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Conhecimento & Inovação

versão impressa ISSN 1984-4395

Conhecimento & Inovação v.5 n.3 Campinas jul./set. 2009

 

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA

 

Setor siderúrgico brasileiro: como estamos e para onde vamos?

 

 

Bruno Buys

 

 

Aumentar o consumo interno com menos impacto ao meio ambiente e conseguir profissionais qualificados em maior quantidade para atender às novas demandas. Estas são duas conclusões preliminares de um estudo que está sendo conduzindo pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), com apoio do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). O objetivo do trabalho é subsidiar decisões para o desenvolvimento futuro da siderurgia brasileira, no horizonte de 2010 a 2025. A primeira etapa, já concluída, fornece um panorama amplo do estado em que esse setor de atividades se encontra, e representará a plataforma na qual as principais tendências e fatores encontrados nessa etapa inicial serão aprofundados. Na etapa seguinte, e até a etapa final, haverá a construção dos indicadores e do conjunto de recomendações, para orientar o futuro dos investimentos e das ações estratégicas no setor siderúrgico.

Os dois principais vetores escolhidos para nortear o estudo foram sustentabilidade e competitividade. Essas duas "linhas mestras" representam forças que impactam continuamente a atividade. Segundo Elyas de Medeiros, técnico do CGEE e um dos coordenadores do Estudo Prospectivo do Setor Siderúrgico Brasileiro (EPSS), "um dos diagnósticos que podem ser tirados do estudo é a necessidade fortíssima de inovação tecnológica em todos os elos da cadeia". Essa inovação é necessária tanto para o aumento do valor agregado do aço, quanto para o aumento no consumo doméstico brasileiro. "Nós estamos muito abaixo da média de outros países. No estado de São Paulo, por exemplo, a média de consumo é de 200 kg de aço por habitante/ano. No Nordeste não chega a 50 kg", diz Medeiros. Por outro lado, o vetor da sustentabilidade exige do setor siderúrgico constantes aperfeiçoamentos nos seus padrões de consumo de matérias-primas, energia e de disposição final de rejeitos. A indústria siderúrgica é uma grande consumidora de recursos naturais e geradora de rejeitos indesejáveis, havendo, portanto, grandes oportunidades para inovações capazes de mitigar seus impactos ambientais.

 

 

 

 

A produção de aço gera grande quantidade de gás carbônico, por usar o carvão, tanto como fonte de energia quanto como redutor, no processo químico de obtenção do ferro metálico. Estima-se que, no Brasil, em média, para cada tonelada de aço, sejam produzidas outras 1,6 toneladas de CO2. "É como se o produto principal fosse o gás carbônico, e o aço fosse um sub-produto", ironiza Elyas Medeiros, ressaltando didaticamente a importância do assunto. Não impressiona que a siderurgia responda por 5% das emissões de gases estufa (dados do EPSS), impactando diretamente o clima. Esse aspecto negativo da produção de aço vem em péssimo momento, uma vez que as mudanças climáticas têm sido apontadas como o maior desafio ambiental da atualidade. Em dezembro próximo, acontecerá na Dinamarca a COP-15, a Conferência do Clima, sucessora do Protocolo de Quioto, e que definirá as metas de redução na emissão de gases do efeito estufa. E, mais uma vez, sistemas produtivos como o da siderurgia, estarão entre os indicados a promoverem mudanças urgentes.

 

 

A questão é que o aço está presente em uma infinidade de aplicações, sendo a base de diversas cadeias produtivas e dos mais variados produtos industrializados (passando por construção civil computadores, celulares, equipamentos médicos, eletro-eletrônicos em geral, linha branca, entre outros). Historicamente, o produto está relacionado com os maiores avanços tecnológicos da civilização, sendo responsável por grande parte do conforto humano moderno. Na construção civil, por exemplo, a maior consumidora de aço, o seu papel é fundamental. Embora muito tenha sido feito na área de materiais alternativos, é improvável, no curto e médio prazo, que o aço perca seu papel de destaque.

Tanto pela importância do aço como pilar de um setor industrial consolidado, quanto pelo ritmo acelerado no qual a inovação se dá atualmente, se faz urgente uma discussão capaz de remodelar a formação de recursos humanos para o setor.

 

RECURSOS HUMANOS

O Brasil carece de profissionais metalúrgicos em quantidade e qualidade, mais ainda se o plano é expandir o setor. É necessário garantir o acesso de profissionais ao emprego nos diversos níveis, desde o operacional mais básico até o nível superior e o de pós-graduação e pesquisa. Esse é um requisito básico, para capacitar a siderurgia a enfrentar os desafios colocados pelas questões da sustentabilidade e competitividade.

Gilberto Pereira, gerente de Desenvolvimento da Associação Brasileira de Metalurgia, diz que o diagnóstico da escassez de profissionais na metalurgia vem de um mapa estratégico feito para o setor, e corroborado pelo EPSS. "Há uma carência de oferta de profissionais para o setor que é tanto qualitativa quanto quantitativa". Foi detectado também que existe um problema de oferta não acoplada à demanda, nos principais polos de siderurgia do país: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Não há formação de quadros em volume suficiente ao exigido pelas usinas, que são a principal demandante desses profissionais", diz ele.

"Hoje percebemos que se não houver um trabalho institucional do setor siderúrgico, como setor central, para influir no perfil desejado de profissional, junto às universidades, Senai, Cefets, que são as organizações envolvidas, não conseguiremos mudar esse quadro de carência", afirma Pereira. Dentro do estudo prospectivo está sendo feito também um levantamento das necessidades tecnológicas e de inovação que serão importantes para que o setor mantenha-se competitivo no futuro. E, para isso, será necessário um outro tipo de profissional, cujo perfil ainda não está contemplado no sistema educacional. Discute-se qual deve ser essa formação: "A crise nos impõe uma mudança na velocidade do desenvolvimento. É necessário discutirmos qual será o profissional do futuro, porque são necessários dez anos para formar um pesquisador. Em uma visão de futuro (dentro do horizonte definido no EPSS), se não fizermos essa discussão logo, não teremos esse profissional", diz ele.

Outra pressão que se impõe sobre o setor siderúrgico é a questão da responsabilidade social, e que no estudo prospectivo, orienta, em boa parte, as atitudes e ações em prol da evolução da siderurgia. Trata-se de enxergar a atuação das organizações em seus aspectos econômico, social e ambiental.

O EPSS foi apresentado e discutido pela comunidade mínero-metalúrgica brasileira durante o 64o Congresso da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração, realizado nos dias 13 a 17 de julho, em Belo Horizonte. Segundo Gilberto Pereira, a apresentação do estudo englobou a conclusão da primeira parte, prospectiva e de levantamento dos portadores de futuro, ou seja, os aspectos de conjuntura que irão levar ao futuro do setor, e a discussão do começo da segunda parte, das alternativas tecnológicas e de mercado para vencer os desafios para os próximos quinze anos. Essa discussão comporá uma agenda tecnológica setorial a ser elaborada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), por demanda do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que deverá ficar pronta até o final do ano. Essa agenda definirá três grandes projetos a serem apoiados pelo BNDES, com financiamento já no início do ano de 2010.