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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.1 Campinas ene./feb. 2007

 

 

Empresas industriais no Brasil dão pouca importância à inovação

 

 

por THIAGO ROMERO

 

 

COM BASE EM DADOS DA PINTEC 2003, ESTUDO REVELA QUE DAS 28.036 QUE INOVAM SOMENTE 4.941 (17,6%) INVESTIRAM EM ATIVIDADES INTERNAS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

Apenas 17,2% das empresas consideradas inovadoras em 2003 percebiam a P&D interna como uma vantagem competitiva. Essa informação é coerente com o volume de investimentos em atividades inovativas realizadas no mesmo ano: considerando que a atividade que gera maior capacitação tecnológica é a realização de P&D, das 28.036 empresas industriais brasileiras que realizaram pelo menos uma inovação tecnológica, entre 2001 e 2003, somente 4.941 (17,6%) investiram em atividades internas de pesquisa e desenvolvimento em 2003. Os investimentos declarados por essas 4.941 empresas alcançaram R$ 5,1 bilhões no ano em questão.

Os dados fazem parte do estudo "Inovação tecnológica no Brasil — A indústria em busca da competitividade global", que tem o objetivo de mostrar o engajamento do setor produtivo com questões relativas à inovação tecnológica. O levantamento foi baseado nos dados da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), de 2003, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2005, com informações sobre 84.262 empresas distribuídas em 91 atividades industriais. Os resultados foram organizados no livro de mesmo título, lançado pela Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei) no final de outubro, em Brasília. Os autores são os economistas Roberto Vermulm, Mauro Arruda e Sandra Hollanda.

 

 

O trabalho mostra que, apesar de o Brasil atualmente dispor de uma grande variedade de novos mecanismos de apoio, criados segundo as boas práticas internacionais, e de um volume de recursos bastante expressivo para apoiar o desenvolvimento tecnológico, ganhos reais para as empresas ainda não são verificados.

"O governo infelizmente tem grandes dificuldades em operar seu aparato institucional. As políticas de estímulo à inovação foram criadas, mas pouco divulgadas e, portanto, são pouco utilizadas pelas companhias nacionais. Apesar de ter sido competente em identificar as necessidades dessas novas políticas, o governo ainda não definiu prioridades para sua implementação", explica Roberto Vermulm, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o setor empresarial brasileiro também não consegue adotar estratégias mais ofensivas e não dá maior importância à tecnologia como arma competitiva e de conquista de novos mercados.

O resultado é que o investimento brasileiro em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) permanece reduzido quando comparado a outras economias em desenvolvimento. O Brasil ocupa atualmente a quinta posição na aplicação de recursos na área, com US$ 12,2 bilhões, atrás da China (US$ 84,6 bilhões), Coréia (US$ 24,4 bilhões), Índia (US$ 20,7 bilhões) e Rússia (US$ 16,9 bilhões). A distância que separa o Brasil dos países que mais investem em tecnologia se justifica, principalmente, pelo surgimento de novos atores no cenário internacional da P&D que, num curto espaço de tempo, passaram à frente do Brasil e começaram a se distanciar de maneira preocupante. São os casos de China, Índia e Coréia.

 

 

CONCENTRAÇÃO DE INVESTIMENTOS

De acordo com dados da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em 2002, os investimentos em P&D estavam concentrados em poucos países: só os Estados Unidos respondiam por mais de 25% do total. No ranking mundial dos países em desenvolvimento, apenas China, Índia e Coréia apareciam entre os dez países que mais investiam em P&D, sendo eles os grandes responsáveis pela queda da participação das nações desenvolvidas nos investimentos mundiais: de 97% em 1991, para 91% em 2002. No mesmo período, cresceu de 2% para 6% a participação dos países em desenvolvimento da Ásia em P&D.

