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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.2 Campinas mar./abr. 2007

 

 

Alguns aspectos relacionados ao Parque Tecnológico de Campinas

 

 

EDUARDO GRIZENDI

 

 

Algumas iniciativas e práticas recentes relacionadas ao Parque Tecnológico de Campinas, em termos de perfil, gestão e novos investimentos estão trazendo mudanças significativas. Em relação a essas iniciativas e práticas, alguns contornos analíticos e de políticas, com um viés econômico, podem ajudar a qualificá-las, como por exemplo, os contornos relacionados ao perfil do parque e às políticas de atração de investimentos. Além deste viés econômico, algumas instituições vêm se destacando na consolidação do Parque Tecnológico de Campinas, entre elas a Ciatec - Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas e a Unicamp.

PARQUE TECNOLÓGICO DE CAMPINAS

O Parque Tecnológico de Campinas pode ser visto no contexto dos modelos de ambientes intensivos em inovação. é um projeto conjunto da Prefeitura Municipal de Campinas, através da Ciatec, Unicamp e governo do estado de São Paulo, no âmbito do Programa "Sistema Paulista de Parques Tecnológicos" da Secretaria de Desenvolvimento, para a área denominada "Pólo II de Alta Tecnologia da Ciatec".

A área total do Parque é de cerca de oito milhões de metros quadrados. Uma parte desta área, que atinge 1,3 milhões de m2, já é ocupada por empreendimentos privados e governamentais. O Parque abriga instituições de pesquisa tecnológica — o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) e cerca de 30 empresas nacionais e multinacionais de base tecnológica, predominantemente da área de tecnologias de informação e comunicação (TIC). Trabalham no Parque aproximadamente três mil pessoas. No entanto, o número de pessoas que circula diariamente atinge cerca de cinco mil, entre trabalhadores e visitantes de negócios.

Opera no Parque a incubadora de software do Softex de Campinas, juntamente com o Observatório Digital, núcleo de estudos do Softex Nacional, ambos integrando o Inovasoft, um centro de inovação em software da Unicamp.

A GESTÃO DO PARQUE

A entidade gestora de um parque tem papel fundamental no estabelecimento das diretrizes, gestão dos processos de planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação de ações, articuladas com redes de cooperação, tanto locais e regionais, quanto com as nacionais e internacionais. Além disso, ela deve garantir a capacitação dos empresários, por meio da contratação de consultorias especializadas, participação em eventos, divulgação de produtos, viagens para captação de clientes etc. Ela também deve manter uma vigília e difundir para os empresários, oportunidades para atração de recursos financeiros, reembolsáveis ou não, incluindo capital de risco.

A Ciatec é a gestora de direito do Parque de Campinas e se consolida também como gestora de fato. Foi constituída por decreto municipal em dezembro de 1985 e, da mesma forma, em dezembro de 1991, foi transformada em empresa municipal de economia mista, mantendo a prefeitura municipal de Campinas como acionista majoritária. Atualmente, participa do planejamento e execução da política de ciência e tecnologia da cidade, além de abrigar um programa de incubadora de empresas de base tecnológica, denominada Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento de Empresas (Nade). Ela coordena a implantação de empresas e instituições de pesquisas científicas e tecnológicas nos denominados Pólos de Alta Tecnologia I e II. O Pólo II corresponde ao Parque Tecnológico de Campinas.

O PERFIL DO PARQUE

O perfil inicialmente definido para o Parque Tecnológico de Campinas e apresentado ao Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, foi o de hospedar empresas de base tecnológica de TIC. Mas haveria um novo ciclo global de desenvolvimento da economia baseado em TIC que justifique essa especialização?

Schumpeter(1) destaca que uma das características do sistema capitalista é a dinâmica da permanente revolução nas bases técnicas da economia. Freeman & Perez (2) acrescentam que essas mudanças se distribuem no tempo, com a emergência periódica de novos paradigmas tecno-econômicos e definem essas mudanças de novos paradigmas como contundentes, resultando em uma combinação de inovações radicais e incrementais, mas, juntamente com inovações organizacionais e gerenciais, afetando toda a economia.

