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Inovação Uniemp
versão impressa ISSN 1808-2394
Inovação Uniemp v.3 n.4 Campinas jul./ago. 2007
Estudo mostra mudanças na distribuição regional da indústria
por SABINE RIGHETTI
A região metropolitana de São Paulo (RMSP) já foi o palco principal da indústria nacional, reunindo atores como empresas nacionais e multinacionais, movimento operário e sindical, entre outros. E não poderia ser diferente: na década de 1970, o Sudeste concentrava mais de 80% do valor da transformação industrial do país, sendo 43,5% da produção realizada na RMSP. Apesar de ainda não ter perdido a cena, o cenário atual é outro: a RMSP concentra hoje 17,2% da produção industrial do Sudeste, que não chegou a 63% da indústria do país em 2004. A mudança é resultado de uma desconcentração regional observada na indústria brasileira, tema de um estudo encomendado pela Conferação Nacional das Indústrias (CNI) e apresentado no 2º Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria, que aconteceu em abril, em São Paulo.
De acordo com os pesquisadores responsáveis pelo trabalho, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a distribuição espacial das indústrias pelo país tende a diminuir desigualdades, traz benefícios para a população e para o setor industrial. A população ganha em emprego e desenvolvimento e a indústria ganha com um espaço mais homogêneo. "A produção mais espaçada diminui os custos de transação porque aumenta os mercados", explica Marco Crocco, um dos condutores do trabalho. "Ter pontos de mercado espalhados pelo país implica, por exemplo, em altos custos de transporte", completa.
Para Crocco, o combate às desigualdades regionais se faz com política regional. E a principal delas são os incentivos fiscais: redução ou isenção de impostos e facilidades para exportar ou importar. No entanto, é importante que os estados não estabeleçam uma competição fiscal. "A guerra fiscal deve ser controlada do ponto de vista da unidade política industrial", diz Clélio Campolina, coordenador do trabalho. Mesmo assim, o pesquisador considera que os incentivos fiscais devem ser mantidos e até aprimorados, além de estarem acompanhados de outras políticas públicas, como um fundo nacional de desenvolvimento, por exemplo.
NOVOS PÓLOS DE ATRAÇÃO
Enquanto algumas regiões, como a Sudeste, estão perdendo suas indústrias, outras estão ganhando, como a região Sul, que aumentou sua participação na concentração industrial de 12% (em 1970) para 18,5% (em 2000). Boa parte do desenvolvimento do setor industrial da região Sul se deve ao setor de calçados. É o caso da empresa Artecola, que conta com 1300 colaboradores distribuídos em suas nove plantas industriais. A matriz fica na cidade de Campo Bom, no Rio Grande do Sul. Porém, os benefícios fiscais levaram a empresa a montar uma planta em Dias D'avila, cidade próxima a Salvador, na Bahia. Entre os principais benefícios estão a isenção ou redução de tributos, e benefícios para importação de matérias-primas e exportação de produtos manufaturados. "Temos benefícios de ICMS, principalmente na venda dentro do estado", conta Jairo Korndoerfer, gerente de marketing da empresa. "A Bahia tem se apresentado cada vez mais como produtora de calçados, assim como todo o Nordeste", completa.
Mesmo que não atraiam os industriais, os incentivos fiscais podem ajudar a manter as empresas longe dos pólos industrais do Sudeste. É o caso da Light Infocon, empresa do setor de tecnologia de informação que já estava em Campina Grande, na Paraíba, quando surgiram os incentivos. "Os incentivos foram importantes para a manutenção da empresa na cidade", ressalta Alexandre Moura, diretor-presidente da Light Infocon. "O principal foi a redução a zero da alíquota de ISS por cinco anos e depois a cobrança de uma alíquota de 2,5% (praticada hoje), quando o normal é de 5%", conta.
No caso da Light Infocon, os incentivos fiscais e a proximidade com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) foram fundamentais para o desenvolvimento da empresa. "Toda a pesquisa e desenvolvimento é realizada em Campina Grande", conta Moura, revelando que 25% da receita da empresa é revertida em P&D. Hoje, a empresa coleciona seis prêmios e atende clientes como a polícia federal e a Advocacia Geral da União, além de empresas como Bradesco, Natura Cosméticos, Brasil Telecom, Gol, entre outras.
FORA DO EIXO
A instalação de empresas como a Artecola e a Light Infocon em território nordestino resultou em um aumento na concentração industrial na região, que passou de 5,7%, em 1970, para 8,9% do total em 2000, de acordo com o estudo da Face/UFMG. Mas as dificuldades de estar localizado no Nordeste ainda são muitas, dentre elas a distância física com o mercado consumidor e com universidades, institutos e centros de pesquisa da região Sudeste. "Outro ponto relevante é a questão cultural: o preconceito por ser uma empresa de tecnologia instalada no semi-árido nordestino. As pessoas, com raras exceções, acham que no Nordeste só tem seca", revela Alexandre Moura.
Melchiades Cunha, diretor da Scitech Medical, empresa da área médica localizada em Goiânia (Goiás), não concorda. Ele acredita que a tecnologia pode minimizar a distância. Como exemplo, ele cita a distância física da empresa com a comunidade médica do Sudeste. "Isso não pesa tanto para o mercado nacional. Quando falamos em exportar para Ásia aí sim a distância pesa, pois as concorrentes China e Índia estão muito mais próximas desse mercado", conta.
Cunha ressalta também outras vantagens de estar na região Centro-Oeste, tais como menor custo operacional, incentivos fiscais por meio de programa estadual e, no caso da Scitech Medical, a proximidade com Anápolis, cidade que possui um pólo de medicamentos genéricos. A região Centro-Oeste também tem ganhado, ainda que a passos lentos, com a desconcentração regional, tendo passado de 0,8% do total da indústria em 1970 para 2,2% em 2000.
Os pesquisadores da Face/UFMG ressaltam que a redução da concentração industrial no eixo Sudeste não deve ser encarada como uma mola propulsora de desemprego na região, pois o Sudeste tem ganhado em outros setores, como o de serviços. "É preciso explorar as potencialidades decorrentes da diversidade regional, como potencialidades de recursos humanos e recursos naturais", informa Marco Crocco.