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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.3 no.4 Campinas July/Aug. 2007

 

 

Inovação: uma questão também de boas idéias

 

 

por THIAGO ROMERO

 

 

Um ambiente de trabalho que favoreça a troca de idéias, de preferência com pensamentos divergentes, é essencial para colocar a inovação ao alcance de uma empresa, independente de seu porte ou setor. No Brasil, país que investe pouco mais de 1% do produto interno bruto (PIB) em inovação tecnológica, apostar na criatividade dos funcionários para melhor investir os recursos pode ser uma saída para alcançar bons resultados.

Essa é a conclusão do economista Marcos Freire Gurgel em sua dissertação de mestrado defendida na Coor-denação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho, intitulado "Criati-vidade e inovação: uma proposta de gestão da criatividade para o desenvolvimento da inovação", procurou desmistificar a idéia de que para inovar são necessários grandes investimentos. Para o pesquisador, a criatividade bem gerenciada é decisiva nesse processo.

"Enquanto o Brasil investe pouco mais de 1% do PIB em inovação tecnológica, os Estados Unidos investem 3%", compara o autor, que atualmente trabalha na gerência de estudos estratégicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). "Como investe pouco, se a indústria brasileira soubesse usar a criatividade de seus funcionários, poderíamos conseguir um retorno talvez até maior que o dos Estados Unidos em termos de produtos inovadores", defende Gurgel.

 

 

Para ele, os países que mais investem poderiam gastar menos, porém de maneira mais efetiva, enquanto as nações que ainda gastam pouco deveriam buscar maior eficiência na aplicação dos recursos. "Mesmo com pouco dinheiro, a inovação pode e deve ser perseguida por todo empresário", acredita. Gurgel destaca, no entanto, que apenas criatividade e conhecimento especializado não bastam, é preciso saber transformar boas idéias em valor. Visando propiciar um melhor uso das capacidades criativas dos indivíduos e gerar um clima propício à criação nas organizações, ele propõe um modelo de gestão da criatividade para as indústrias nacionais.

Segundo o economista, a criatividade se baseia em três dimensões: pessoas, processos e ambiente. "Se determinada empresa possui processos ou pessoas criativas e um ambiente que propicia o desenvolvimento da criatividade, cada uma dessas dimensões se amplia e favorece a idealização de um produto inovador, por meio do que chamamos de elos da inovação", explica. Nesse caso, os elos da cadeia de valor da inovação são divididos em quatro etapas: idealização, seleção de projetos, desenvolvimento e comercialização.

Trata-se de uma espécie de tabela de valores, onde na vertical esquerda ficam as três dimensões (pessoas, processos e ambiente) e na parte horizontal superior ficam os quatro elos da inovação. À medida em que as informações a respeito das potencialidades e fraquezas de uma empresa são preenchidas no modelo de gestão, é possível verificar como cada dimensão pode facilitar ou dificultar a inovação e, no final do processo, o modelo mostra qual dimensão precisa ser mais trabalhada para melhorar determinado elo.

"Com o cruzamento de cada uma dessas variáveis é possível visualizar o tipo de ganho para a empresa. Pessoas criativas podem gerar ganhos na idealização e na seleção de projetos, enquanto um ambiente criativo pode melhorar a qualidade técnica do projeto e aumentar a percepção da empresa em termos de oportunidade de negócio", exemplifica. A vantagem do modelo é sua possibilidade de aplicação para a inovação de produtos ou processos em qualquer tipo de empresa, independente de sua receita ou setor, desde que a capacidade criativa seja valorizada.

 

 

O autor do trabalho sugere ainda a divisão da capacidade instalada nas empresas em uma escala que vai de um a oito. Tomando determinadas atitudes a partir de modificações estruturais, o empresário vai ganhando escala até atingir o último estágio, que tem processos, pessoas e ambiente criativos. "Nesse caso, o menor real investido consegue trazer o melhor retorno", aponta. "Se compararmos R$ 20 investidos em uma empresa que esteja no último estágio, com R$ 2 mil aplicados em uma companhia que esteja no primeiro, certamente a empresa que investiu menos recursos terá muito mais ganhos em termos de vantagem competitiva", apontou Gurgel, que pretende em breve lançar um livro sobre o assunto.

Os dados sobre inovação nas empresas que serviram como pano de fundo para o trabalho de Gurgel foram extraídos da Pesquisa Nacional de Inovação Tecnológica (Pintec). O autor fez uma série de entrevistas com Mariana Rebouças, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responsável pela formulação dos dados. Gurgel preferiu se basear em dados da Pintec, ao invés de entrevistar dirigentes de empresas, para evitar informações isoladas de companhias nacionais que valorizam muito ou pouco o processo de inovação tecnológica. "As entrevistas com a Mariana Rebouças foram suficientes para eu ter um parecer muito mais abrangente sobre o assunto", garante.

 

FINANCIAMENTO

O presidente do Conselho de Tecnolo-gia da Firjan, Fernando Sandroni, também acredita que a criatividade é decisiva no processo de inovação. Por outro lado, mesmo sabendo que o financiamento por si só não gera inovação, para ele o recurso não deixa de ser uma variável essencial.

"O processo da inovação é muito complexo e certamente não inclui apenas uma variável isolada", explica. "Sobretudo em áreas tecnológicas, o ponto de partida para a inovação é a identificação de uma demanda que seja clara e tangível. Isso envolve um processo multivariado onde financiamento, criatividade e definição dos problemas a serem solucionados são os principais fatores que devem ser considerados", afirma.

A demanda nada mais é do que um problema a ser solucionado, que pode ser a necessidade da empresa de aumentar a posição no mercado, por exemplo. Para Sandroni, além da criatividade se manifestar em função das demandas e dos problemas empresariais, sempre que uma empresa define uma demanda e decide inovar, o risco é outro fator que naturalmente aparece. "Ninguém inova sem riscos, pois é difícil saber se o novo terá sucesso. Ao mesmo tempo, sem criatividade não há produtos ou processos novos. E normalmente as pessoas mais criativas são as mais propensas a enfrentar os riscos", acredita.

Demanda bem definida, capacidade técnica instalada, conhecimento da problemática, criatividade e recursos financeiros e humanos são as variáveis que Sandroni elege como cruciais para o sucesso das inovações tecnológicas. "Não há como inovar em produtos e processos sem financiamento. A não ser que o objetivo seja inovar apenas no campo das idéias", conclui.