SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.6 número1Peculiaridades do ecossistema empreendedor do MITPré-sal: desafios tecnológicos índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Artigo

Indicadores

  • Não possue artigos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Bookmark

Conhecimento & Inovação

versão impressa ISSN 1984-4395

Conhecimento & Inovação v.6 n.1 Campinas  2010

 

Ondas

 

 

Patrícia Mariuzzo

 

 

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO AVANÇA NO BRASIL

Há várias formas de medir o impacto da crise financeira detonada em outubro de 2008 a partir da derrocada do setor imobiliário nos Estados Unidos e que se espalhou por todo o planeta. Um desses indicadores é o tamanho do setor de tecnologia da informação e telecomunicações de um país. Um estudo da Everis, consultoria em tecnologia da informação, aponta o Brasil como país de maior destaque nesse setor na América Latina. A pontuação brasileira chegou a 4,44, apresentando aumento de 0,8%, enquanto o resto da América Latina teve retração de 1,2% de acordo com o relatório "Indicador da Sociedade da Informação (ISI)", realizado pela Everis em parceria com a IESE Business School, na Espanha. O período analisado foi o terceiro trimestre de 2009 (um ano após início da crise).

 

 

Segundo Teodoro López, vice-presidente da Everis Brasil, o indicador teve seu segundo máximo histórico. "Isso prova que o Brasil foi um dos países que menos sentiu os efeitos da crise e continuou progredindo nesse setor, ao contrário do que foi observado nos demais países analisados", diz. Ainda de acordo com ele, o estudo permitiu observar que existe grande desigualdade de acesso à tecnologia entre as regiões do país e isso faz a pontuação cair em relação a outros países. De todo modo o ISI mostra que a sociedade da informação está avançando mais rápido no Brasil do que no conjunto da América Latina. Há cinco anos esse índice era mais de 10% inferior à média regional, agora é apenas 1,1% menor e a previsão é de que, em um ano, essa diferença seja reduzida a zero. Essa é a opinião de Diego Barceló, pesquisador do IESE Business School e co-autor do ISI. "Ainda que falte muito para progredir, creio que vale ressaltar, por exemplo, a expansão da quantidade de computadores - 243 unidades para cada mil pessoas - número superado apenas pelo Chile", conta Barceló. Outro dado informado por ele refere-se à venda do varejo online, estimadas em US$ 41 por brasileiro, diante da média regional de US$ 29.

Uma área que parece estar blindada é a de venda de celulares. Em 2009, segundo o estudo da Everis, o número de telefones móveis chegou a 836 aparelhos para cada mil pessoas, um avanço de 17,3%, o segundo mais elevado depois do Peru. A área mais afetada pela crise foi a dos serviços TIC que, em dólares anuais por habitante, caiu 10,2%. O Brasil também apresentou queda na pontuação na área social como consequência do aumento da taxa de desemprego e também da desaceleração da atividade econômica (o crescimento médio do PIB caiu de 5,6% para 3,5%). Segundo o ESI, relatório complementar ao ISI, que compreende aspectos econômico, institucional, social e infraestrutura, o Brasil é um dos países em que o armazenamento de capital fixo por habitante cresce em ritmo mais lento.

OTIMISMO As projeções para o terceiro trimestre de 2010 são otimistas. Para os pesquisadores espanhóis, o indicador brasileiro deve alcançar uma qualificação média de 4,54 pontos, um aumento anual de 2,3%, configurando o melhor resultado entre os países analisados: Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.

 

PROTEGER PARA CRESCER

O conhecimento do Congresso brasileiro sobre propriedade intelectual é pequeno. Esta foi uma das principais conclusões da pesquisa "O congressista brasileiro e o tema da propriedade intelectual", realizada pelo Ibope e divulgada no final de 2009. A pesquisa foi encomendada pelo movimento Coalizão Brasil Intelectual, que reúne empresas e instituições como o IEL, a Fiesp e ABPI, com o objetivo de promover a mentalidade da inovação e da defesa da propriedade intelectual como fatores de crescimento econômico. Os parlamentares consideram o investimento em propriedade intelectual e em inovações importante para o desenvolvimento do país, mas conhecem pouco o marco legal da área. Somente 15% tem bons conhecimentos sobre a legislação do setor. Além disso, só metade dos parlamentares demonstra muito interesse pelo assunto. A pesquisa, feita no final de 2009, ouviu 100 congressistas e apontou que 44% se interessam pelo tema, o que representa uma queda em relação à edição de 2008, quando 54% dos parlamentares disseram ter interesse.

