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Inovação Uniemp

versión impresa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.2 Campinas mar./abr. 2007

 

 

Metodologia do IBI permite classificar setores que mais inovam

 

 

ANDRÉ FURTADO, EDILAINE VENANCIO CAMILLO e SILVIA ANGÉLICA DOMINGUES

 

 

As primeiras análises feitas a partir da metodologia do Índice Brasil de Inovação permitiram visualizar de uma forma novedosa o grau de inovatividade dos setores da indústria de transformação no Brasil. No ranking construído pela equipe, a partir de dados da Pintec 2003, os setores que mostraram melhor desempenho foram o de "Outros equipamentos de transporte" e o de "Materiais para escritório e equipamentos de informática". Chama a atenção, nem tanto esses setores, que são conhecidos como de alta tecnologia, mas o ordenamento dos demais setores.

A este ranking (ou a esta lista) foi dado o nome de IBI Indústria e para a sua elaboração foram empregados dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec do IBGE), de 2003, e do banco de patentes do INPI. Os indicadores setoriais foram divididos pela média agregada da indústria de transformação. De forma que cada componente do índice mede o quanto cada setor se diferencia da média da indústria. Quando o indicador está acima de 1, ele indica que o setor está acima dessa média, quando ele é inferior a 1, o setor está abaixo e quando é igual a 1 o setor está na média. Agregadamente, o IBI Indústria mede, então, a inovatividade da divisão setorial com relação à média da indústria de transformação.

 

 

O quadro acima traz o ranking dos setores da indústria de transformação brasileira, em ordem decrescente, os valores dos indicadores agregados e os valores dos sub-indicadores que os compõem.

O IBI, como já abordado anteriormente nesta revista, foi constituído a partir de variáveis de esforço como gastos com aquisição de máquinas e equipamentos, gastos com P&D e pessoal alocado em P&D, e de variáveis de resultado como patentes e receita líquida de vendas de produtos inovadores. As primeiras compõem o indicador agregado de esforço (IAE) e as últimas o indicador agregado de resultado (IAR). Um terceiro componente, uma variável de ajuste, foi adicionado buscando valorizar o equilíbrio entre esses indicadores agregados.

Com base nos indicadores apresentados, o setor que lidera o ranking do IBI indústria é o de "Outros equipamentos de transporte". Esse setor engloba a construção de embarcações e estruturas flutuantes, de veículos ferroviários e aeronaves, motocicletas, bicicletas e outros equipamentos de transporte. Essa liderança se deve às atividades da indústria aeronáutica, em especial da Embraer, responsável por quase 60% do valor adicionado do setor. O IAR se destaca devido ao impacto que a inovação tecnológica, principalmente de produto, exerce na variação da receita, cujo sub-indicador IRV - Indicador de Receita Líquida de Vendas de Produtos Inovadores, pesa com 60%. O IRV mede o impacto das vendas de produtos inovadores para o mercado interno e externo, e valoriza a categoria de produtos inovadores para o mundo. Em "Outros materiais de transporte", essa variável voltada ao mercado externo é extremamente elevada comparada aos demais setores da indústria devido, provavelmente, à exportação de aeronaves com projetos próprios. Pelo lado dos esforços, o setor também detém o maior IAI - Índice de Atividades Inovativas, que pesa com 75% do IAE e é composto por variáveis como gastos com P&D interna e externa, refletindo novamente a participação da indústria aeronáutica que, por ser uma indústria de alta tecnologia, realiza dispêndios elevados em P&D.

O segundo colocado no ranking é o setor de "Máquinas para escritório e outros equipamentos de informática" no qual é o indicador agregado de esforço que se destaca e, na composição deste, o sub-indicador de recursos humanos aparece com valor entre quatro a cinco vezes superior ao dos outros setores da indústria. A relação entre o número de mestres e doutores alocados em P&D e o pessoal ocupado total é alta neste segmento. No outro componente do IAE, o sub-indicador de atividades inovativas, os gastos com P&D interna e externa se destaca refletindo os estímulos ao desenvolvimento do setor oferecidos pelo governo federal por meio da Lei de Informática. Analisando os resultados da inovação, o indicador de patentes apresenta o maior valor justificando a necessidade de proteger as inovações geradas por um esforço tão acentuado.

"Material eletrônico, aparelhos e equipamentos de telecomunicações" ocupa o terceiro lugar com um índice que corresponde a quase metade do valor do segundo colocado. Abaixo dele os setores apresentaram resultados abaixo de dois. Após os três primeiros, a ordenação não se apresenta na seqüência esperada pela classificação de intensidade tecnológica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O setor de petróleo, considerado de média-baixa intensidade por essa classificação posiciona-se em quinto lugar, a frente da indústria automobilística, refletindo a liderança da Petrobras na produção de petróleo em águas profundas. Nesse caso pesaram os esforços em recursos humanos e o número de patentes. No entanto, o impacto econômico da inovação nesse setor não foi tão expressivo por resultar de inovação de processo, a qual não é contabilizada pela pesquisa da Pintec apoiada na metodologia do Manual de Oslo. Entre os retardatários, contudo, encontramos setores considerados, internacionalmente, de média-alta intensidade tecnológica — como o químico e o de máquinas, aparelhos e materiais elétricos.

Em suma, o ranking dos setores industriais evidencia as principais características do IBI e os principais objetivos da sua metodologia: o de englobar esforços e resultados da inovação para determinar o grau de inovatividade comparativamente à média agregada da indústria de transformação.

Além de explorar a consistência da metodologia, a construção deste ranking adicionou a perspectiva de comparação setorial, especialmente para países em desenvolvimento, onde indicadores convencionais nem sempre refletem o estágio tecnológico de suas indústrias. No Brasil, nem sempre foram os setores mais intensivos tecnologicamente, de acordo com a classificação internacional da OCDE, os que apresentaram maiores esforços e resultados de inovação, o que reflete as especificidades do padrão tecnológico local.

 

André Furtado, Edilaine V. Camillo e Silvia Angélica Domingues são pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências, da Unicamp.