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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.1 Campinas ene./feb. 2007

 

 

 

 

Governo paulista articula diferentes projetos para favorecer inovação

 

 

por PATRÍCIA MARIUZZO

 

 

FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS, LIGADA AO MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, INJETA R$ 2,5 MILHÕES PARA APOIAR ESTRATÉGIA

O projeto Estratégia para ciência, tecnologia e inovação em São Paulo: universidades, institutos de pesquisa e empresas comemora em março seu primeiro ano de execução com algumas conquistas importantes: inauguração do Parque Tecnológico de São José dos Campos, com um inquilino de peso, a Embraer; adoção de um Sistema de Informação sobre o Ensino Superior (SIES); e a adesão da Unesp ao programa para aumentar a interação universidade-empresa no estado de São Paulo. Trata-se de uma política estruturante para alinhavar projetos paralelos, desenvolvidos por diversos agentes envolvidos na geração de inovação tecnológica — empresas, universidades e institutos de pesquisa, e governo — dentro da própria Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico (SCTDE), ou em outras instituições vinculadas ao estado. A Estratégia estabelece uma coordenação única para quatro subprojetos: Sistema de Parques Tecnológicos, Plano Diretor para o Ensino Superior, Programa de Investigação Tecnológica e Promoção de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em P&D. "A idéia é promover maior sinergia entre as ações já em andamento, para que atuem de forma mais ordenada", explica o coordenador geral do projeto e secretário adjunto da SCTDE, Sérgio Queiroz.

O projeto obteve recursos da ordem de R$ 2,5 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, por meio do edital de Projetos Estruturantes, cujo objetivo é fortalecer o sistema de C,T&I nos estados. A coordenação é da SCTDE e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e a Unicamp é o órgão executor. Como contrapartida ao investimento federal, o governo paulista oferece o mesmo valor diretamente no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, além dos R$ 9 milhões definidos no Projeto de Lei que criou o Sistema, em fevereiro de 2006.

Os parques concentram, além da atividade produtiva propriamente dita, atividades de pesquisa e inovação. O objetivo do Sistema Paulista de Parques é coordenar a implantação de cinco parques no estado, em regiões que já se destacam como pólos com perfil tecnológico mais ou menos definido. Além da capital, que deve atrair empresas da área de nanotecnologia, as cidades escolhidas são: São José dos Campos, área da aeronáutica e aeroespacial; Ribeirão Preto, com ênfase no setor de equipamentos médicos e odontológicos; São Carlos, química fina e biotecnologia, e Campinas, cujo perfil liga-se ao desenvolvimento de tecnologias da informação.

Países como China e Espanha tiveram programas parecidos com o paulista e foram bem sucedidos. A Espanha, que sedia a Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos (IASP), tem 50 parques tecnológicos entre os operacionais e planejados. Segundo Eduardo Grizendi, diretor de parques tecnológicos e programas de incubadoras da Agência de Inovação da Unicamp, Inova, alguns parques, como o de Málaga, nasceram para criar uma vocação tecnológica para a região, que não existia anteriormente, isto é, como uma escolha de política pública. "O exemplo da Espanha mostra que políticas públicas podem promover transformações locais, induzindo o sistema de inovação por meio dos parques tecnológicos", acredita.

A criação dos parques articula empresas intensivas em conhecimento, governo em todos os níveis, universidades, laboratórios e institutos de pesquisa. Para Queiroz, onde esta articulação funciona melhor, a implantação do parque avança mais rápido. É o caso, por exemplo, da cidade de São José dos Campos, que tem o parque mais adiantado do Sistema. O parque foi inaugurado em julho de 2006, depois que a prefeitura comprou um prédio na área para transformá-lo na sede do parque. Em seguida a Embraer instalou ali um centro de pesquisa e desenvolvimento, consolidando a iniciativa municipal. Também foi instalada uma Faculdade de Tecnologia do Centro Paula Souza, Fatec, voltada para as áreas aeronáutica e petrolífera. A partir deste ano, no mesmo prédio da Fatec, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai oferecer 50 vagas no curso de ciências da computação, inaugurando seu campus dentro do Parque. Embora menos adiantados, também já possuem empresas instaladas os parques de Campinas e São Carlos.

 

 

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO EM P&D

A criação de um parque tecnológico impõe a necessidade de povoá-lo com empresas intensivas em conhecimento. Isso significa ter políticas de atração de investimento direto estrangeiro (IDE) em P&D para o estado. Partindo do pressuposto dado por um cenário internacional em que grandes empresas estão reestruturando suas atividades tecnológicas para criar redes internacionais de P&D, um dos subprojetos que compõe o Sistema Paulista de C&T deve resultar na elaboração e aplicação de uma metodologia, que se traduz, na verdade, num conjunto de recomendações para ampliar a participação de São Paulo nessas redes de P&D. Segundo Sérgio Queiroz, que coordena o subprojeto, se antes essa rede se concentrava na matriz, hoje ela tende a se distribuir em vários países. Isso pode ser facilitado pelo fato de o Brasil já ter um grande número de multinacionais instaladas. "Convencê-las a criar ou ampliar seus departamentos de P&D é mais fácil, é um foco natural", acredita. Em uma das frentes de trabalho deste subprojeto um questionário eletrônico foi enviado para 300 filiais de empresas multinacionais no Brasil. O objetivo é entender quais são os fatores que motivam as empresas a investir, isto é, como elas avaliam os fatores de atração nos países. "Queremos criar um ambiente favorável à atividade tecnológica das multinacionais, que deve resultar em medidas que favoreçam o investimento em tecnologia por qualquer empresa", explica Queiroz, que coordena também essa pesquisa.