As TICs aparentemente estão na origem de um novo ciclo global de expansão econômica de longo prazo, constituindo-se em um recente paradigma tecno-econômico. Elas resultam de uma revolução tecnológica, onde o desenvolvimento e a generalização da micro-eletrônica e do software têm sido fundamentais, viabilizando uma nova fase na economia, baseada no conhecimento. As TICs estimulam a contínua automação, afetam setores industriais já existentes e, por si só, criam setores industriais emergentes, provocando assim mudança na estrutura industrial e introduzindo uma mudança social mais ampla, com mudanças na estrutura ocupacional e introdução da sociedade da informação.

Manuel Castells (3), em seu livro A sociedade em rede, destaca singularmente a importância das TICs para esta última fase atual da globalização, afirmando que uma nova economia global surgiu no último quarto do século XX, criando um novo sistema econômico distinto e chamando-a de informacional e global, para identificar suas características fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. Segundo o autor, é informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar, de forma eficiente, a informação baseada no conhecimento. É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É também informacional e global porque, sob novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma rede global de interação.

OS NOVOS INVESTIMENTOS

Recentemente foram anunciados novos investimentos no Parque . O Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun anunciou o início da implantação já em 2007, do "Wernher von Braun Innovation Park", um centro de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia de informação, em uma área de 360 mil metros quadrados. A Natura adquiriu uma área de 300 mil metros quadrados e anunciou a implantação de seu centro de tecnologia, com 12 mil metros quadrados de área construída. A concepção do centro inclui preocupação com a eficiência energética, racionalização do uso da água e preservação e restauração da biodiversidade. O exército brasileiro anunciou a implantação do seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia da Informação, com previsão de implantação total até 2011. Para tal, ele já conta com um escritório instalado dentro da Unicamp. Finalmente, o Instituto Eldorado, que atua na área de tecnologia da informação e comunicação e está instalado no condomínio Polis da fundação CPqD, adquiriu área de 25 mil metros quadrados, está construindo sede própria.

 

 

Interessante notar que dos quatro novos investimentos no Parque, três são em TIC, o que reafirma o perfil, sem, no entanto deixar de ser atrativo para outros setores de alta tecnologia.

CONCLUSÃO

Independentemente do papel das TIC nos ciclos econômicos e das limitações dos seus impactos na economia brasileira a partir do último quarto do século XX, elas estão tendo um importante papel de transformação, criando um novo sistema econômico distinto e impregnando-se, de forma cada vez mais contundente, nos demais setores industriais. As TIC hoje permeiam todos os setores e, em vários deles, têm um papel extremamente relevante, chegando, em alguns casos, a viabilizá-los. A constatação de que a região metropolitana de Campinas já é um pólo tecnológico de TIC, suportada por um ambiente fértil de C&T&I e com instituições como a Unicamp, o Instituto Agronômico de Campinas e Embrapa, somente para citar alguns exemplos, com intensa produção científica e tecnológica, estimula o desenvolvimento do Parque Tecnológico de Campinas.

Os demais aspectos (por exemplo, gestão e novos investimentos) representam questões fundamentais que devem estar sujeitas a outras iniciativas de ambientes de inovação no Brasil. Configuram em seu conjunto, juntamente com o perfil, uma agenda possível de aprofundamento através da pesquisa e do planejamento de políticas públicas voltadas para a inovação tecnológica e o desenvolvimento econômico.

 

Eduardo Grizendi é professor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) . Foi diretor de apoio a incubadoras e parques tecnológicos da agência de inovação Inova da Unicamp.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) Schumpeter, J.A., A teoria do desenvolvimento econômico, São Paulo: Editora Abril, 1982

2) Freeman, C. e Perez, C. "Structural crises of adjustment: business cycles and investment behaviour", in Dosi et al. (eds.), Technical change and economic theory, Londres: Pinter Publishers, 1988

3) Castells, M. A sociedade em rede, vol. 1, Editora Paz e Terra, 1999.

4) Jornal Correio Popular, "Parque Tecnológico atrai investimentos milionários", Campinas, sexta-feira, 8 de dezembro de 2006, pg. A7.