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Conhecimento & Inovação

versão impressa ISSN 1984-4395

Conhecimento & Inovação v.6 n.1 Campinas  2010

 

RECURSOS PARA INOVAÇÃO

 

Programa de subvenção econômica da Finep começa a dar resultados

 

Investimentos de mais de R$ 1 bilhão já beneficiaram 825 projetos

 

 

Mariana Garcia

 

 

Já é possível perceber frutos do programa de subvenção econômica para a inovação, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o mais abrangente programa de incentivo à inovação dentro das empresas em âmbito federal. Iniciado em 2006, o programa já aprovou um total de 825 projetos, incluindo os contemplados em 2009, com investimentos de cerca de R$ 1,1 bilhão. Como o prazo para o desenvolvimento das propostas é de até 36 meses, dependendo do projeto, podemos agora conferir os resultados das três primeiras edições.

INTERNET PARA ÁREAS RURAIS Uma das experiências contempladas pela subvenção econômica da Finep que já apresenta resultados é a pesquisa para acesso à internet em banda larga e a baixo custo em áreas rurais, proposta pela Neger Tecnologia e Sistemas Ltda, de Campinas. O projeto, chamado RuralMAX, teve início em 2008 e terá produto final lançado ainda este ano. Como a demanda de soluções para acesso à internet em áreas rurais só tem crescido - com as necessidades atuais de aplicações, como notas fiscais e guias eletrônicas e os já básicos serviços bancários, de e-mail, previsão do tempo etc - versões intermediárias e alguns componentes individuais do projeto da Neger já foram assimilados pelo mercado, chegando a representar, sozinhos, um aumento de 20% no faturamento da empresa nesse segmento. Em 2008, a empresa teve um faturamento próximo a R$ 3 milhões, segundo Antonio Eduardo Ripari Neger.

 

 

A subvenção da Finep teve impacto direto no desenvolvimento de um núcleo de excelência em engenharia e P&D dentro da empresa, que cresceu e conta hoje com mais de 14 engenheiros e técnicos em regime de dedicação integral para atividades de pesquisa e inovação. De acordo com Neger, a maior dificuldade enfrentada pelo projeto foi a contratação e retenção de pessoal capacitado. "A escassez de engenheiros qualificados no setor fez com que a Neger tivesse que disputar profissionais no mercado, muitas vezes contrapondo-se a grandes grupos empresariais nacionais e multinacionais", diz.

Para Solange Corder, professora associada do Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências, da Unicamp, atender requisitos do edital na mobilização de recursos humanos adequados seria um dos maiores desafios na elaboração de bons projetos para o programa, ao lado da dificuldade de encontrar financiamento para a contrapartida obrigatória - obstáculo mais relevante para empresas de menor porte. A Neger, que capacitou recursos humanos, gerou empregos e expandiu sua infraestrutura, hoje é responsável por mais duas pesquisas junto à Finep.

 

 

OUTROS PROJETOS: RESULTADOS E DESAFIOS Outra empresa que já colhe resultados é a OrbiSat da Amazônia S.A., de Manaus, que teve dois projetos aprovados em 2006: o aperfeiçoamento de um radar para levantamento topográfico e um conversor para TV digital. "Com o programa, chegamos a uma precisão do radar com um custo muito favorável", afirma confiante o diretor da empresa, João Moreira Neto. E não é para menos: com esse radar, a Orbisat fechou um contrato de R$ 45 milhões com o governo federal, em que cobrirá 1,5 milhões de Km2, quase um terço da Amazônia, durante cinco anos. As pesquisas para a fabricação do receptor para sinal de TV digital foram concluídas e serão lançadas no mercado este ano.

A Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos S.A., outra contemplada, dedicou-se à pesquisa de novas entidades químicas para portadores de HIV, e já patenteou uma nova molécula que daria uma resposta farmacológica superior à existente no mercado, segundo Roberto Debom, diretor do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da empresa. Já a Ivia, especializada em tecnologia da informação e sediada em Fortaleza, foi beneficiada em 2006 com dois projetos que se encontram em fase de introdução no mercado: um simulador de crimes e cenários, para auxílio à polícia, e um painel de indicadores para ações governamentais. Quem também começa a sentir resultados é o Grupo Brapenta, de São Paulo. Com o projeto de criar inovações em sistema de inspeção por raios-x para detectar metais e pesar alimentos com precisão, o diretor da empresa, Martín Izarra, prevê resultados significativos internacionalmente. "Mesmo no pior da crise econômica, a empresa acelerou o investimento em tecnologia graças a esse fluxo de recursos", diz ele.

As dificuldades para elaboração e execução dos projetos apontadas pelas empresas foram: burocracia no mecanismo de seleção; grande trabalho na discriminação dos dispêndios; seletividade de temas, nos quais muitos projetos não são elegíveis, e investimento superior ao planejado. Para Solange Corder, da Unicamp, talvez a maior dificuldade seja mesmo elaborar um bom projeto. Em 2008, o número de aprovados foi muito reduzido (só 8% em relação ao solicitado), o que significa que a Finep não conseguiu gastar tudo o que disponibilizou. "A quantidade parece ser mais do que suficiente se considerada a qualidade da demanda atual". A pesquisadora, entretanto, diz que é muito difícil fazer afirmações, pois ainda não estão disponíveis os resultados dos estudos de avaliação.