 

ENSINO SUPERIOR TEM META PARA 2020

Não há inovação sem mão-de-obra qualificada. Segundo Queiroz, no estado de São Paulo, perto de 15% dos jovens entre 18 e 25 anos estão matriculados no ensino superior, um número baixo se comparado, por exemplo, com a Argentina, que alcança a taxa de 31%, e bem distante de países desenvolvidos onde esse número freqüentemente ultrapassa os 40%. "Um dos obstáculos para mudar essa situação no Brasil é que aqui normalmente confunde-se ensino superior com ensino universitário. Nos Estados Unidos cerca de 40% das matrículas em ensino superior são em cursos de dois anos, que dão uma formação importante e útil no mercado", explica. Em São Paulo, as únicas instituições públicas que oferecem os chamados cursos tecnológicos são as Fatecs. Hoje são 26 unidades com mais de 18 mil alunos matriculados. "O profissional formado não é um engenheiro pleno, mas está muito acima do aluno do nível médio. O custo é menor e, mais importante, cria uma sociedade com grande diversidade de profissões", avalia.

Para Renato Pedrosa, que coordena as pesquisas do Plano Diretor para o Ensino Superior, a idéia é triplicar o número de Fatecs até 2020. "O Plano deverá especificar detalhadamente como se dará essa expansão, incluindo as regiões e cidades que receberão as novas Fatecs", explica. Ele conta ainda que o Plano mantém a característica do sistema Fatec de integração, em termos de conteúdo, com a região onde é instalada uma unidade. No caso de São José dos Campos, por exemplo, são oferecidos os cursos de tecnologia em construção e manutenção de aeronaves e tecnologia em produção e usinagem. O Plano Diretor deve definir diretrizes para aumentar o acesso ao ensino superior, com qualidade, de modo a atingir a taxa de 33 a 40% de jovens matriculados em faculdades em 2020. Serão discutidas também quais as áreas consideradas especialmente importantes para favorecer o sistema de inovação. "Hoje formamos um contingente muito grande de pessoas em áreas como direito e administração por exemplo. O Plano pode resultar na redução da oferta de cursos nessas áreas enquanto o número de vagas em biologia, engenharia de computação etc. cresce num ritmo mais forte", esclarece Queiroz. E é aí que entra o SIES, uma base de dados situada na SCTDE que organizará todos os dados disponíveis sobre ensino superior em São Paulo e no Brasil. "A base poderá ser consultada por órgãos do governo de todas as esferas, por pesquisadores e grupos de pesquisa", completa Pedrosa.

Finalmente, a Estratégia para ciência, tecnologia e inovação em São Paulo contempla também a relação universidade-empresa por meio do Programa de Investigação Tecnológica - São Paulo, PIT-SP. A partir de um bem sucedido programa de investigação tecnológica executado na Unicamp, o PIT-Sebrae-Unicamp, o programa avalia e qualifica o potencial social e de mercado de tecnologias inovadoras desenvolvidas na USP, Unicamp, Unesp, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). As tecnologias selecionadas são investigadas pelos próprios alunos das instituições envolvidas que, após passarem por treinamentos, se tornam agentes de inovação. "Parte significativa dos objetivos do projeto é o envolvimento de professores, pesquisadores e alunos, difundindo uma cultura de inovação", conta Roberto Lotufo, que coordena o PIT-SP. Na fase inicial 24 projetos estão sendo selecionados nas instituições participantes para serem investigados. "No caso da Unicamp, por exemplo, vamos selecionar projetos que estão em fase de escrita de patente, pois acreditamos que seja o melhor momento para avaliar técnica e economicamente o projeto. Nessa fase, o pesquisador também está mais disponível para interagir com a equipe do PIT", diz o coordenador.

O processo de investigação leva em média oito semanas. Segundo Lotufo, à medida que os estudos são concluídos, eles são divulgados pelos agentes de parceria das agências de inovação, ou órgão correspondente da instituição, para empresários e empreendedores. Ao final do programa, com duração estimada para dois anos e investimentos em torno de R$ 1,2 milhão, serão investigadas 120 tecnologias nas cinco instituições. Apesar de ter, do ponto de vista do apoio financeiro, duração de dois anos, a idéia é criar estruturas duradouras para inovação no estado. "O projeto envolve políticas de estado, ou seja, de longo prazo, que devem resultar em atividades permanentes", afirma Sérgio Queiroz. Para assegurar isso, segundo ele, a sinergia entre os subprojetos é fundamental.