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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.2 Campinas mar./abr. 2007

 

 

Pólo de jóias e bijuterias cresce com informalidade e pouca inovação

 

 

por GABRIELA DI GIULIO

 

 

A cidade já foi a capital da laranja, assim como ficou conhecida por abrigar um parque industrial com grandes empresas na área de máquinas e bens de capital. Hoje, Limeira, localizada à beira da rodovia Anhangüera no interior paulista, se tornou referência nacional na produção de jóias folheadas e bijuterias de metais, caracterizando-se como um exemplo de Arranjo Produtivo Local (APL) que, apesar de entraves como a informalidade e baixa automação das empresas, tem dado certo. O pólo limeirense é formado, em sua grande maioria, por micro e pequenas empresas de capital social familiar, responsáveis por produzir cerca de 50 toneladas de peças por mês, comercializadas em todas as regiões brasileiras, além de exportar para América Latina e países como Estados Unidos, África do Sul, Portugal, Itália e Espanha. São 450 empresas formalizadas e mais cerca de 200 pequenas informais que atuam no setor. Juntas, elas geram quase 60 mil empregos diretos e indiretos, o que corresponde a um terço da população local economicamente ativa.

A forte indústria de jóias e bijuterias da micro-região de Limeira, que agrega oito pequenas cidades, respondeu por 60% do faturamento nacional obtido com exportação de produtos do setor em 2006 — um montante de US$ 132 milhões de um total de US$ 220 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Jóias e Gema (IBGM). Apesar da explosão recente, a história da indústria de folheados de Limeira é antiga e está relacionada às famílias tradicionais de ourives que se instalaram na região no século passado. A primeira grande empresa local do setor foi fundada em 1938. Dedicada à produção industrial de jóias, a Indústria de Jóias Cardoso era considerada, na época, a maior empresa do setor no país, com mais de 100 funcionários.

 

 

Com a instabilidade econômica enfrentada pelo Brasil e o aumento constante do preço da matéria-prima utilizada, o ouro, o setor de jóias entrou em declínio na década de 1960. "Com a redução do poder aquisitivo da população, as jóias folheadas e bijuterias mais baratas passaram a ser mais procuradas pelos consumidores", explica o empresário Rodolfo Mereb Junior, diretor da Associação Limeirense de Jóias (ALJ). De carona nessa tendência, diversas empresas foram criadas, muitas delas tocadas por ex-funcionários da indústria pioneira. A tradição começou a ganhar forças. "Os funcionários começavam a trabalhar cedo, aprendiam a profissão e acabavam montando o próprio negócio, gerando centenas de pequenas empresas familiares", diz Ana Paula Munhoz Cerron, economista pela Unicamp e mestranda em desenvolvimento econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que fez um amplo estudo sobre o APL de Limeira.

O boom local do setor beneficiou-se do desaquecimento da indústria de maquinários, na década de 1990. Grande parte da mão-de-obra agrícola e metalúrgica migrou para a produção de jóias, o que tornou Limeira um pólo de atração de novas empresas do ramo. Nos últimos anos, cerca de 30 empresas migraram para o interior paulista, provenientes principalmente de Guaporé (RS) e de Juazeiro do Norte (CE), considerados pólos estratégicos de produção de semi-jóias e bijuterias, aponta a pesquisa de Ana Paula.

A concentração de empresas também se deve às ações implementadas no município para aquecer o setor, como a criação da ALJ. A associação de classe dos empresários do setor de semi-jóias tem cerca de 140 integrantes e age como intermediária comercial entre os diversos agentes que atuam no ramo. Entre as formas de apoio que a ALJ presta aos empresários da área, estão o treinamento de mão-de-obra e a promoção de eventos como a Feira Internacional de Jóias Folheadas, Brutos, Máquinas, Insumos e Serviços — conhecida como Aljóias. Criada em 2001, acontece sempre em agosto e atrai empresas e compradores nacionais e internacionais. Como um braço da Aljóias, em 2006 foi realizada a primeira edição da Abril Fashion, feira destinada a lançamento de coleções. "Isso mostra que o pólo tem vocação para se transformar em um grande vendedor com ênfase na criação e torna-se importante também no lançamento da moda", diz o diretor da ALJ.

 

 

PARCERIAS

A existência de um APL pressupõe que empresas locais disponham de apoios governamentais, centros de ensino e pesquisa e entidades que ajudem a viabilizar projetos e a dinamizar o setor. Um dos apoios na região vem do IBGM, por exemplo, que busca atender as necessidades do setor em termos de tecnologia, capacitação gerencial e de recursos humanos, design e promoção mercadológica. Outro é o Sindicato das Indústrias de Jóias de Limeira (Sindijóias), com palestras e cursos, elaboração de políticas ambientais e que, em parceria com o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae/SP), promove o Núcleo de Inovação e Design de Limeira (NID), para estimular empresas a usarem o design como elemento de agregação de valor em produtos e processos.

