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Inovação Uniemp

versão impressa ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp v.3 n.3 Campinas mayo/jun. 2007

 

 

Em torno da mesma mesa: Petrobras, universidade e comunidades

 

 

por SUSANA DIAS

 

 

Desde seu lançamento em 2003, o Programa Petrobras Fome Zero implantou no país importantes ações de fortalecimento das políticas públicas de combate à miséria e à fome, com a participação direta das comunidades, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. No Rio Grande do Norte, mais de 30 projetos já foram realizados levando benefícios para cerca de 47 mil pessoas. Os projetos atendem a um público bem diversificado como agricultores, crianças e adolescentes, portadores de necessidades especiais e pescadores. De 2003 a 2006, a Petrobras aplicou, através do programa, mais de R$ 18 milhões no estado e, neste ano, a perspectiva é repassar mais de R$ 7 milhões para os projetos sociais, como informa a assessoria de imprensa da Unidade de Negócio de Exploração & Produção do Rio Grande do Norte/Ceará (UN-RNCE).

O projeto "Em torno da mesa: alimentando sensibilidades e competências" é uma parceria de sucesso entre a Petrobras, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e as comunidades de pescadores artesanais de três distritos de Macau: Diogo Lopes; Barreiras e Sertãozinho. Este foi um "arranjo muito feliz" avalia Ana Emília Guedes, coordenadora do projeto e pesquisadora do Departamento de Nutrição da UFRN.

 

 

Inicialmente a equipe da universidade, formada por tecnólogos, especialistas em pescado, cooperativismo, saúde coletiva e pedagogos, foi até as comunidades saber quais eram os problemas dos moradores e que interesse teriam em estabelecer uma parceria com a empresa e a universidade. Um dos problemas identificados no primeiro levantamento foi o baixo valor comercial da produção do pescado da região, tais como sardinha, arraia e peixe voador. A sardinha não beneficiada, por exemplo, tem um valor comercial entre 30 a 40 centavos por quilo, quando vendida para os atravessadores. "A sardinha, que é a maior produção local, era jogada fora ou vendida por um preço muito baixo. Os pescadores queriam se livrar da sardinha", lembra Emília. Além disso, os pesquisadores identificaram que entre a população das comunidades havia pouco consumo desses peixes, que preferiam os peixes que podem ser filetados, como o dourado.

Diante desse cenário, o projeto focalizou suas ações em três eixos que interessaram às comunidades costeiras tradicionais: beneficiamento do pescado; organização da cooperativa; e mudanças na cultura alimentar local. Introduzir técnicas inovadoras de beneficiamento dos peixes de pequeno valor comercial, e criar um cardápio original foram algumas das rotas que o projeto encontrou para gerar renda e contribuir com a segurança alimentar dos moradores e visitantes do local. A insegurança alimentar nessas comunidades estava relacionada com a qualidade dos alimentos e da água, a falta de esgotamento sanitário e o destino do lixo. Antes do projeto, os resíduos dos peixes, por exemplo, eram jogados nas dunas, e agora vão para a silagem e servem de alimento para os porcos. A idéia é que, futuramente, esses resíduos sejam utilizados na produção de composto orgânico, que poderá ser usado pelas próprias comunidades e até comercializado como adubo.

 

PROFISSIONALIZAÇÃO

Preocupado com a profissionalização dos participantes, o projeto criou uma turma com cerca de 53 alunos, a maioria mulheres, que aprendeu técnicas as mais diversas de beneficiamento e preparação do pescado. Além de aulas locais, em torno do fogão nas casas dos pescadores, os alunos puderam visitar as instalações da universidade e aprender a filetar e preparar as sardinhas em grande escala. Participaram também de feiras de exposição de produtos alimentares e de eventos científicos, como a XII Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN-Cientec em outubro de 2006, onde expuseram e comercializaram os produtos. Ensopado de arraia no coco, sardinha na pressão, pastel, quibe, lingüiça e hambúrguer de peixe e a famosa peixada praieira com pirão, foram alguns dos quitutes expostos. No mesmo período, foi certificada a primeira turma de beneficiadores do pescado do "Em torno da mesa", que agora tem a missão de promover a continuidade, estruturação e crescimento do projeto.

 

 

Um dos resultados do projeto, o "Calendário em torno da mesa 2007" está para ser lançado. A escolha das receitas para compor o calendário levou em consideração as preparações da culinária local, o período de consumo e as festividades que acontecem durante o ano na comunidade pesqueira. Além de valorizar os peixes desprezados pela comunidade, e agregar valor comercial à maior produção pesqueira, os preparados abriram novas possibilidade para o potencial turístico da região. Os turistas são atraídos para os municípios não apenas pelas belas praias, mas também pelos quitutes preparados com técnicas seguras e cuja originalidade não se encontra em outras localidades do litoral.

Para garantir a comercialização dos produtos em grande escala, o projeto também investe na distribuição por outros programas sociais do governo. Uma parceria com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já permite que os alimentos beneficiados cheguem às creches e escolas da região. Outra intenção do projeto é conseguir o Selo de Qualidade para os produtos, que permitirá aos pescadores uma expansão do mercado.

Para as comunidades costeiras de Macau apenas dominar as técnicas não seria suficiente. Havia a necessidade de investir também em maquinário e, com o apoio da Petrobras, foram obtidos alguns equipamentos. A empresa, segundo sua assessoria de imprensa, continuará a apoiar o projeto e o próximo passo será instalar uma unidade semi-industrial para beneficiamento do pescado no município Diogo Lopes, que irá atender, além dessa localidade, mais onze comunidades que integram a Reserva Ponta do Tubarão, dentre elas Barreiras e Sertãozinho.

Guedes ressalta que a parceria com a Petrobras não propiciou apenas uma ação social propositiva junto às comunidades, mas fortaleceu a pesquisa e a extensão na universidade, ao agregar profissionais de diferentes áreas em torno de um projeto coletivo, e permitiu a socialização da produção científica. Além disso, gerou a possibilidade de realização de pesquisas junto às comunidades, o melhoramento das técnicas de beneficiamento do pescado, e a formação de equipes de assessoria tecno-científica às comunidades qualificadas.