Por outro lado, a maioria das MPE's não dá importância às motivações estruturais como fator decisivo para o comércio exterior, tais como a possibilidade de aprendizado com os processos envolvidos na exportação, valorização da marca e da imagem global da empresa e melhoria de qualidade dos produtos e serviços oferecidos", afirma Ruiz.

Outro aspecto destacado pelo pesquisador foi a falta de conhecimento sobre os procedimentos para exportar. "Alguns micro e pequenos empresários não sabem, por exemplo, quais são os documentos necessários e acabam responsabilizando o governo e o excesso de burocracia pela falta de oportunidades. Exportar pode ser muito mais simples do que eles imaginam e, quanto mais o empresário exporta, menos barreiras vão surgindo devido ao grande aprendizado que se adquire", conclui.