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Inovação Uniemp

Print version ISSN 1808-2394

Inovação Uniemp vol.3 no.4 Campinas July/Aug. 2007

 

 

Programa Nutrir: alimentação saudável e voluntariado

 

 

por PATRÍCIA MARIUZZO

 

 

Sábado não é dia de aula. Mesmo assim os alunos da Escola Municipal Maria Aparecida Pagoto Moraes, em Cordeirópolis (SP), vão para a escola, acompanhados dos pais, para uma manhã inteira de atividades: aula de culinária, brincadeiras, jogos, e um almoço diferente. É o dia da Folia Culinária, uma das atividades desenvolvidas dentro do Programa Nutrir, da Nestlé do Brasil. A motivação do projeto foi a percepção de que muitos casos de desnutrição não ocorrem necessariamente devido à falta de alimento, mas por causa das opções sobre o que se vai comer ou pela forma de utilizar o alimento disponível. Preferir alimentos industrializados ao invés de frutas e verduras frescas, ou usar somente o suco da laranja e não a fruta inteira são escolhas importantes que interferem na qualidade da alimentação e na saúde de qualquer pessoa. Quando se trata de crianças que vivem em condições socioeconômicas desfavoráveis, o problema torna-se mais grave. Pensando nisso, a Nestlé criou o Programa Nutrir cujo principal objetivo é prevenir a desnutrição em crianças com idades entre cinco e 14 anos.

Tudo começou com a idéia de ensinar conceitos de alimentação saudável para mães e crianças, mas sempre por meio de brincadeiras e receitas que incentivam o aproveitamento integral dos alimentos. No encontro em Cordeirópolis, por exemplo, o tema da Folia foram as frutas. Enquanto as crianças participam de jogos e brincadeiras, as mães aprendem e preparam as novas receitas. No almoço, as crianças comeram lanche de queijo, presunto e banana, e suco de melancia. Na sobremesa, bolo de casca de banana e doce de casca de melancia. "O Nutrir parte do princípio de que é possível melhorar a situação nutricional ensinando as pessoas a escolher melhor o que consomem e a aproveitar totalmente os alimentos disponíveis", explica Silvia Zanotti, diretora da Fundação Nestlé, que centraliza esse e outros programas de responsabilidade social da empresa. "Ao fazer um trabalho de parceria com as instituições da cidade onde a empresa mantém unidades, esperamos que os educadores e as pessoas que se envolvem incorporem os princípios da alimentação saudável e sejam multiplicadores", conta.

 

 

O programa permanece por até três anos nessas instituições — escola, igreja, associação de amigos de bairro etc, onde a Folia Culinária acontece uma vez por mês. Em 2006, foram capacitados três mil educadores em 700 escolas e organizações sociais e estima-se que pelo menos 270 mil crianças e jovens tenham sido beneficiados. Além da parte didática e de capacitação, existe um trabalho de acompanhamento da evolução do peso e altura das crianças para detectar e tratar problemas como desnutrição, obesidade e anemia. "Com isso é possível adequar o programa à realidade de cada lugar onde trabalhamos", esclarece Silvia. Essa adequação se reflete também nas receitas, uma vez que procura-se valorizar alimentos típicos de cada região. "O Programa não chega pronto para a comunidade, é construído pelos voluntários da Nestlé, da instituição parceira e pelas pessoas que serão atendidas", diz.

 

A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO

O apoio dos funcionários e a participação dos voluntários da empresa são a base de todas as ações do Nutrir. Uma das maneiras de o funcionário tomar parte no programa é por meio de doação mensal de dinheiro, e para cada real doado, a Nestlé contribui com o mesmo valor. Mais da metade dos 16 mil colaboradores participa dessa forma, totalizando R$ 600 mil por ano, valor que dobra com a contrapartida da Nestlé. A outra maneira de atuar no programa é participando diretamente das atividades como voluntário. Para isso a empresa abona oito horas mensais de trabalho por funcionário. "Se todos os funcionários saírem do Programa, o Nutrir termina porque não teríamos mais a mão-de-obra para tocar as atividades, nem a contrapartida da empresa", pondera. Hoje 1,5 mil colaboradores são voluntários nos projetos do Nutrir.

 

 

Carlos Lemos é um deles. Ele é funcionário do Centro de Distribuição da Nestlé, em Cordeirópolis, onde o Nutrir funciona há cinco anos. A Escola Municipal citada no começo deste texto já é segunda instituição atendida pelo programa no município. Na primeira, além das Folias Culinárias, Carlos ajudou a implantar uma horta orgânica. Segundo ele, o programa tem trazido importantes mudanças de comportamento e de hábitos alimentares das pessoas. "Quando começamos o trabalho eram as merendeiras que serviam as crianças na hora do lanche. Nós mudamos isso. Passamos a ter um balcão na altura das crianças onde elas mesmas podem se servir. Isso teve uma aceitação tão grande na cidade que a Secretaria de Educação adotou o modelo em todas as escolas municipais de Cordeirópolis", comemora.

Além de melhorar a qualidade nutricional, o Nutrir busca também trabalhar o aspecto simbólico do ato de se alimentar. "O ato de cozinhar e de se alimentar tem muito a ver com o carinho e os cuidados recebidos na infância, por isso trabalhamos a questão do refeitório, de ter um lugar tranqüilo para comer, do aspecto do alimento oferecido. A comida não é só um alimento para o corpo, mas também para a alma", acredita Silvia Zanotti. Daí a importância de ensinar a criança a se servir, a decidir quanto e o que quer comer. "Ensinamos que isso é uma coisa que elas mesmas podem fazer. Oferecemos garfo e faca no lugar da colher, e prato de louça, ao invés do de plástico", conta Lemos. "É um trabalho de longo prazo, que vai criar um adolescente, um jovem, um adulto mais educado e provavelmente mais consciente do que é alimentação saudável", completa.

 

 

Os ganhos não são apenas para os pais, mães e crianças das comunidades que participam das atividades desenvolvidas no programa. A diretora da Fundação Nestlé acredita que os voluntários exercitam várias habilidades essenciais, tais como trabalho em equipe, capacidade de comunicação e adaptação a realidades diferentes. Outra característica importante do Nutrir, segundo ela, é o fato de que o programa também está alinhado ao discurso da empresa, cujo posicionamento busca zelar pela boa nutrição, saúde e bem-estar. "Quando levamos projetos de educação alimentar para comunidades reforçamos a comunicação do produto Nestlé", acredita. Isso fez com que ele fosse reconhecido pela sede da empresa, na Suíça, como projeto modelo. Por conta disso já está sendo levado para outros países como México, Equador, Venezuela e Colômbia.