Mesmo desconhecendo o assunto, 65% dos deputados e senadores acham que há burocratização e leis conflitantes na área. Somam 90% dos entrevistados os parlamentares que dizem que o Congresso debate pouco sobre propriedade intelectual e inovação. Os números também apontam que os congressistas consideram o investimento em infraestrutura (64%) uma janela de oportunidades mais importante para o Brasil do que o investimento em inovação tecnológica (26%) e em pesquisa científica (19%).

PATENTES NA PAUTA Para Solange Mata Machado, da US Chamber, uma das entidades que integram a Coalizão, o primeiro impacto da falta de conhecimento dos congressistas sobre o assunto está nas leis. "As leis são o arcabouço do desenvolvimento econômico e social de um país. Quando os congressistas desconhecem um assunto e aprovam leis sem se aprofundar no tema, o país corre o risco de ficar na contramão da história: leis que não privilegiam a atração de novas tecnologias, novos parceiros, novos investimentos", diz. Um exemplo apontado por ela é que, nessa pesquisa, a maioria dos congressistas relacionava propriedade intelectual somente com empresas multinacionais e com a indústria farmacêutica. "Empresas como a Embrapa, Natura, Petrobras etc não figuravam na lista de empresas detentoras de patentes. Solange relaciona o número baixo de registro de patentes pelo Brasil com a falta de atenção ao tema no Congresso. "Em um estudo recente, publicado na imprensa, o Brasil registrou 27 patentes a cada US$ 1 bilhão investido em P&D, enquanto que, com o mesmo recurso, o Japão gerou 103 patentes e a Coréia 129. É um quadro deficitário para a geração tecnológica, que precisa mudar rapidamente", afirmou Solange. "Enquanto a cultura de inovação e da criação de conhecimento científico não for estimulada entre todos os participantes: academia, governo e iniciativa privada, e não houver uma posição de ganho para todos os integrantes, ainda vamos ter que seguir apresentando resultados pífios ante ao quadro internacional", finalizou.

O próximo passo a ser dado após a divulgação da pesquisa é justamente o aprofundamento da questão junto aos parlamentares. Segundo Solange, a intenção é definir um conjunto de projetos de consenso a ser discutido este ano na Câmara e no Senado.

 

NOVAS ALEXANDRIAS

No início do século III a.C., durante o reinado de Ptolomeu II do Egito, foi organizada aquela que foi considerada uma das maiores referências culturais da Antiguidade: a Biblioteca de Alexandria, cidade que fica ao norte do Egito, situada a oeste do delta do Rio Nilo, às margens do mar Mediterrâneo. Estima-se que a biblioteca tenha armazenado mais de 400.000 rolos de papiro, podendo ter chegado a 1.000.000 e que continha livros que foram levados de Atenas. Ela se tornou um grande centro de comércio e fabricação de papiros. A criação da Biblioteca de Alexandria tinha como o principal objetivo preservar e divulgar a cultura.

2010 encerra a primeira década do século XXI, década que, sem sombra de dúvida, consolidou a internet como tecnologia fundamental, que mudou e continua mudando a relação do homem com o mundo. O casamento entre novas tecnologias e o mundo da cultura tem gerado várias iniciativas que tentam reviver o sonho de Alexandria, de criar e disponibilizar acervos sobre a cultura mundial. Uma das primeiras aconteceu em 2004, quando a empresa Google lançou o Google Book Search, que hoje disponibiliza 7 milhões de obras, maior acervo digital de que se tem conhecimento. O projeto gerou uma verdadeira batalha judicial para a empresa por conta da violação de direitos autorais de autores e editores. Hoje, alguns livros estão disponíveis para download completo. Em alguns casos, o usuário pode ver apenas 20%, mas tem opção de pagar para ver a obra inteira. Sem se intimidar com as reações contrárias a Google promete para este ano o lançamento na Europa de seu serviço Edições Google, que permitirá baixar livros inteiros pelo telefone celular ou em qualquer leitor digital.

Outro projeto que se inspirou em Alexandria é a biblioteca Europeana, capitaneado pela União Europeia. Lançada em 2008, ela já permite acesso a 4,6 milhões de livros, filmes, pinturas, fotografias, arquivos de áudio, manuscritos e jornais de bibliotecas europeias. Um dos principais focos dessa biblioteca virtual são obras raras, antigas ou esgotadas. Entre as obras que podem ser lidas remotamente por qualquer pessoa (é necessário fazer um cadastro) está a Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri ou manuscritos de Beethoven e Mozart.

