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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.3 no.1 Campinas Jan./Feb. 2007

 

 

Pesquisa promove a criação de novos produtos e amplia mercado

 

 

por FLÁVIA NATÉRCIA

 

 

Enquanto a indústria brasileira, de um modo geral, se ressente de um cenário que conjuga juros altos, real valorizado e poucos investimentos públicos, o segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos vem crescendo num ritmo médio de 10,7% ao ano, beneficiado pelo aumento de renda da população. Cada vez mais competitivas, em cinco anos as empresas do setor dobraram seu faturamento: em 2000 era de R$ 7,5 bilhões; fecharam 2005 com uma receita líquida de R$ 15,4 bilhões. Das 1.367 empresas que compõem o mercado brasileiro 98,8% delas são de micro, pequeno e médio porte; porém, 15 delas são de grande porte — com receita líquida superior a R$ 100 milhões — e respondem por 71,7% do faturamento total. Investem de forma mais ou menos contínua em pesquisa, desenvolvimento e inovação, o que as torna capazes de lançar grande quantidade de novos produtos a cada ano.

 

NATURA E O BOTICÁRIO

Esse, pelo menos, é o perfil de duas das mais ativas empresas brasileiras do setor. A Natura, por exemplo, lançou, durante o ano de 2005, 213 produtos, dos quais cerca de 20% representam breakthroughs, ou seja, inovações radicais. Segundo o diretor de pesquisa e tecnologia da empresa, Daniel Gonzaga, é evidente o retorno dos investimentos em inovação: os produtos rendem mais e a receita tem crescido cerca de 27% ao ano. Para consolidar esse patamar de crescimento, a Natura preparou uma verdadeira ofensiva em P&D para os próximos anos. Em 2008, a empresa planeja inaugurar uma nova unidade, de 12 mil metros quadrados de área construída e 300 mil metros quadrados de terreno, em Campinas, no interior de São Paulo, destinada a ser o maior centro de pesquisas da empresa e que deverá contar com uma equipe de 250 pesquisadores. A escolha da cidade não é aleatória, uma vez que a Natura vem realizando estudos em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre outras instituições.

 

 

Em 2007, terá início o Programa Natura Campus, uma tentativa de ampliar a colaboração entre a indústria e a comunidade científica. Uma das frentes da ofensiva será a cooperação em pesquisa com financiamento da Natura ou co-financiamento de agências de fomento, aberta a qualquer pesquisador vinculado a instituições de C&T reconhecidas pelo governo brasileiro. A outra envolve a possibilidade de alunos de mestrado e doutorado do país realizarem parte de seus projetos na empresa, que se compromete a cobrir os custos. "Não há orçamento previsto porque não se sabe quantos projetos serão apoiados. Mas pretendemos, em 5 anos, que 50% das pesquisas sejam feitos com parceiros externos", diz Gonzaga.

 

INOVAÇÕES RADICAIS

A política da Natura inclui investir continuamente em P&D para buscar inovações radicais, capazes de renderem patentes. Para avançar nesse sentido, acaba de mudar a forma de gerir a pesquisa: foram separados por setores, com foco no desenvolvimento de tecnologias proprietárias, em longo prazo, e com a área de produtos integrada à equipe de marketing. Foi criada a área de Gestão de Parcerias e Inovação Tecnológica, visando à implementação e à consolidação do Modelo de Inovação Aberta, por meio de parcerias externas.

A Natura investe 2,9% de seu faturamento em pesquisa, porcentagem semelhante aos 2,8% investidos por outra grande empresa do setor, O Boticário. "Precisamos ser competitivos para concorrer com as marcas internacionais", justifica Israel Feferman, diretor de pesquisa e inovação da companhia, que começou como uma pequena farmácia (botica) de manipulação no centro de Curitiba, no Paraná, e tornou-se uma das grandes redes de franquias existentes hoje no setor. Abriu, em 1986, a primeira loja fora do Brasil, em Lisboa, e hoje tem lojas em 24 países. A Natura, por sua vez, começou a consolidar seu processo de internacionalização com a abertura da Casa Natura, em Paris, no mês de abril de 2005.

 

 

E não é somente a concorrência direta que afeta o desenvolvimento de produtos. Com a globalização, os consumidores têm acesso ao que é oferecido no mundo todo. No mínimo, criam expectativas de consumo com base no que já se encontra disponível em outros mercados. "Sem inovação, não podemos cumprir essa expectativa", diz Feferman. Ele não duvida da capacidade de retorno do investimento em produtos inovadores e avalia que na empresa já respondem por 65% do faturamento.

Como sua concorrente direta no mercado brasileiro, também O Boticário procura inovar de forma contínua. O processo de inovação na empresa se tornou cumulativo e atemporal, afastando-se do assim-chamado "funil", no qual uma grande quantidade de candidatos a produtos é testada e abandonada ao longo do caminho que levaria a um lançamento. O planejamento se estende até o ano de 2011 e tem maiores chances de render patentes, como a que foi pedida para a linha Active (fórmula e processo), lançada em junho de 2006. Com 19 produtos, é a primeira a apresentar uma fórmula estruturada com base em nanotecnologia, área que O Boticário vem pesquisando há três anos. Integra a Rede Brasileira de Nanotecnologia e Nanociência e vai participar da parceria Brasil-Argentina para pesquisas no setor.

Como outros setores da indústria química, que geram produtos diretos ao consumidor final, o de cosméticos pôde se beneficiar do crescimento da massa salarial da população. Em 2005, o país foi classificado pelo Instituto Internacional de Pesquisas Euromonitor como o quarto maior mercado de cosméticos do mundo. Dentre os fatores que explicam o forte desempenho desse segmento, especialistas enumeram: a crescente participação da mulher brasileira no mercado de trabalho, o aumento da expectativa de vida da população e o aumento da produtividade, decorrente da utilização de tecnologia de ponta. Segundo um estudo realizado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o desempenho do setor, "que ganhou mais competitividade, foi influenciado pelo aumento da renda da população e pelo lançamento de produtos mais acessíveis."