Ainda segundo a Unctad, entre 1996 e 2002, enquanto os países asiáticos foram os responsáveis por mais de 2/3 do crescimento dos investimentos em P&D dos países em desenvolvimento, a região da América Latina e do Caribe teve sua participação reduzida de 21% para 16%, a maior queda observada em todas os continentes no período. Para Roberto Vermulm, os instrumentos do marco regulatório atual brasileiro, entre eles a Lei de Inovação e a subvenção econômica direta às empresas, por si só, não induzem a realização de inovação pelo setor privado. Eles apenas servem de apoio às iniciativas empresariais ao reduzirem os custos e os riscos da P&D e da inovação.

"Quando alguns empresários são questionados se eles inovam em função dos incentivos governamentais, a resposta quase sempre é negativa. A maioria afirma, com toda a franqueza, que são motivados à inovação apenas pela possibilidade de novos ganhos financeiros, independentemente da postura do governo. Com novos produtos no mercado eles conseguem sair na frente de seus concorrentes e é justamente essa diferenciação que traz rentabilidade", conclui Vermulm, ressaltando que a falta de incentivos não deve impedir o incremento da inovação.

No Brasil, o financiamento público às atividades de pesquisa e desenvolvimento ainda é reduzido. Até a regulamentação da Lei de Inovação Tecnológica, em 2005, os investimentos diretos nas empresas brasileiras eram extremamente limitados. Em seu artigo 1º, a lei estabelece "medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do país". O objetivo é facilitar a interação entre as universidades e as empresas, de modo a estimular o desenvolvimento de produtos e processos inovadores pelas empresas brasileiras.

Entre os diversos mecanismos da lei, merece destaque o instrumento da subvenção econômica, que prevê o aporte de recursos públicos não-reembolsáveis diretamente às empresas inovadoras, desde que elas executem projetos de interesse do governo federal. O valor da subvenção é definido anualmente por meio de portaria interministerial e terá como fonte de recursos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Isso explicaria o fato de, em 2003, apenas 18,7% das empresas inovadoras terem recebido apoio do governo, sendo que 3/4 desse apoio correspondeu a financiamentos para compra de máquinas e equipamentos destinados à fabricação de novos produtos. Nos Estados Unidos e na Alemanha o governo financia 31% da P&D das empresas, enquanto na Coréia do Sul esse percentual chega a 24% e na Espanha 40%.

 

INÍCIO COM POUCOS INVESTIMENTOS

Susana Liberman, pesquisadora do Grupo de Nanotecnologia da Braskem Petroquímica, empresa criada em agosto de 2002 e que investe cerca de R$ 300 milhões anuais em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) voltadas à aplicações tecnológicas, em especial na área de termoplásticos, acredita que investir em inovação é essencial, mas que apenas os recursos financeiros não bastam.

"Para determinadas soluções tecnológicas, o dinheiro às vezes não é o mais importante. Vontade de fazer bem feito pode ser mais decisivo em alguns casos. A própria Braskem não começou a inovar com grandes recursos. A empresa inicialmente fez um investimento baixo em pesquisas na universidade, o que foi perfeitamente viável para os primeiros resultados começarem a aparecer", disse Susana. "Com isso, a empresa foi investindo gradativamente de acordo com as necessidades dos experimentos. Hoje, só o meu grupo de pesquisa investe cerca de R$ 45 milhões em processos de inovação tecnológica", revelou.

 

CRIATIVIDADE

Para a pesquisadora, além da criatividade dos funcionários de uma empresa ser um quesito chave para a inovação, parcerias com outras empresas e setores industriais é algo fundamental. "Na medida em que os resultados vão surgindo, novas parcerias acadêmicas também são criadas, o que é essencial para a implementação de uma postura mais ativa, capaz de buscar pessoas criativas onde quer que elas estejam. Criatividade, boas parcerias e investimentos são a melhor solução para agregar valor aos negócios de uma empresa", aposta Susana. A Braskem Petroquímica possui atualmente três centros de tecnologia que abrigam 170 pesquisadores, com 142 patentes depositadas no Brasil e em outros países.

As indústrias mecânica, química e eletro-eletrônica estão entre as atividades industriais com as maiores taxas de inovação no Brasil e os maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento, segundo o levantamento da Pintec/IBGE. Consequentemente essas são as que mais empregam recursos humanos dedicados a esse fim.