 

SEM BARREIRAS

Entre as últimas iniciativas de peso está a da Unesco, braço cultural da ONU, que, em abril do ano passado, em parceria com 32 instituições, lançou oficialmente a Biblioteca Digital Mundial (WDL, na sigla em inglês). A biblioteca virtual reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos. O diferencial são explicações em sete idiomas: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português. Segundo o coordenador do projeto, Abdelaziz Abid, tem um caráter patrimonial, o que significa que a biblioteca não oferecerá documentos correntes, como faz a Google, mas aqueles com valor de patrimônio, que permitirão conhecer as culturas do mundo. Por isso, além dos sete idiomas, há documentos em mais de 50 outras línguas, desde alguns códices pré-colombianos, contribuição mexicana, a um documento japonês publicado no ano 764, o Hyakumanto darani, considerado o primeiro texto impresso da história. Uma das regiões bem representadas é a América Latina, graças a parceria com a Biblioteca Nacional, no Brasil, que tem vários outros projetos de digitalização de acervo em andamento. Angela Monteiro Bettencourt, coordenadora de informação bibliográfica da Fundação Biblioteca Nacional, vê o sonho da Biblioteca de Alexandria cada vez mais próximo de ser realizado com essas iniciativas. "Fora o Google, que tem um interesse comercial, todos os outros projetos refletem missões institucionais de bibliotecas nacionais no sentido da disseminação e do acesso aos documentos e à informação", diz.

 

 

BANDA LARGA NO BRASIL

Qual seria o impacto econômico e social de termos, em nosso país, acesso universal à internet com alta velocidade e com qualidade? Esta é a pergunta que um grupo de pesquisadores do Ipea tenta responder no artigo "Banda larga no Brasil - por que ainda não decolamos?", publicado no boletim Radar, disponível no site do Instituto. Para Rodrigo Abdala Filgueiras de Sousa, João Maria de Oliveira, Luis Claudio Kubota e Márcio Wohlers de Almeida, mais do que investimentos em infraestrutura, é preciso considerar por exemplo, uma política de desenvolvimento que permita a inserção de nossa indústria na produção de equipamentos e materiais a serem utilizados na chamada última milha, que leva a internet do núcleo da rede até as casas das pessoas. Além disso, um plano de expansão de banda larga deve prever desde a capacitação de pequenos provedores de serviços diversos até políticas de crédito específicas, que possibilitem a geração de emprego e renda com esses novos empreendimentos.

Em todo o mundo tem havido investimentos para aumentar o acesso à banda larga. O Brasil tem 10,1 milhões de acessos fixos de banda larga - uma densidade de 5,8 acessos por 100 habitantes. Estes números atestam a distância que estamos em relação aos demais países da OCDE, onde a densidade de acessos é de 22,4 por 100 habitantes. Outro aspecto desfavorável aqui é o preço: as pessoas que têm internet banda larga pagam em torno de R$ 162, enquanto os internautas dos 32 países da OCDE pagam US$ 22,25, em geral, para um sinal mais rápido do que o oferecido pelas operadoras brasileiras.

"O mercado de serviços de acesso fixo de banda larga, notadamente dependente da estrutura de telefonia fixa, distingue-se por uma estrutura oligopolista formada por duas ou três prestadoras de serviços nas capitais e em grandes municípios", dizem os pesquisadores. "Nos demais municípios o serviço se caracteriza por um regime de monopólio operado pela concessionária do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC)", completam. É desse modelo que resultam as limitações ao crescimento de oferta de banda larga: preço, qualidade, cobertura e taxa de transmissão (velocidade).

INFRAESTRUTURA EXISTE, MAS PRECISA DE APERFEIÇOAMENTO De acordo com o artigo do Ipea, as prestadoras possuem, em conjunto, mais de 90 mil quilômetros de fibra óptica instalada no país, formando o chamado backbone (núcleo central de transmissão do sinal para acessar a rede) - com capacidade suficiente para todo o tráfego de dados para a internet. "Acreditamos que apenas usando a infraestrutura existente seria possível promover uma cobertura muito mais ampla para o serviço de banda larga", afirma o grupo de pesquisadores. Segundo eles o que falta é modernizar essa infraestrutura para aumentar a velocidade do tráfego de dados. Agora, se por um lado há infraestrutura instalada e, por outro, há demanda reprimida, por que então a densidade de serviço é tão baixa? "Para se chegar ao nível desejado de densidade, haveria uma compressão das receitas do serviço: o faturamento das empresas se reduzirá a 80% do atual", dizem. Além disso, seria necessário fazer investimentos para a conversão da rede de telefonia fixa para banda larga e também arcar com os custos de manutenção dessa rede. O texto do artigo é categórico: à medida que a densidade do serviço de banda larga avança, aumenta a erosão das receitas dos serviços de telefonia fixa e móvel. "As simulações indicam portanto que, sem ações externas, o mercado de banda larga não chegará ao patamar de densidade socialmente desejado", concluem.