No entanto, mesmo que em Limeira as parcerias aconteçam, a cadeia produtiva do APL ainda não é completa. "A região tem estrutura de produção industrial bastante diversificada, que abrange a fabricação de componentes e acessórios, passa pela etapa de fabricação de brutos (peças de bijuterias sem acabamentos e que não foram banhadas) e galvanoplastia, e vai até a comercialização dos produtos. Mas algumas matérias-primas, como o ouro e outros metais, produtos químicos para tratamento de peças e algumas máquinas e equipamentos não são produzidos na cidade", diz a economista.

Um tipo de processo de fabricação de jóias e bijuterias, conhecido como microfundição, é o que predomina nas cadeias italianas e espanholas desse setor. Por se tratar de uma produção mais mecanizada, com maior número de etapas a serem seguidas e que exige maiores investimentos, permite a produção de peças mais detalhas e maior facilidade no acabamento. Em Limeira, a produção artesanal é a mais comum, principalmente nas empresas informais. Neste caso, as peças metálicas são fabricadas com manipulação manual em bigorna, martelo e maçarico.

NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA QUALIFICADA

De olho nas exportações, o setor tem se preocupado em reverter o perfil da produção, ainda basicamente manual, e está interessado em investir em modernização, o que inclui o design das jóias. Para enfrentar essa demanda, as empresas contam com o apoio de três importantes instituições de ensino: o Senai Luiz Vargas, a Escola Técnica Estadual Dr. Trajano Camargo do Centro Paula Souza — o Ceeteps — e a Faculdade de Administração e Artes de Limeira (Faal).

Fundada em 2000 para melhor qualificar a mão-de-obra na região, a faculdade oferece cursos como o de graduação em design com habilitação em projeto de produto e ênfase em formação de joalheiros. "Na própria faculdade, há o Centro de Design, que desenvolve inovação em produtos e processos e possui uma máquina de prototipagem que transforma modelos gráficos de peças de joalheria em moldes reais, o que facilita a determinação de novos produtos. Esse serviço é oferecido, inclusive, às empresas da cidade", destaca Ana Paula.

LIMITAÇÕES

Terceirização, informalidade e pouca inovação são as principais limitações do pólo de Limeira. "Apesar dos produtores do pólo de Limeira beneficiarem-se da proximidade com os grandes centros de consumo, de importantes rodovias paulistas — o que facilita o escoamento da produção —, de fornecedores locais especializados e de mão-de-obra qualificada e treinada, o aproveitamento de vantagens decorrentes da cooperação entre os agentes locais ainda deixa a desejar", afirma a economista.

 

 

Segundo ela, as relações de cooperação entre as empresas ainda são limitadas, em geral envolvendo principalmente trocas de informações técnicas sobre a produção ou sobre a operação de máquinas. "A região ainda é incipiente na cooperação para o desenvolvimento de tecnologias em produção, design e gestão. Informações sobre o desenvolvimento de novos produtos e processos quase nunca são compartilhadas, sendo mantidas em segredo, já que os produtores temem a cópia", explica.

Com a informalidade e a própria terceirização para serviços de montagem das peças, as chances de cópia de design são grandes. Por isso, muitas empresas inventam diariamente novos modelos de jóias. Para garantir o desenvolvimento desses produtos, existe forte interação entre os fabricantes e os fornecedores de máquinas que cedem equipamentos novos para teste, antes de lançarem uma nova linha no mercado ou produzirem máquinas com especificidades conforme o pedido de cada produtor. "Isto facilita a adequação da máquina a cada tipo de produção e diminui custos. Assim, apesar de serem técnica e tecnologicamente inferiores que a maioria da importadas, em especial as italianas, as máquinas limeirenses são de maior funcionalidade para os produtores locais", compara.

Outro ajuste que falta para o pólo melhor concorrer no mercado externo é a grande exigência quanto à qualidade do material bruto e ao controle de espessura de camadas de revestimento. No Brasil, em geral, não há exatidão na fabricação do produto, o que demonstra possíveis falhas no processo de manufatura. "As peças não são uniformes e o processo de banho é feito por peso, o que dificulta a utilização de parâmetros mais precisos de controle de espessura e de outras características do produto", diz a economista.

China e Espanha são os principais concorrentes no mercado internacional, oferecendo mais qualidade e sofisticação, no caso europeu, e preços baixos diante da alta escala de produção chinesa, que tem mão-de-obra barata e subsídios oficiais.

RECURSOS FINANCEIROS

O empresário Rodolfo Dib Mereb, um dos sócios da empresa Mereb Bijuterias Ltda, reclama da alta carga tributária como fator de baixa competitividade. Para ele, o setor não tem problemas com falta de tecnologia, mas com o acesso a ela. "O desafio é ter acesso ao crédito para conseguir investir em novos maquinários, em novos processos de fabricação", afirma.

O uso do aço inox na produção de peças, por exemplo, implica em mais desafios à empresa de Mereb. "Estamos sonhando em comprar uma máquina para trabalhar com esse material, mas o preço dela é de US$ 165 mil. Por enquanto, vamos continuar sonhando, já que o financiamento ainda é difícil para micros e pequenos empresários", diz. Há 18 anos no ramo e empregando 14 funcionários em duas unidades, Mereb diz que, apesar do crescimento setorial de 30% no último ano, sua empresa cresceu menos, o que reduz sua capacidade de investir em tecnologia e inovação.