SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.2 número5Bioconstrução combina técnicas milenares com inovações tecnológicasA inovação contra o barulho índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Articulo

Indicadores

  • No hay articulos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Bookmark

Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.2 n.5 Campinas nov./dic. 2006

 

 

Paraná: empresa cria centro de formação de jovens empreendedores

 

 

por PATRÍCIA MARIUZZO

 

 

Há pouco mais de dez anos, a marca do município paranaense de Campo Mourão, distante 477 quilômetros de Curitiba, era sua terra vermelha e o plantio de soja que a cercava por todos lados. Hoje, ela caminha para se transformar num pólo de empresas voltadas para a produção de equipamentos médicos. Parte dessa mudança se deve à instalação da Fundação Educere, centro de pesquisas na área de biotecnologia, cujo foco é a incubação de empresas a partir da formação de jovens com potencial empreendedor. Segundo as palavras de seu criador, Ater Cristófoli, a fundação permitiu romper o círculo vicioso de que um lugar não tem indústrias por falta de mão-de-obra e não tem mão-de-obra pela ausência de indústrias. "A intenção inicial era qualificar trabalhadores. Depois, percebi que a contribuição seria pequena se ficasse apenas com uma escola para os funcionários da minha empresa. Então criamos um centro de pesquisas e uma incubadora", conta ele. Cristófoli é sócio-fundador da Cristófoli Biossegurança, fabricante de autoclaves, aparelhos de desinfecção usados em consultórios odontológicos. Os equipamentos produzidos em Campo Mourão abastecem todo o país e ainda são exportados para 30 países.

O objetivo da Educere focou-se em descobrir novos talentos empresariais para a área de biotecnologia. Para isso, oferece gratuitamente cursos de eletrônica e mecânica para jovens com idade entre 13 e 17 anos. A formação enfatiza a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos na área da saúde. A maioria dos alunos vem da escola pública, embora não sejam excluídos, do processo seletivo, jovens de escolas privadas. "Não considero nosso projeto assistencialista. A idéia é criar oportunidades para pessoas de qualquer classe social", explica o empresário. Ele destaca, ainda, que o investimento inicial para montar a escola veio exclusivamente da Cristófoli. "Não tive apoio da prefeitura ou do governo estadual. Isso me incomodou no começo, mas hoje eu vejo que, por causa disso, conseguimos criar uma escola alternativa, sem controles de freqüência ou avaliação. Só ficam os jovens que tenham vontade e talento", completa.

 

 

A última seleção, que exige alunos com notas acima de sete, foram 114 inscritos, e apenas 20 foram escolhidos. A qualificação inclui ainda estágio remunerado. O curso busca, também, estimular alunos empreendedores e, aqueles em que é detectada essa aptidão recebem apoio para colocar produtos desenvolvidos no centro de pesquisa no mercado. Desde a sua criação, a incubadora já graduou oito empresas, cujo faturamento alcançou R$ 4 milhões em 2005. A previsão é de dobrar o valor este ano. Em contrapartida, todas as empresas graduadas reinvestem parte do seu faturamento para o desenvolvimento de novas pesquisas na Educere.

 

INOVAÇÃO BRASILEIRA NO MERCADO

Uma estação automática para reprocessamento de filtros de hemodiálise é um dos produtos desenvolvidos na incubadora. Chamado Quality 1, ele já está funcionando em hospitais como o Albert Einstein e o Nove de Julho, ambos na capital paulista. Para reprocessar o sangue dos pacientes, as máquinas de hemodiálise usam um filtro importado. Ele representa o maior custo nas clínicas de hemodiálise. No Brasil, e em países mais pobres, esse filtro é lavado manualmente o que diminui seu tempo de vida útil. Além disso, a lavagem manual pode comprometer a boa filtragem do sangue do paciente. Por conta desse risco, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite que os filtros sejam lavados no máximo 12 vezes e depois descartados. Com o Quality 1 a quantidade de lavagem permitida eleva-se para até 20 vezes. A máquina, mais barata que as concorrentes importadas, lava, testa a integridade das fibras e esteriliza os filtros, sem contato manual. A reprocessadora deu origem à empresa Saubern, cujo desafio agora é fabricar uma máquina de hemodiálise no Brasil. À frente da Saubern está um aluno da Fundação, que ainda se prepara para entrar na universidade. "A história dessas empresas repete um pouco a história da Cristófoli, que, sem conhecer seus próprios limites, ousou ir além do que era esperado dela", comemora o empresário.

 

 

Os bons resultados motivaram a vontade de expandir o projeto. Com o apoio do Sebrae, a Fundação prepara um projeto de modelo de desenvolvimento regional que será encaminhado para o BNDES. "Se tivermos mais recursos poderemos montar mais laboratórios e contratar mais professores e, com isso, ampliar os resultados", acredita Cristófoli. "Queremos mostrar que é possível qualificar pessoas e desenvolver empresas de base tecnológica, no meio da soja", conclui.