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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.3 no.1 Campinas Jan./Feb. 2007

 

 

Setor tomateiro cresce e demanda aumento de pesquisas

 

 

por GABRIELA DI GIULIO

 

 

O Brasil está, hoje, entre os dez maiores produtores de tomate do mundo e tem como carro-chefe a produção de tomates do grupo caqui, conhecido como salada longa vida, responsável por mais de 90% do produto comercializado em todas as regiões do país. A opção por essa variedade de tomate deve-se às características genéticas, que retardam por mais de 15 dias o apodrecimento dos frutos depois de colhidos. Essa vantagem favorece produtores e o setor de comercialização porém, a qualidade gustativa desses tomates enfrenta a crítica dos consumidores. "Ocorre que os mesmos genes que conferem a característica desejável longa vida também causam efeitos deletérios no sabor, aroma, textura e teor de licopeno, que é o pigmento que dá cor vermelha ao fruto de tomate", explica o pesquisador Paulo César Tavares de Melo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e atual presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH).

Por isso mesmo, apesar das inovações desenvolvidas aqui e no exterior — como a produção de mudas de alta qualidade em bandejas, a irrigação por gotejamento e a fertirrigação — há empenho para que sejam incorporadas novas tecnologias capazes de reduzir custos, elevar a produtividade e melhorar a qualidade do produto ofertado ao mercado, assegurando uma margem de lucro compensadora para os produtores.

 

 

A produção de tomate nas últimas três safras movimentou R$ 1,8 bilhão, equivalente a 16% de todo o PIB gerado pela produção de hortaliças no país; no período de 25 anos, o setor tomateiro registrou um crescimento de 113%. Hoje, cerca de 65% dos tomates produzidos no Brasil destinam-se ao segmento de mesa; o restante é destinado às indústrias, atendendo uma diversificada linha de derivados, que inclui fabricação de extratos, molhos prontos, tomates-secos e especiarias. O incremento da produtividade neste último segmento é considerado "extraordinário" por especialistas da área, devido à expansão da produção no cerrado, onde a média de rendimento (85 toneladas por hectare) é superior à da Califórnia (EUA), a mais importante área de produção de tomate industrial no mundo.

 

SITUAÇÃO DE RISCO

Para fazer frente à demanda agrícola, o Brasil importa atualmente cerca de US$ 6 a 8 milhões em sementes de tomate. Tal importação cria uma situação de dependência tecnológica e implica em riscos fitossanitários uma vez que essas sementes são potenciais veículos de introdução e disseminação de patógenos ainda não constatados no país. Para os pesquisadores da Embrapa-Hortaliças, Leonardo de Britto Giordano e Leonardo Silva Boiteux, a introdução de cultivares sem prévia avaliação nas condições brasileiras coloca o produtor de tomate em situação de maior risco, já que ele pode utilizar materiais sem a necessária adaptação, o que resulta em prejuízos econômicos.

Para reverter esse cenário, os pesquisadores da Embrapa-Hortaliças de Brasília têm um amplo estudo para desenvolver cultivares de tomate para processamento industrial e para mesa. As pesquisas envolvem, inclusive, algumas companhias de processamento e de sementes. Dentro dos programas de melhoramento de tomate, o enfoque é desenvolver cultivares com resistência múltipla a doenças, para reduzir o uso de produtos químicos e melhorar a qualidade do tomate, com a meta de estimular consumo.

 

TOMATES MAIS RICOS

Para atender ao mercado com um fruto de maior valor nutricional, uma nova tecnologia foi testada no Centro de Biotecnologia da Esalq/USP, em parceria com uma universidade alemã de Frieburg. A técnica, já patenteada pelas duas universidades, provou que o tomate pode ser modificado, com a diferença fundamental de carregar as informações genéticas no cloroplasto e não no núcleo da célula. "Nosso trabalho de transformação de cloroplasto de tomate apresentou acúmulo de 5% da proteína no fruto com auxílio de um gene marcador usado para estudo-piloto", diz a pesquisadora Helaine Carrer, coordenadora do estudo. O objetivo da pesquisa é introduzir genes que aumentem a qualidade nutricional do fruto como por exemplo, vitaminas e aminoácidos essenciais.

 

 

A nova tecnologia não ameaça a diversidade biológica porque a planta carrega a informação genética que desencadeia o processo de enriquecimento do fruto no cloroplasto (organela responsável pela fotossíntese), e não no núcleo da célula. A tecnologia evita uma das grandes preocupações no que diz respeito à biossegurança: a ameaça à diversidade biológica provocada pela interação de um transgênico com o meio ambiente. Segundo a pesquisadora, o método impede a ocorrência de transmissão não-intencional de informação genética entre lavouras de tomates transgênicos e comuns, porque os cloroplastos não estão presentes no pólen. Assim, mesmo que pés de tomate sejam fertilizados com o pólen de uma plantação do vegetal transgênico, seus frutos não apresentarão modificação genética.

 

TECNOLOGIA DE CONSERVAÇÃO COM CERA COMESTÍVEL

Com os mesmos objetivos de conseguir um tomate de mesa com melhor aparência, maior firmeza, com menor perda de massa e maior conservação no período de pós-colheita, pesquisadores do Departamento de Tecnologia Pós-Colheita da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), da Unicamp desenvolveram um estudo sobre a aplicação de ceras comestíveis nos tomates após a colheita. A principal delas é a cera de carnaúba que, segundo a pesquisadora Marcela Chiumarelli, não interfere no sabor e aroma do tomate e mantém a qualidade do produto por 15 dias.

 

 

Para Marcos David Ferreira, coordenador da Unidade Móvel de Auxílio à Colheita — projeto que faz parte da pesquisa da Unicamp — a utilização de cera de carnaúba é uma alternativa de baixo custo para a conservação de tomates após a colheita. "É importante lembrar, no entanto, que o uso dessa cera não é suficiente para a diminuição nas perdas pós-colheita e conservação do produto. Também se fazem necessárias outras medidas, como cuidado no manuseio, temperaturas adequadas de transporte e armazenamento", ressalta, destacando que, atualmente, a estimativa para perdas pós-colheitas para tomate de mesa é superior a 20%.

 

 

A produtividade do setor depende, ainda, de uma ação integrada envolvendo todos os segmentos da cadeia produtiva: agentes financeiros e de capacitação de mão-de-obra, instituições de pesquisa, ensino e extensão rural e empresas privadas. Para os pesquisadores da Embrapa, a inexistência de regras claras para gerenciar a interface entre o setor público e o privado é o principal entrave para se criar parcerias na área.

Além do número reduzido de empresas com programas de pesquisa em tomate, o presidente da ABH aponta que o Brasil tem enfrentado restrições de recursos financeiros e humanos para desenvolver estudos nas instituições públicas. Hoje, segundo ele, praticamente 100% das cultivares de tomate plantadas no Brasil têm o melhoramento genético e a produção de sementes feitas no exterior. "Com isso quem sai prejudicado é o produtor que não se beneficia com a geração de novas tecnologias e de novas cultivares adaptadas às condições brasileiras."